"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



terça-feira, 10 de julho de 2018

INFORMAL COM AFONSO DHLAKAMA!

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N’zope por Eduardo Constantino
Deviamos estar no ano de 1997. Foi muito tempo depois das primeiras eleições gerais e multipartidárias de 1994. 
Era meu hábito, depois das horas normais de trabalho, e caso não calhace ser editor do Rádio Revista, o jornal sonoro da Rádio Moçambique em Nampula, deslocar-me ao centro social da Pescom. 
Alí em frente da residência do presidente do conselho executivo, naquela época, e conselho municipal, hoje. Era o local onde o pessoal se encontrava para beber uns copos e pôr a conversa em dia. Eu e colegas de profissão. Era o local onde se podia encontrar tudo e a preço competitivo. E era um espaço público. 
Num desses dias quando já lá estavamos, deu entrada, no local, o falecido líder da Renamo, Afonso Dhlakama, e o seu pessoal. Entraram e foram se sentar numa mesa não próxima da nossa. Mas também não muito distante. 
Claro que ficamos assustados com a presença dele. Eramos jornalistas que estavámos naquele local. Jornalistas do sector público, pois, naquela altura ainda não havia órgãos de informação privados. Pelo menos em Nampula. E naquela época, apesar de estarmos já a viver o calar das armas e termos saído das primeiras eleições, falar da Renamo e de Afonso Dhlakama, não era nada salutar. 
Dhlakama metia medo. Aliás, importa referir que durante os 16 anos de guerra, eramos nós que escreviamos e publicávamos as mágoas da mesma. Por isso, em face da sua presença, decidimos que devíamos abandonar o local. 
Mas antes de o fazermos, alguém se levanta da mesa dele e se dirige à nossa. Dirigiu-se a mim e disse “S.Excia quer falar contigo, sr. Constantino”. Quase que me borrei. Perdí o fólego. Perguntei se era mesmo eu com quem queria falar, ao que me respondeu, sim, contigo! Levantei-me e me dirigí àquela mesa, mas com medo. Chegados alí, Afonso Dhlakama me cumprimentou afávelmente e me convidou a sentar, pois, queria falar comigo.
Mal me sentei perguntou o que eu queria tomar e me disse para não me preocupar, pois, sabia quem eu era e não me chamou por engano. Trémulo, me sentei e aceitei uma bebida. Depois da empregada do balcão me ter servido o que pedí, foi directo ao assunto.

Me disse que sabia que eu era o Secretário Regional Norte do Sindicato Nacional de Jornalistas e queria um encontro com os jornalistas de Nampula. Disse que queria um encontro informal para esclarecer dúvidas sobre a sua pessoa e conviver com o pessoal. Acrescentou que apreciava, e muito, o nosso trabalho. Afirmou que ele, Afonso Dhlakama, não era mau e tudo que se dizia a seu respeito, era invenção da Frelimo para o dinegrir. 
Foram dez minutos de conversa em que ficou assente que, eu, deveria “convocar”os jornalistas para um jantar informal com ele. Ficou ainda decidido que o então delegado político da Renamo da cidade, cujo nome já não me recordo, deveria coordenar comigo para a escolha do local e da data, pois, no dia seguinte ele deixava a cidade de Nampula e, no seu regresso, o encontro deveria se realizar. 
Fiquei com cagufas, confesso! Mas o encontro se realizou, vinte dias depois, e foi na piscina do Clube Ferroviário de Nampula. 
Para este informal “mobilizei” perto de quinze jornalistas que estivemos com ele, mais de três horas. Neste jantar, o líder da Renamo falou do que lhe vinha na alma e manifestou o desejo de ter uma colaboração amistosa com os jornalistas de Nampula. 
E a partir deste informal, houve jornalistas que se filiaram à Renamo e, outros, até abandonaram os seus locais de trabalho, para fazerem trabalho para a revista daquela formação política. 
Esta foi a segunda vez que com ele me sentei e, depois deste jantar, nunca mais o tive por perto até no dia 11 de Abril de 2008, na Cidade de Maputo, quando da realização dos 30 anos de criação da Organização Nacional de Jornalistas, hoje Sindicato Nacional de Jornalistas. 
WAMPHULA FAX – 10.07.2018

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