"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Caras sem vergonha!

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Canal de Opinião por Adelino Timóteo
Num passado muito recente veio ao terreiro o porta-voz do conselho de ministros a aconselhar-nos uma dieta à base de “tseke”, porque nesse tempo que vivemos recomenda-se o racionamento, restrições devido à crise económica, em grande medida derivada das dívidas ocultas, provocada pelos nossos intocáveis poderosos.
“Tseke” é para muitos uma planta desprezível, mas o entendimento do nosso desGoverno é que o comamos.
Depois foram os discursos oficiais de apelo à contenção nos gastos, ao nível das aquisições de bens e serviços, na função pública e no aparelho do Estado.
Depois, os nossos poderosos, aqueles que nos aconselharam a comer “tseke”, alguns com conexão às dívidas escondidas, aparecem na imprensa como beneficiários de parte do lote de viaturas de luxo adquiridas pelo Estado. Eles no bem bom e o glorioso povo no pior da sua concepção sobre comer bem.
Quer dizer, roubam dinheiro, aconselham-nos a fazermos dieta de “tseke” e, caras sem vergonha vendo-nos miseráveis, desnutridos, magros e com os lábios ressequidos, debaixo das nossas barbas por aparar, porque não há sequer dinheiro para lâminas, fazem aquisições de viaturas milionárias a pretexto de dignidade da classe dirigente.
Quer dizer, cheira a impunidade quando vemos algum honorável dirigente ladrão a esfregar as mãos de contente por esse presente inventado para dar dignidade inclusivamente aos assaltantes do erário público. Cheira a insensibilidade e compadrio.
Quer dizer, a moral que esta classe política nos reserva tem em vista a acobertar e premiar a organização (membros do governo, por tabela de uma colectividade política conhecida, incluído delinquentes) ao mesmo tempo que se marimbam para os particulares (sociedade em geral), a qual a sorte de terem dirigentes ladrões dita que comam “tseke” e andem apinhados em “My Love”, porque a dignidade destes últimos não conta mais do que a daqueles que roubaram ao Estado. Daqueles que se protegem entre si e fazem ofertas e dádivas.
Quer dizer, é esta a moral que o nosso desGoverno defende e apregoa.
A moral do favorecimento ao nepotismo e amiguismo entre eles do topo, a moral da corrupção e esbanjamento à custa do sangue daqueles que suam verdadeiramente e contribuem com pesados impostos.
Quer dizer, quando um desgoverno oferece viatura de luxo a um político que todos sabemos defraudador do Estado, então esse mesmo desGoverno lhe pisca os olhos com uma acção de bom samaritano, tornando a dignidade deste povo um assunto de somenos importância, porque se adapta facilmente ao “tseke”, o que constrangeria aos honoráveis titulares do poder, aos quais se lhes ocorre que a dignidade da maioria neste país é fazer-se transportar de “My Love” e comer “tseke”.
Quer dizer, estamos parado num tempo com um desGoverno amarrado a uma mentalidade colonial, onde pouco importa as condições dos governados. Um desgoverno que em teoria e prática está a cometer os piores erros dos praticados pelo colonialismo, porque naquele período os negros não iam de “My Love”, ainda que se sujeitassem a sentar no banco corrido de trás.
Quer dizer, foi por um desgoverno destes que parte dos nacionais suportou desde a independência e depois votou. É o mesmo que troça dos seus votantes e aconselhando-os a contentarem-se com a miséria, em nome de uma dignidade que só existe na ostentação e na luxúria de uma classe política que usufrui ademais de regalias do Estado e salários acima da média.
Quer dizer, estamos perante um desGoverno que ampara um e outro criminoso não o levando à justiça e ademais os presenteia com um pomposo brinde natalício.
Quer dizer, isto é um insulto à “inteligentzia”do povo! Quer dizer, o desGoverno está a abusar do poder.
Quer dizer, o desGoverno perdeu a noção da realidade. Perdeu a noção do decoro. Está sem norte o nosso desGoverno e a precisar de uma bússola. Por mais estranho que pareça vê-se como legítimo representante do povo, mas na verdade, pelo rol de situações arroladas, juntando a inexistência de uma acção enérgica para levar os mentores da dívida escondida aos bancos dos réus, este desGoverno só pode estar a gozar com a nossa cara.
Quer dizer, um desgoverno que aconselha os seus a comerem aquilo que floresce em terras húmidas, nalguns lugares, junto às latrinas, ancorando-se na dificuldade da economia e que a seguir demonstra exorbitância nos gastos, ultrapassou as raias do admissível e se distanciou do povo.
Exactamente, há uma barreira física clara perante o cenário que se nos oferece: eles acomodados nas suas imponentes viaturas e ostentosos palacetes. Quer dizer, isso é efectivamente a mensagem que nos estão a transmitir: a fractura social. Eles não podem viver como o comum do cidadão que tem para a dieta o “tseke” a “la carte”. Então eles estão a passar uma carta em branco em sinal de que não reúnem condições morais para nos governarem.
Caras sem vergonha, demitam-se já e convoquem novas eleições!
Basta deste desGoverno!
(Adelino Timóteo)
CANALMOZ – 16.11.2017

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