"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Morte selectiva

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De forma paulatina, ganha corpo a ideia de que o assassínio de Mahamudo Amurane tem motivações político-económicas.
Amurane foi cravado de três balas disparadas anteontem à queima-roupa, na farmácia que lhe pertence, sita no rés-de-chão de sua residência particular, em Namutequelíua, Município de Nampula.
Filipe Nyusi não se cala e denuncia o facto de o assassínio de Amurane contrariar todos os esforços e apelos à paz.
O seu arqui-rival, Afonso Dhlakama, é que não tem dúvidas. Mahamudo Amurane foi morto por motivações políticas e retira, desde logo, qualquer responsabilidade a Daviz Simango e ao Movimento Democrático de Moçambique (MDM), anotando que Simango não possue nenhum ‘esquadrão’ da morte nem vê nele alguém que possa requisitar a morte de um seu militante.
Em Nampula, tensão popular na sequência dos acontecimentos de anteontem.
As pessoas exigem justiça e dizem que Amurane vinha realizando um trabalho exemplar, mudando a face do Município.
Com o MDM fora das possibilidades de participação na morte do edil, há quem coloca o empresariado local como um dos focos, aparentemente devido aos vários projectos que teriam  sido submetidos ao Conselho Municipal e acordos nesse âmbito, entretanto sem avanço, acabando por desaguar no assassínio de Amurane como uma espécie de ajuste de contas.
A Renamo acha que não. Que há uma mão política no seio do sucedido.
A embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) em Maputo acaba de emitir um comunicado, no qual começa por lembrar os fortes laços colaboracionistas havidos com o Conselho Municipal de Mahamudo Amurane, classificando de “grande apreço a liderança” daquele nos projectos conjuntos de desenvolvimento e a paixão do edil por melhorar a vida dos seus concidadãos em Nampula, destacando: “o seu assassinato é uma perda para todos nós”.
A polícia garante, no entanto, haverem linhas privilegiadas por onde se pode apurar/identificar o autor material na morte de Amurane, 44 anos de idade, por contar já com valiosos testemunhos.
O autor dos disparos teria entrado na farmácia de Amurane, onde este se encontrava na companhia de um vereador, retirando-se depois, para trás deixando a vítima contorcendo de dores e imediatamente levado ao Hospital Central de Nampula onde foi presente à sala de reanimação, com  forte esperança de sobreviver aos graves ferimentos.
Debalde. Coincidência ou não, isto deu-se no intervalo entre final do dia e início da noite de quarta-feira.
Nesse dia, Amurane teria dispensado o segurança pessoal, por volta das 14h00, mas que, agora, não goza do contraditório, por a vítima não ter resistido ao baleamento.
Nesse Dia da Paz, Joaquim Chissano havia dado a entender que paz em Moçambique não significa apenas a ausência da guerra, mas também o fim de assaltos a mão armada para roubo de telemóvel ou de uma viatura.
De igual modo, ocorre numa altura em que o MDM se preparava para reunião da Comissão Política Nacional, onde Mahamudo Amurane era membro.
Apesar das desavenças entre Amurane e a liderança do MDM, o edil de Nampula continuava a ser considerado membro da organização, até por nunca ter, formalmente, solicitado a sua desvinculação.
Na memória, episódio do sumiço de telemóvel em plena Igreja, quando Amurane se levantou para ir ao altar.
Nos corredores, entretanto, ganhava forma que Amurane iria concorrer como independente nas eleições autárquicas do próximo ano, desse modo desvinculado do partido que trouxe à ribalta da política.
EXPRESSO – 06.10.2017

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