Os presidentes de Moçambique e da Tanzânia, Filipe Nyusi e John Magufuli, conversaram ao telefone sobre os ataques de insurgentes em Cabo Delgado e concordaram em reforçar a sua coordenação no combate ao grupo.
Para os analistas, Fernando Gonçalves e Gil Laurenciano estes contactos podem ser produtivos para que o combate aos insurgentes aconteça de forma coordenada entre os dois países que partilham uma fronteira comum.
“É importante que os dois países se organizem, de modo a reforçar a segurança ao nível da fronteira comum para que os insurgentes não usem qualquer um dos dois países para se refugiarem em caso de serem acossados num país”, diz Fernando Gonçalves.
“Todos os contactos e toda colaboração regional sempre tem alguma contribuição para isso, porque é um problema que o Moçambique não pode resolver sozinho; o epicentro desta insurgência é nas zonas fronteiriças com a República da Tanzânia”, afirma o analista Gil Laurenciano.
Cepticismo
Porém, outro analista de relações internacionais, Mohamed Yassine, vê com algum cepticismo a participação da Tanzania nas ações de combate aos insurgentes.
Yassine diz que que “é importante que se converse com a Tanzânia (...) mas também pode ser um erro fatal para o Governo de Moçambique, porque é preciso perceber que a Tanzânia não irá permitir que o seu território também seja um assento dos terroristas preferindo libertá-los pra onde eles querem ir”.
Em 19 de maio, a ‘troika’ do órgão de Política, Defesa e Segurança da SADC esteve reunida em Harare, capital do Zimbabué, e comprometeu-se a apoiar o Governo de Moçambique na luta contra os grupos armados em Cabo Delgado, sem, no entanto, avançar mais detalhes.
Para o professor de relações internacionais, Paulo Wache, a falta de resposta visível para a sociedade prende-se com a vontade de cada Estado em participar nestas ações.
“A SADC não tem forças armadas para enviar para Moçambique, ou não pode decidir a forma que cada Estado vai usar para ajudar Moçambique; vai depender da vontade dos Estados, em última instância, esse pedido de Moçambique,” diz Wache.
Diz ainda Wache que para isso isso acontecer, Moçambique pode seguir pelo caminho da “ diplomacia bilateral para com cada Estado da SADC”.
No entanto, Gonçalves e Laurenciano acreditam que a SADC está a cooperar com Moçambique ainda que de forma não vistosa.
“Por uma questão de interesse próprio, os países da SADC devem ter interesse em ver este problema resolvido”, comenta Gonçalves.
O também docente de relações internacionais Gil Laurentino acrescenta que não se pode afirmar que os países da região não estão a dar o apoio, pois “o problema de Cabo Delgado é tão complexo que nós próprios ainda estamos a debater para tentar entender a essência daquilo que é”.
VOA – 02.07.2020
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