09/04/2019
Há duas semanas, aquando da submissão da acusação ao TJCM, o Ministério Público revelou ter aberto quatro processos autónomos do caso. Um dos processos pode estar relacionado ao ex-governador do Banco Centrai, soube "Carta" de fontes reputadas. Nos últimos dias, Ernesto Gove tem sido visto na cidade Maputo, tendo "abandonado" o seu projecto agro-pecuário, em Nhacouongo, distrito de Inharrime, província de Inhambane.
A par do antigo Ministro das Finanças, Manuel Chang, que emitiu as garantias para a contratação de mais de 2.2 mil milhões de USD pelas três empresas caloteiras (Prolndicus, EMATUM e MAM), o antigo Governador do Banco de Moçambique (BM) foi também peça-chave no processo, ao ter autorizado a contratação das dívidas que levaram o pais a uma grave recessão económica. De acordo com o despacho da acusação do processo 1/PGR/2015 (agora Processo Querela 18/2019-C), Ernesto Gove teve um papel preponderante no empréstimos caloteiros, ao ter emitido pelo menos quatro despachos de autorização para a contratação das dívidas contraídas pelas três empresas entre 2013 e 2014.
De acordo com o documento, o BM homologou, a 14 de Março de 2013, o Acordo de Empréstimo de 372 milhões de USD, assinado a 28 de Fevereiro do mesmo ano entre a Prolndicus e o Credit Suisse. O pedido de homologação tinha sido solicitado a 08 de Março desse ano pelo então PCA daquela empresa, Eugénio Matlaba. A anuência do banco central veio assinada em nome de uma funcionária, de Silvina de Abreu (hoje Directora de Comunicação e Imagem), após o competente despacho de Ernesto Gove, que ter-se-á baseado em pareceres internos daquela instituição financeira.
Segundo o Ministério Público, o contrato inicial da Prolndicus sofreu duas alterações, que visavam aumentar o valor do crédito. Num primeiro momento foram acrescidos 250 milhões de USD (a 14 de Junho de 2013), e depois 278 milhões de USD (a 17 de Dezembro de 2014), totalizando 900 milhões de USD. Nestas alterações, refere o despacho da acusação, o Banco Central teve intervenção na primeira, através da emissão imediata e aparentemente sem questionamento, a 12 de Junho (depois de uma solicitação de 11 de Junho), de um parecer favorável sobre o aumento do empréstimo, fazendo referência à "natureza estratégica" do projecto. A Prolndicus foi autorizada a fazer a operação a 13 de Junho, num documento também assinado por Silvina Abreu. O MP não obteve nenhum registo sobre uma autorização do BM relativa ao segundo aumento.
O BM continuou a ser um "piayer" importante neste processo e a 21 de Agosto de 2013, por ofício subscrito, mais uma vez por Silvina Abreu, autorizou a contratação de um empréstimo de 850 milhões de USD, contraído pela EMATUM a 30 de Agosto, aos bancos Credit Suisse (500 milhões de USD) e VTB Capital, da Rússia (350 milhões de USD). Silvina de Abreu cumpria despachos competentes do Governador que, por sua vez, apoiava-se em pareceres internos.
Mesmo papel teve o Banco na contratação da dívida da MAM. A 20 de Maio de 2014, o BM autorizou a contratação de um empréstimo de 540 milhões de USD junto do VTB Capital. Neste último empréstimo, o pedido de autorização foi feito por Manuel Chang e não pelos PCA's das empresas contratantes. (Abílio Maolela)
CARTA – 09.04.2019
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