07/07/2020
O presidente do Conselho Autárquico de Mocímboa da Praia disse hoje que não há nenhuma infraestrutura do Governo a funcionar, na sequência da ocupação da vila principal, durante três dias, por insurgentes que têm protagonizado ataques em Cabo Delgado.
"Não há nenhum serviço sendo efetuado lá, tudo parou. As próprias infraestruturas do Governo, nenhuma sobreviveu. Não temos nenhuma infraestrutura do Governo a funcionar", disse Carlos Momba, citado hoje pelo canal televisivo STV.
Os insurgentes invadiram a vila em 27 de junho, tendo-a ocupado por três dias e destruído várias infraestruturas, além de causar um número desconhecido de mortos.
Durante este ataque, pelo menos nove pessoas morreram, das quais oito trabalhadores de uma empresa de construção subcontratada do megaprojeto de gás que avança na região e um comandante da unidade das Forças Armadas de Defesa de Moçambique.
"Mas agora está tudo nas mãos da nossa força, a vila já está controlada", afirmou Carlos Momba, que também está fora de Mocímboa da Praia.
Fontes locais ouvidas hoje pela Lusa descrevem que o medo entre as populações permanece, mesmo depois de informações dando conta de que as Forças de Defesa e Segurança recuperaram o controlo da situação.
"Circulam as informações de que eles [os insurgentes] não querem mais ninguém na vila, eles a querem ocupar. Eu agora estou em Pemba e estou a pensar em voltar só para ir levar as minhas coisas, mas os preços de transporte são muito altos", declarou à Lusa um deslocado.
Outra fonte de uma missão religiosa em Mocímboa da Praia disse à Lusa que este foi o pior ataque que vila já sofreu, relatando que, até quarta-feira, era possível ver corpos de vítimas nas ruas.
"Em todos os bairros houve pessoas mortas. A população agora está com medo e muitas estão saindo de Mocímboa da Praia", declarou a fonte, acrescentando que os mais desfavorecidos permanecem por não terem outras opções.
"Não há nenhum tipo de comércio, os estabelecimentos comerciais foram saqueados", contou a fonte.
Mocímboa da Praia é uma das principais vilas da província, situada 70 quilómetros a sul da área de construção do projeto de exploração de gás natural conduzido por várias petrolíferas internacionais e liderado pela Total.
As autoridades ainda não se pronunciaram sobre o ataque a Mocímboa da Praia na última semana, o mais recente de uma série de incursões terroristas de violência crescente desde março e reivindicadas pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico.
Após confrontos com as Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique, com infraestruturas destruídas, energia e comunicações limitadas, a informação vai surgindo a conta gotas.
A violência armada dos últimos dois anos e meio já terá provocado a morte de, pelo menos, 700 pessoas e uma crise humanitária que afeta cerca de 211.000 residentes.
As Nações Unidas lançaram, no início de junho, um apelo de 35 milhões de dólares (30 milhões de euros) à comunidade internacional para um Plano de Resposta Rápida para Cabo Delgado para ser aplicado de maio a dezembro.
LUSA – 07.07.2020
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