Bispo Luiz é bom pastor
Por Edwin Hounnou
O Bispo de Pemba - Dom Luiz Fernando Lisboa - é a nossa figura do Ano de 2020, pela sua postura intransigente e corajosa na defesa dos que mais precisam de apoio, amparo e de solidariedade – os deslocados de guerra terrorista, ora em curso na província Cabo Delgado desde Outubro de 2017.
O pouco que a comunidade internacional sabe sobre a vida difícil que os deslocados suportam, as atrocidades desta guerra, é através da voz de Luiz Fernando Lisboa que é o principal denunciante dos massacres, chacinas e do imenso sofrimento de que o povo de Cabo Delgado tem sido vítima.
Não tivemos dúvida de que Dom Luiz Fernando Lisboa, o Profeta de Pemba, como é conhecido, é a nossa figura deste Ano prestes a terminar, pela sua entrega ao povo de Cabo Delgado.
Uma guerra terrorista que matou mais de 1100 pessoas e provocou 600 mil deslocados, movida por ambiciosos pelo dinheiro fácil, encontra no Bispo de Pemba o seu opositor e um inquebrantável amigo dos pobres - os principais alvos desta guerra. Foi o bispo Luiz Fernando Lisboa que deu a conhecer ao mundo o sofrimento das populações de Cabo Delgado num momento em que o governo se mostrava indiferente, preferindo perseguir e caçar os jornalistas que reportassem os horrores da guerra.
Quando “milicianos" do regime se atiraram contra Luiz Fernando Lisboa, acusando-o de espalhar inverdades sobre a real situação de guerra, em Cabo Delgado, não duvidámos de que se tratava de uma campanha para esconder a perigosidade em que a guerra terrorista estava embrulhada. Saímos em defesa da verdade que assistia ao Bispo de Pemba que na sua intuição inicial – “até parece que Cabo Delgado não é Moçambique”, disse então - dava a conhecer ao mundo a situação dos deslocados das suas terras, as destruições de infraestruturas - incluindo igrejas, mesquitas e casas de habitação - os assassinatos de crianças, mulheres, homens, de velhas e velhos. Lembramo-nos de 50 jovens assassinados num campo de futebol por se recusarem integrar o grupo terrorista.
É essa gente que o Bispo defende e chamado de racista que “salta estruturas” por falar com o Papa sem antes falar com o “representante" da Igreja Católica local, o que demonstra ignorância. A Igreja Católica não funciona como outras instituições que conhecemos. Um bispo não se subordina a outro bispo nem ao arcebispo nem ao cardeal. É autónomo na sua diocese e reporta ao Papa, embora possa coordenar-se com outros bispos. Por isso existem as conferências episcopais de referência nacional como a Conferência Episcopal de Moçambique. Um bispo não é como um director provincial que não pode chegar ao presidente da república sem passar pelo crivo do governador.
Luiz Fernando Lisboa fala de uma guerra atroz e sem paralelo na história do nosso país, cujas causas continuam no segredo dos deuses a ser um enigma. Era tudo verdade e continua sendo verdade. Podem matar o mensageiro mas a mensagem continua inalterável. Agora dizem que o Bispo é racista. É uma derradeira tentativa de denegrir o mensageiro. Esperamos que o clero diocesano de Pemba se pronuncie confirmando se o Bispo de Pemba tem, ou não, atitudes racistas. Caso isso não se confirme, deve ser um caso de polícia, levando à barra da justiça os que tentam manchar a sua imagem.
Tentar desmentir o Bispo sobre a guerra equivale a tapar o Sol com mãos. Agora, sabemos alguma coisa da guerra de Cabo Delgado que está sendo mais terrível que a guerra civil dos 16 anos. Mata tudo quanto seja ser humano, não se importando com a idade, sexo ou crença religiosa das suas vítimas, desmentindo os assassinos que se proclamam como querendo instalar um estado de sharia – lei islâmica - a que os cidadãos e o Estado se devem submeter. Se isso fosse verdade, a guerra religiosa teria começado de Nampula, onde a comunidade muçulmana é a maioria e não em Cabo Delgado. Analistas nacionais e internacionais falam em haver raízes internas e externas.
O governo, desde 2017, falava apenas em fenómeno de insurgência e não de terrorismo. Garantia-nos que a situação estava sob controle das FADM o que, como vemos hoje, não era verdade. Quem financia esta guerra? Eis o enigma. Mas, num discurso pronunciado na Beira, o PR declarou taxativamente: “os financiadores estão aqui”. Não sabemos se este “aqui” se referia à Beira ou a Moçambique no seu todo. Entretanto os ministros da área da defesa e da segurança, ficaram mudos. Porquê se calaram?
A voz de Luiz Fernando Lisboa lembra-nos a de outras grandes vozes da Igreja Católica que, em momentos difíceis, defenderam o povo moçambicano. Temos em mente a inconfundível coragem do primeiro bispo da Beira, Sebastião de Resende, que não se deixou intimidar pelo sistema colonial e denunciava os maus tratos a que o povo era sujeito. Recordamo-nos de Manuel V. Pinto e Jaime P. Gonçalves, arcebispos eméritos de Nampula e da Beira, respectivamente. As novas gerações do pós-independência tiveram a oportunidade de ver e ouvir homens que ajudaram a construir a nossa nação.
Ainda nos lembramos dos insultos e outras adjectivações torpes com que foram tratados por gente da área do poder ou de indivíduos pelo poder alimentados. Os insultos contra quem se coloca do lado do povo, sem tirar nenhum proveito pessoal já não nos aquecem nem arrefecem. Quem se senta na cadeira do poder perde, muitas vezes, a sabedoria e acha que todo aquele cuja voz não pertença ao seu grupo e seja um incómodo deve ser caluniado, humilhado e eliminado na primeira ocasião.
Hoje, é demasiado descarado para um grupo mover uma guerra religiosa. Já não há guerras religiosas nem há cruzadas, como no passado, que invadem países para obrigá-los a professar uma crença religiosa. Esta é uma guerra de puro terrorismo, sem epítetos nem moral. Em Cabo Delgado há, isso sim, guerra por dinheiro fácil, querendo espaço para o livre trânsito do narcotráfico, movida pelos donos (estarão só estrangeiros a actuar nesta empreitada ou existem personalidades nacionais por dentro?) da droga e a religião islâmica aparece como uma capa para enganar os distraídos.
A quem interessa esta guerra? A aparente “moleza" que, inúmeras vezes, têm demonstrado as Forças de Ddefesa e Segurança, FDS, parece terem sido instruídas para fingirem que são fracas. Em desporto, há muito disso. Um guarda-redes deixa o adversário meter a bola, quando se trata de um “combino". Esperamos que não seja o caso porque a defesa da pátria é um assunto sério. É impensável que um pedaço do nosso território – distrito, uma cidade ou uma povoação – seja ocupado por terroristas.
As FDS têm uma longa tradição de guerra, desde a luta de libertação à guerra dos 16 anos, passando por conflitos intermitentes com a Renamo. Não conseguimos vislumbrar o que se passa, que deixam os terroristas passear a sua classe, assassinando pessoas, destruindo infraestruturas e ocupando territórios. Estará alguém a comer com o inimigo? É isso que não entendemos. Falamos com conhecimento de causa sobre esta matéria de defesa da pátria. Temos experiência de duras confrontações militares entre as tropas governamentais com forças rodesianas, bem equipadas e instruídas.
Conhecemos como um soldado bem treinado, equipado e moralizado actua no teatro das operações. Naqueles tempos difíceis, o soldado era ensinado a interiorizar que recuar, no campo de batalha, sem o devido comando, era considerado um crime de guerra. Mas, agora, parece que os paradigmas mudaram: cada um “escapa" como puder. Assim, não se constrói um exército para defender um país, uma nação e um povo.
Por estas razões, escolhemos o Bispo de Pemba, Dom Luiz Fernando Lisboa, para a nossa figura do Ano – homem corajoso, bom pastor, dedicado e grande amigo do seu povo.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 13.01.2021
Sem comentários:
Enviar um comentário