O governador do Banco de Moçambique avisa que, sem apoios externos, serão necessárias reformas mais profundas do que se previa. Rogério Zandamela promete fazer tudo para impedir inflação de dois dígitos.
Rogério Zandamela diz que a atual situação financeira em Moçambique é "difícil"
O governador do Banco Central de Moçambique alerta que o país continuará a ter uma "vida difícil" em 2018. Há tendências de risco inflacionárias, cuja magnitude ainda não é possível determinar, admitiu Rogério Zandamela, no final de uma reunião do Comité de Política Monetária na quinta-feira (26.10), em Maputo. As pressões ao orçamento moçambicano também vão continuar.
Estas afirmações surgem uma semana depois do Fundo Monetário Internacional (FMI) ter anunciado que não vai negociar com o Governo moçambicano qualquer programa de ajuda ao Orçamento do Estado, antes que seja totalmente esclarecida a questão das dívidas ocultas e responsabilizados os culpados.
Banco de Moçambique alerta para situação difícil em 2018
"Não há, no curto prazo, uma maneira de compensar esses cortes substanciais da ajuda externa a Moçambique", afirmou Zandamela.
Dívidas e "lista negra"
O Fundo Monetário Internacional suspendeu a ajuda ao Orçamento do Estado moçambicano em 2016, após a descoberta de dívidas contraídas por três empresas com garantias do Estado, sem o conhecimento do Parlamento e dos parceiros internacionais, num valor estimado em cerca de dois mil milhões de dólares.
Os doadores suspenderam igualmente a ajuda ao orçamento e condicionam a sua retoma a aprovação de um programa do Governo com o FMI.
A propósito da situação que Moçambique atravessa, o "número um" do Banco de Moçambique, ex-funcionário do FMI, comentou que nenhum dos países que viu cair no passado na lista negra da comunidade internacional conseguiu sair de lá. Por isso, as exigências duplicam: "Quando você entra nessa lista para sair, você vai soar sangue", avisou Zandamela.

Banco Central de Moçambique, em Maputo
Reformas
Moçambique precisa de reformas fiscais e de competitividade ainda mais profundas do que se previa, advoga o governador do Banco Central.
"Do lado fiscal, é uma combinação de medidas de administração das receitas, do ponto de vista das várias componentes das despesas. Precisamos também de reformas sobretudo que têm a ver com a nossa competitividade e que têm impacto positivo sobre a parte fiscal, que têm tambem a ver com o trabalho de reestruturação da dívida externa. É muita coisa", desabafou Zandamela.
O responsável assumiu que a dívida interna do país é alta e acrescentou que é obrigação do Banco de Moçambique "começar a preocupar-se" com a possibilidade de deixar de ter clientes para comprar essa dívida.
O governador do Banco de Moçambique disse ainda que o país regista neste momento um excesso de liquidez, mas que o crédito continua fraco e as taxas de juro altas. Zandamela assegurou que tudo será feito para que a inflação não atinja os dois dígitos em 2018.