8/07/2020
“O policiamento comunitário é o primeiro estágio para a edificação da mentalidade de vigilância que precisa ser instalado ao nível das zonas de conflito para eliminar as ameaças”, refere-se no relatório.”
“Por outro lado, os pesquisadores entendem que é fundamental o apoio da população no combate contra os insurgentes em Cabo Delgado.
“O policiamento comunitário é o primeiro estágio para a edificação da mentalidade de vigilância que precisa ser instalado ao nível das zonas de conflito para eliminar as ameaças”, refere-se no relatório.”
In Relatório do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais da Universidade Joaquim Chissano
Também o PR e outros responsáveis reclamam a colaboração das populações.
Chamem-lhe “policiamento comunitário” ou milícias, o que está em causa é a “autodefesa”.
Nesta altura a concentração de pessoas em Cabo Delgado está desfeita. Já não há aldeias (ou aldeamentos) e o que resta deles, na sua maioria, são casas incendiadas. E a população também lá não está. Por isso o “policiamento comunitário” será feito por quem?
Portugal, logo nos primeiros ataques da Frelimo, confiando nas populações aldeadas, formou e instruiu as então designadas “milícias”, oriundas da própria população, a quem distribuiu em Cabo Delgado cerca de 20000(vinte mil armas) das quais nem 5% se perderam a favor do “inimigo”, organizando igualmente as suas defesas, como poderão ver nas fotos anexas.
A Frelimo teve medo de armar estas populações. O Portugal de então confiou nelas. E sabia que um dia viria a Independência.
Se os aldeamentos construídos no tempo colonial fossem campos de concentração e tivessem sido feitos contra a vontade das populações, o natural seria, adquirida a independência, o seu retorno aos locais onde antes viviam. Tal não aconteceu. Porquê? Porque tudo foi feito em acordo com as populações que então repudiavam a Frelimo. E a Frelimo atacou muitos deles, onde não existam militares, nunca tendo ocupado algum. E foi contida no Rio Messalo, só esporadicamente o ultrapassando.
Ora, tudo isto é agora impossível de se fazer ou refazer com o "patrão" actual.
Os então designados aldeamentos em Cabo Delgado beneficiavam, na sua quase totalidade, de água, escola, arruamentos, terrenos preparados para a agricultura, centro de saúde, centro social e alguns até electricidade e pista para avionetas. E não tinham arame farpado à sua volta como verão nestas e outras fotos dos anos 60 que publicarei mais tarde.
Só como castigo àquelas populações se entende o seu abandono pela Frelimo. E a quem o céu na terra foi prometido. De recordar que a História não se apaga. Sempre se repete, embora com facetas diferentes. E com a ascensão de individualidades macondes aos mais altos cargos da nação e à governação e exploração por macondes das riquezas ali existentes, escorraçando as populações dos seus lugares, logo um passado histórico vem ao de cima. A maturação levou tempo, mas aconteceu. E outros, que não moçambicanos, se estão aproveitando disso.
Mas já é tarde para voltar atrás e isso vai custar, infelizmente, muito sangue.
Como ilustração, conheci um “muane”, natural da Ilha de Moçambique, que tinha em Palma um palmar de 400 hectares, que lhe foi retirado na altura das nacionalizações. E muitos outros, em especial muanes ou quimuanes, residentes no litoral tinham extensas áreas de cultivo, além de serem os senhores do comércio. Macondes eram então seus servidores ou empregados. Ou, como há muito acontecia, emigravam para as plantações de sisal na Tanzania, pouco cultivando em Moçambique.
É evidente que também há outras causas. Mas hoje fico-me por aqui. Já dá para pensar.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
(Click nas imagens para ampliar)
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