"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Samora: acima de mim está Deus, se ele existe.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018


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Joao Cabrita
Itália e Vaticano: Entre o Não Ajoelhar e o Ajoelhar
A recente viagem de Filipe Nyusi ao Vaticano merece ser vista à luz da postura do regime da Frelimo em relação à Igreja Católica. E também da postura do primeiro presidente da República e dos que o rodeavam - e que ainda rodeiam o actual chefe de Estado. De um lado, a perseguição das igrejas e o combate à religião. De outro lado, a conversão de muitos dos dirigentes da Frelimo, uns por mero oportunismo, outros em busca de absolvição.
Em 1981, Samora Machel planeava visitar Itália, mas não o Vaticano, como fez questão de frisar durante uma recepção em Maputo à margem da 8ª Sessão da Assembleia Popular, caricatura de parlamento moldado à face e imagem de um partido monolítico, de práticas totalitárias. Propositadamente convidado para a recepção, D. Jaime Gonçalves, presidente da Conferência Episcopal de Moçambique (CEM). O cenário é típico, com alguns dos melhores filhos do povo previamente ensaiados para a chacota socializante.

Hoje, Roque Silva revela que o regime deu um salto qualitativo em matéria teológica, sabendo comparar o que ontem era posto em dúvida; no leito, Chipande recordará o que ontem disse e o que hoje o irmão faz.
A transcrição das palavras de Machel e de outros é da C.E.M. :
MACHEL: Sabe D. Jaime, eu vou a Itália. Saio daqui no dia 13 e
estou lá no dia 14. Vou visitar o povo e o Governo italianos. Mas não vou visitar o Papa. Não vou ao Vaticano. Tenho o escritório cheio de cartas que me aconselham a ir falar com o Papa. Falar o quê?
Alguns italianos estão aqui, foram enviados para me convencer
de ir ter com o Papa. Dizem que seria bom ir ter com o Papa dada a compreensão e a aproximação da Igreja e Estado de Moçambique. Eu não estou a aproximar-me do Papa, mas sim dos Bispos moçambicanos. Os nossos problemas devem ser resolvidos aqui.
Se eu for ao Vaticano como e onde me vai receber o Papa. Na Igreja, na biblioteca, vou beijar o anel, como vai ser isto?
CHIPANDE: De joelhos.
MACHEL (com a mão esquerda no bolso): Chipande, não fales! Não vou falar com o Papa. Eu sou Chefe de Estado, Presidente da República Popular de Moçambique, o Comité Político-Permanente da Frelimo nomeou-me Marechal de Moçambique. O Comité Central constitui-me Comandante em chefe das Forças Armadas de Moçambique. Acima de mim só esta Deus, se ele existe. Repito: acima de mim esta Deus, se ele existe.
MARCELINO DOS SANTOS (com voz pesada): E como ele não existe...
MACHEL: Senhor P. Joaquim, D. Jaime e D. Alexandre, não tomem a sério o que disse Marcelino dos Santos. Repito: não tomem a sério o que disse Marcelino dos Santos. Acima de mim só esta Deus, se ele existe. Portanto, não vou falar com o Papa. Estarei na Itália uma semana, mas não vou falar com ele. Que é que vou dizer? Eu quero resolver os problemas com os Bispos moçambicanos, depois poderão ir ter com eles tendo já a cara lavada. Somos um povo independente e livre. Bem assim como em 25 de Junho brindei com os Bispos de Pemba, agora vou brindar com os Bispos que estão aqui.

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