"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

 

HISTÓRIA: DRAMAS ENTRE MILITARES PORTUGUESES E SOLDADOS TANZANIANOS E ZAMBIANOS (fontes: soldados portugueses, da Frelimo, tanzanianos e zambianos)

Por Francisco Nota Moisés

Com uma extensão de mais de 700 km entre a Tanzânia e Moçambique, o Rovuma é uma bênção e ao mesmo tempo uma maldição para quem queira controlar rebeldes dum ou doutro lado como os portugueses podiam ver e a Frelimo e os tanzanianos podem agora testemunhar.  Os portugueses que tinham aquartelamentos e bases ao longo do Rovuma até ao fim do seu regime em Moçambique não foram capazes de impedir que bandos terroristas da Frelimo atravessassem o rio entre os dois países e a Frelimo e os próprios tanzanianos  com menos meios agora do que os portugueses no passado são incapazes de controlar o movimento entre os dois países.

Mas piadas não faltavam entre soldados portugueses e a tropa de Tanzânia.  Os portugueses podiam atravessar e invadir a Tanzânia, se o governo em Lisboa lhes tivesse permitido fazê-lo. Os tanzanianos nem podiam sonhar atravessar para atacar os  portugueses em Moçambique. Na verdade passavam os dias e noites muito mal e a estremecerem.  Muitas vezes havia trocas de tiros através do rio com os tanzanianos a gritar em Swahili: "Kumama zenu, nyinyi wareno*" (filhos da puta)" e  a tropa portuguesa, incluindo soldados pretos que com o espírito de assimilados já não se consideravam como negros, gritando, "filhos da puta, pretos ordinários tanzanianos."

No ar aviões portugueses vadiavam o espaço aéreo tanzaniano como quisessem, sobrevoando ou passando ao lado das bases tanzanianas para dentro de Tanzânia e de regresso para as suas bases em Moçambique voando tais bases a raza-mota, em cima de árvores, assustando e incapacitando os tanzanianos e tornando-os incapazes de abrirem fogo das suas armas antiaéreas. Vezes sem conta pilotos portugueses iam esvaziar na Tanzânia bombas que não usavam contra os homens da Frelimo em Moçambique, às vezes atingindo e aterrorizando civis tanzanianos e obrigando-os a estarem ou a viver em abrigos ou covas. 

Os tanzanianos eram ditos pelas suas autoridades para desconfiarem de qualquer avião que vissem no ar.  Recebemos este mesmo conselho quando eu e outros jovens chegamos ao campo de refugiados em Rutamba depois da nossa grande luta contra a liderança de Eduardo Mondlane e dos seus sequazes na Frelimo.

Na fronteira com a Zâmbia que não tem um rio como fronteira como entre Moçambique e a  Tanzânia, os soldados portugueses invadiam aquele pais como quisessem, obrigando os zambianos a fugir em debandada e alguns deles a chorar ou a gritar na sua lingua nyanja "mapwitikizi opussa yeti (para dizer os portugueses são mesmo estúpidos".)

Unidades portuguesas entravam e estabeleciam-se na Zâmbia com certos dos seus homens a jogar futebol no capim entre arbustos para se divertirem até o tempo quando decidiam regressar para Moçambique com vacas e cabritos dos zambianos para castigá-los pelo seu apoio aos terroristas da Frelimo. Mas não era verdade que os aldeões zambianos apoiavam os terroristas da Frelimo.  Era o governo de Kenneth Kaunda que permitia que terroristas vindos da Tanzânia atravessassem a Zâmbia para Moçambique sem consulta prévia com os aldeões nem o seu consentimento prévio.

Face ao fogo intenso dos portugueses, às vezes os guerrilheiros da Frelimo fugiam para a Zâmbia e metiam-se nos aquartelamentos dos zambianos que logo lhes davam uniformes visto que sabiam que soldados portugueses entrariam na Zâmbia para avisarem os soldados zambianos para não prestarem apoio aos terroristas ou para dizer que eles sabiam que  os terroristas se refugiavam nas suas bases. Os zambianos negam conhecimento de combatentes da Frelimo que se refugiavam entre eles. Quando oficias portugueses e os zambianos trocavam gritos, as vezes aqueles fugitivos da Frelimo agora em uniformes zambianos ouviam e viam soldados portugueses a dizer aos seus oficiais que ameaçavam os zambianos que tais palavras como "o sô alferes," ou "sô tenente, os terroristas e os zambianos são todos pretos. Devemos arrasá-los todos." 

Às vezes os que encorajavam a acção contra os terroristas e os zambianos, visto que eram todos pretos, eram soldados portugueses pretos.

*Wareno é a palavra do Swahili para dizer portugueses, singular Mreno e Ureno é a palavra para dizer Portugal. Nos contactos entre os swahilis e os descobridores portugueses, estes diziam que vinham do REINO de Portugal. Os nativos agarraram a palavra o Reino pensando que era o nome do país donde os descobridores vinham e na sua rendição a palavra passou a ser URENO. Swahili é uma língua basicamente bantu com fortes influências do Árabe e com mais palavras do português do que do inglês ou do alemão por causas das influencias inglesa no Quénia e alemã no Tanganhica.

NOTA: Na verdade, em 1974, mais de 50% do exército português era constituido por naturais de Moçambique. caminhando-se para uma "guerra civil" a passos largos.

Fernando Gil

MACUA DE mOÇAMBIQUE

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