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Escrito por Adérito Caldeira em 19 Abril 2016 |
![]() Embora o Executivo de Nyusi tenha vindo a público revelar que assumiu como dívida soberana de todos os moçambicanos a totalidade da dívida comercial contraída pela Empresa Moçambicana de Atum, após renegociar com os investidores os prazos de pagamento, não esclareceu o detalhe que está a pagar até 2023 apenas os juros, 76 milhões de dólares norte-americanos por ano, e que espera liquidar a dívida com os dividendos que resultarem das explorações de gás natural na bacia do Rovuma, numa altura em que estará a entrar para os anos finais de um eventual segundo mandato presidencial, portanto o problema não será seu mas continuará a ser do povo moçambicano. A "Moody's encara este default como um sinal de pouca vontade por parte do Governo para honrar futuras obrigações com a dívida, e isto suplanta o impacto positivo que a troca de dívida tem na liquidez externa por via da melhoria, a média termo, do perfil de amortização de dívida externa pelo Governo", acrescenta o comunicado da agência de rating. Entretanto uma outra das três maiores agências de notação financeira, a Standard & Poor's, já havia rebaixado também rating do nosso país no início deste mês para a sua categoria de standard default(SD). “A classificação SD significa que Moçambique passou a “default seletivo”; ou seja a S&P está convencida que Moçambique não conseguirá pagar toda, ou grande parte da sua dívida. Claramente, é uma situação de falência. Se o Estado fosse uma empresa, talvez não tivesse outra alternativa senão declarar falência. Pelo que podemos ver do comportamento da empresa EMATUM, ela comporta-se como se tivesse nascido falida” explicou em entrevista ao @Verdade o professor de economia António Francisco que clarificou, “O facto de Moçambique estar no limite de maior risco, não significa que seja mau para todos. Porque é o nível de maior risco, também permite maior rendibilidade. Portanto, algumas empresas podem render muito, razão pela qual os credores tudo farão para que não percam tudo o que emprestaram”.
Banco de Moçambique adia reunião e dólar volta a subir
![]() O @Verdade apurou que o Comité de Política Monetária deverá reunir esta semana e espera-se que pela primeira vez pronuncie-se relativamente ao empréstimo da EMATUM e da Proindicus, em vez de continuar a insistir na conjuntura internacional, nas calamidades naturais e na guerra como causas da crise económica. E como os discursos e apelos não mudam a realidade de país importador que Moçambique é, as divisas continuam a escassear e por isso estão mais caras. O dólar norte-americano que no início de Março rodava os 49 meticais, nos bancos comerciais, e 55 meticais no mercado paralelo fechou a semana passada a ser vendido a 51,5 meticais, nas instituições bancárias, e 60 meticais no informal. Nesta segunda-feira a moeda norte-americana foi transaccionada a 61,4 meticais nos mercados informais o que se reflecte na inflação na maioria dos produtos, incluindo nos alimentos.
“Será que o Governo sabe que está doido?”
O economista António Francisco considerou em entrevista ao @Verdade que devido “a tentativa do Governo de negar, disfarçar ou mesmo encobrir a gravidade do problema, fica muito difícil dizer o que poderá ser feito. Mas há um passo crucial que é possível sugerir”."O famoso poeta português, Fernando Pessoa, escreveu algures: «O princípio da cura está na consciência da doença, o da verdade no conhecimento do erro. Quando um doido sabe que está doido, já não está doido». Será que o Governo sabe que está doido? Duvido. Quando mostrar que tem consciência da sua doença, então poderemos começar a procurar diferentes soluções. Doutro modo, enquanto o Governo não reconhecer com frontalidade e honestidade o erro associado à EMATUM duvido que seja capaz de apontar soluções positivas e realistas para esta doença", afirmou o economista. ![]() O @Verdade contactou a Chefe da Bancada Parlamentar do partido Renamo, Maria Ivone Soares, para saber porque razão o maior partido de oposição ainda não usou o seu mais de um terço de deputados para pedir a intervenção do Conselho Constitucional sendo evidente que o Governo de Armando Guebuza violou a Constituição da República (artigo 179 alínea p) quando avalizou os empréstimos da EMATUM e da Proindicus. “Hoje, na reunião da Comissão Permanente da AR, voltamos a fazer uma nova tentativa de agendamento da vinda do governo ao parlamento com carácter de urgência para antes de irem dar explicações ao FMI nos EUA, explicarem aos moçambicanos o que se está a passar e qual é a real dívida de Moçambique. A Bancada da Frelimo voltou a dizer que não está preparada para falar disso porque precisa de tempo para reflectir” reagiu Maria Ivone Soares. “A nível do Parlamento esgotamos as saídas para que o governo da Frelimo urgentemente venha se explicar, portanto a novas frentes teremos que recorrer para que a dívida seja explicada e que sejam responsabilizados os seus mentores e eventuais beneficiários”, concluiu a Chefe da Bancada Parlamentar do partido Renamo. Durante os 15 meses da governação de Filipe Nyusi o Presidente de Moçambique sequer pronunciou publicamente as palavras EMATUM e Proindicus. A ver se o FMI consegue que o Executivo quebre o silêncio e explique, não só às instituições de Bretton Woods, mas também aos moçambicanos para que fins foi usado o dinheiro (oficialmente só está claro que dos 850 milhões de dólares norte-americanos da EMATUM 350 milhões foram para a compra dos barcos de pesca e embarcações de guerra), e através de que canais financeiros pois é certo que na Conta Única do Tesouro de Moçambique não entraram. |
"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"
terça-feira, 19 de abril de 2016
Antes de informar ao povo, Governo de Nyusi vai primeiro dar explicações ao FMI sobre as dívidas ilegalmente avalizadas pelo Estado
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