Investigadores da Universidade Joaquim Chissano defendem que o Estado moçambicano "precisa reconhecer que enfrenta um grupo bem liderado em Cabo Delgado", sugerindo uma estratégia mais ofensiva por parte das forças governamentais.
Ataques: Estado precisa reconhecer que enfrenta um grupo “bem liderado”, defendem os investigadores
“Moçambique precisa reconhecer que enfrenta um grupo bem liderado, que se adapta com facilidade as condições que lhe são impostas e que está a saber aproveitar-se das lacunas e fraquezas do país, principalmente das Forças de Defesa e Segurança [FDS]”, lê-se num relatório sobre a situação de segurança no país, elaborado pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais da Universidade Joaquim Chissano.
Para os pesquisadores, embora “bem liderado”, o grupo responsável pelas incursões armadas em Cabo Delegado mostra fragilidades.
“Apesar de portarem armas de alto calibre, a sua capacidade de reposição de munições é limitada, isso justifica as suas investidas sobre os quartéis e acampamentos militares, que visam reabastecer o grupo com armas e munições”, refere-se no documento.
Para os pesquisadores da Universidade Joaquim Chissano, as Forças de Defesa e Segurança devem, por conseguinte, adotar estratégias mais ofensivas, obrigando os insurgentes a abandonarem os pontos de conflito.
“Tudo depende de a capacidade das FDS identificarem os principais `choke-points´, dominarem as áreas estratégicas e estabelecerem postos de observação fixos munidos de meios de comunicação e observação. As campanhas militares devem ser sequenciadas e continuadas para que nenhuma retirada dos terroristas permita-lhes reagrupar em outro lugar”, declarou.
Por outro lado, os pesquisadores entendem que é fundamental o apoio da população no combate contra os insurgentes em Cabo Delgado.
“O policiamento comunitário é o primeiro estágio para a edificação da mentalidade de vigilância que precisa ser instalado ao nível das zonas de conflito para eliminar as ameaças”, refere-se no relatório.
Os relatórios sobre segurança são elaborados a cada dois meses por docentes e investigadores do Centro de Estudos Estratégico e Internacionais.
O relatório, que além da situação em Cabo Delgado aborda ainda os riscos para o país da pandemia da doença respiratória covid-19, é da autoria de Énio Chingotuane e Carlos Faria, ambos do departamento de Paz e Segurança, e de Jossias Filipe, do departamento de Economia.
A Universidade Joaquim Chissano surgiu da fusão do Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI), ao qual o centro pertencia, e do Instituto Superior de Administração Pública (ISAP), no âmbito de reformas no setor entre 2018 e 2019.
Cabo Delgado é desde outubro de 2017 palco de ações de grupos armados, que, de acordo com as Nações Unidas, forçaram à fuga de 250.000 pessoas de distritos afetados pela violência, mais a norte da província.
A capital provincial, Pemba, tem sido o principal refúgio para as pessoas que procuram abrigo e segurança em Cabo Delgado, mas há quem prefira fugir para outros lugares, incluindo Niassa e Nampula, províncias vizinhas.
O conflito armado naquela província já matou, pelo menos, 1.000 pessoas, e algumas das ações dos grupos armados têm sido reivindicadas pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico (EI).
LUSA – 27.07.2020
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