"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



sábado, 23 de janeiro de 2021

 

"Não é incongruente quando o filho do Presidente posta suas fotos nas redes sociais em que está em jantares luxuosos com estrelas mundiais do entretenimento? "

EUREKA por Laurindos Macuácua

Cartas ao Presidente da República (45)

Sabe, Presidente: eu sempre tive um sonho de ser livre. De viver num País onde as eleições eleitorais não signifiquem vitória de um partido, mas a celebração da liberdade.

Não faz tanto tempo assim que eu dizia a todos os que me conhecem que era capaz de pagar qualquer preço, suportar qualquer fardo, enfrentar qualquer dificuldade, confrontar qualquer adversário para garantir a perpetuação e o êxito da liberdade.

Todavia, não sei se hoje ainda sou o mesmo sonhador. Ou melhor: não sei se neste meu País a palavra liberdade é conhecida ou se tem algum significado. Aqui parte-se a perna e, no pior dos casos, mata-se só porque alguém pensar diferente.

As falanges do ódio, no entanto, estão activas. Aqueles que não rezam segundo a cartilha consagrada do camaradas estão condenados ao fracasso, à pobreza, a chafurdar na lama. Não há espaço para eles, apesar de o Presidente sempre dizer, talvez para alimentar o seu ego, que as boas ideias não têm cor partidária.

Os camaradas acatam o princípio da pluralidade, desde que as diferenças caracterizem variações em torno da mesma opinião!

Hoje, Presidente, quero falar de um assunto que há muito me intriga. Não gostava que isto estimulasse alguns falangistas a me agredir. Acho que se é público o que vou dizer, não cometo nenhuma ignomínia ou torpeza em comentar.

 Trata-se da conduta dúbia do filho do Presidente, o Florindo! É que não acho pacífico que num país onde a maioria vive na pobreza absoluta, o Florindo ostente riqueza nas suas páginas sociais.

Há incongruência entre aquilo que o pai do Florindo diz e o que o Florindo é ou faz. Até dá a ideia de que aqui campea o esbulho da coisa pública. Fortunas continuam a ser drenados à sorrelfa.

Aquelas mortes, na sequência da explosão de um camiãocisterna durante o roubo de combustível, não sucederam no Zimbabwe. Foi em Caphiridzange, província de Tete. As 75 mortes por intoxicação alcoólica, não sucederam em Angola. Foi em Chitima. Foi ali na lixeira de Hulene que morreram os nossos irmãos moçambicanos forçados a coabitar com o lixo por falta de alternativas melhores-chama-se isto de pobreza.

É aqui na cidade de Maputo que circula o “My Love” para a nossa vergonha colectiva. É aqui que se morre por falta de paracetamol nos hospitais. É aqui que a Covid-19 galopa a seu bel-prazer. Tudo isto chama-se pobreza, uma coisa abjecta.

Como é que o Florindo exibe Rolls Royce num País como este? Ou melhor: onde é que conduz esses carros? Aqui as estradas estão esburacadas, exactamente porque o pai do Florindo não consegue fazer melhor e escuda-se na pobreza do País.

Não é incongruente quando o filho do Presidente posta suas fotos nas redes sociais em que está em jantares luxuosos com estrelas mundiais do entretenimento? Por que não janta com Mr. Bow, Mabermuda, Lorena Nhate e outros e posta?

Por que os jornais não podem ter como manchete os grandes feitos do Florindo? Florindo não sabe pegar nesse tanto dinheiro que tem-sabe-se lá onde é que trabalha?!- e apoiar pessoas carenciadas. Existem aos magotes neste vasto Moçambique.

Não é preciso lupa para as identificar. É que ao fim do dia, tudo isto dá a entender que a família número um do País, cuja conduta devia ser exemplar, rompeu os limites da civilidade e do bom-senso. Parece que o filho do Presidente está votado à irrelevância por isso que procura, desesperadamente, jactar-se da sua sua saga bisonha!

DN – 22.01.2021

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