"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



segunda-feira, 13 de junho de 2016

Megalomania galopante desconstruindo o país

 


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Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
A tese de que Moçambique lhes pertence em exclusivo avança.
A inflexibilidade exibida a cada dia que passa não é por acaso. Tem génese própria e alimenta-se com arrogância e prepotência sustentadas por alianças antigas, assinadas e celebradas desde os primeiros dias da formação da Frelimo. As desavenças iniciais conhecidas e documentadas já não podem ser escondidas, por mais que se tente apresentá-las como um diferendo entre uma suposta linha correcta e a uma linha reaccionária.
Quando os “camaradas” se degladiam nos dias de hoje em praça pública, e após declarações mais ou menos bombásticas, não são perseguidos ou eliminados, há que dar mérito à luta heróica e destemida dos moçambicanos.
Nos tempos do pensamento comum, aquilo que alguns “camaradas” aparecem dizendo em público seria motivo de recolha e transporte imediato para campos de reeducação. E, estranhamente, temos “ilustres camaradas” aparecendo em defesa dos tenebrosos campos de reeducação ou “campos da morte”. Tanta história ou discursos sobre um hipotético “homem novo” que jamais foi visto.
Hoje sente-se que se confiou em demasia em pessoas tão mortais como todas as outras. Era tudo um pacote adocicado, mas envenenado, que nos vendiam de discurso em discurso.
“Sua causa nem pura nem justa era”. Hoje, enfiados num beco aparentemente sem saída, existem os que teimam em continuar a mentir.
Passámos anos acreditando que os nossos “dirigentes” eram e estavam bem-intencionados. Rodeados de privilégios e dominando efectivamente tudo, foram traçando com que geraram os conflitos que tomaram conta do país.
Nada é linear e nem poderia ser.
Questões complexas e conexas requeriam decisão em tempo oportuno, e os que detinham o poder foram tomando tais decisões com base no que sabiam, na sua experiência, e é aí que se verifica que pouco ou nada sabiam alguns deles.
Hoje, pagamos pelo que fizeram alguns digníssimos “camaradas”.
Regredimos a níveis vergonhosos, e, como se fossemos um país de incompetentes, sujeitamo-nos a alimentar todo um povo com arroz envelhecido, de silos da Ásia, que nos chega através de ofertas de parceiros da cooperação internacional, como o Japão.
Convencidos de que escutar e seguira voz da razão veiculada por concidadãos experientes e conhecedores lhes “roubaria” proeminência e poder, fecham-se a tudo e todos num exercício totalitário permanente.
Esta megalomania, que, como se sabe, doentia, ameaça destruir o país e já significa mais uma vez uma guerra civil. Se antes diziam que era guerra de desestabilização movida por regimes racistas da região, que dirão agora?
E a agravante que muitos teimam em não ver tem sido a instrumentalização de compatriotas em defesa de um “status” conquistado à custa da rapina de recursos públicos.
Joga-se um tudo ou nada desnecessário só porque a recusa de partilhar supera o bom senso. Têm mais do que necessitam para viver bem e folgadamente, como se diz, mas querem sempre mais e mais.
O gás terá já enlouquecido alguns a ponto de apostarem num rearmamento galopante. Gritam que querem a paz e que o outro se desarme, mas, no fundo, o que querem deve ser o regresso do partido único e que todos sigam a cartilha dos “sábios e visionários dirigentes”.
E nesta onda que fustiga Moçambique, têm seguidores, apoiantes e defensores, alguns oriundos de universidades nacionais e estrangeiras.
A esperança que paira no ar, Comissão Mista para organizar o encontro ao mais alto nível entre FJN e AMMD, ainda existe, mas pode desvanecer-se a qualquer momento, se atendemos a que, num passado recente, o Centro de Conferências “Joaquim Chissano” se transformou em produtor de impasses, de cada vez que as partes se encontravam para discutir uma agenda previamente aceite.
Para honrar Dom Jaime Gonçalves e outros ilustres moçambicanos que se sacrificaram para que a paz chegasse, o povo, como um todo, deve exigir que estes políticos se encontrem e que decidam algo em concreto. Decidam e implementem acordos que tragam uma paz e estabilidade reais, democracia politica e económica assente em preceitos republicanos, em que os poderes democráticos são efectivamente separados.
Já todos sabemos que a paz foge porque impera a partidarização do Estado e das Forças de Defesa e Segurança. A paz foge porque a justiça vive inclinada. A paz foge porque, a despeito das leis, uns poucos tomaram tudo e querem continuar a ter acesso exclusivo aos recursos, especialmente os minerais e as grandes empreitadas do Estado. Querem tudo para eles e seus dependentes directos. Abocanham, comem, vomitam e voltam a comer, como larvas insaciáveis.
Alterar este presente medonho e construir um Moçambique sólido, democrático, solidário e digno são os desafios de hoje e de todos os dias. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 13.06.2016

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