"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Eleições Gerais 2014 - Mais evidências de enchimento de urnas


Eleições Gerais 2014 - Mais evidências de enchimento de urnas

23.10.2014

Os vários casos de taxas de participação muito elevadas dão indicações de enchimento de urnas. Participação acima de 80% dos eleitores recenseados é improvável em Moçambique, especialmente nas áreas rurais, onde as pessoas têm de caminhar longas distâncias. É muito mais provável que as urnas tenham sido enchidas – colocando os boletins não utilizados nas urnas, ou simplesmente alterando o edital, após o término da contagem. Isso acontece facilmente nas áreas onde os partidos da oposição não conseguiram colocar delegados ou membros de mesas para fiscalizar o processo.
As taxas mais elevadas são registadas em Gaza, onde cinco distritos apresentam taxas muito elevadas de participação: Chicualacuala 89%, Chigubo 82%, Mabalane 80%, Massangena 96% e Massingir 92%. Estes resultados tornam-se mais suspeitos se comparados aos dados outros distritos de Gaza, igualmente leais a Frelimo, como é o caso de Mandlakazi onde a afluência às urnas foi de 56%.
O Observatório Eleitoral (OE) levantou suspeitas sobre a alta taxa de participação em Guijá, Gaza, onde ainda não temos os resultados do apuramento distrital.
Outro distrito suspeito e de Ka Nanyaka na cidade de Maputo, que alcançaram taxa de participação de 79% em claro contraste com a taxa média de participação nos restantes distritos da cidade que se situou nos 60%. O OE também suspeita das altas taxas da afluência às assembleias de voto de Ka Nanyaka.
O Distrito de Mabote, Inhambane, com uma participação de 81%, também foi apontado pelos observadores do OE como um distrito com taxa de participação muito elevada.
Dados do OE também apontam para enchimento de urnas nos seguintes distritos:
Cabo Delgado: Muidumbe

Inhambane: Inhassoro, and Panda

Nampula: Ilha de Moçambique and Nacala-a-Velha
Niassa: Mecula
Tete: Cahora Bassa, Changara, and Zumbo

A maioria destes distritos são pró-Frelimo. Os distritos de Tete, na sua maioria são da Frelimo mas votam significativamente na Renamo. Os distritos de Nampula estão divididos e há muita disputa. Ilha de Moçambique e Changara têm um histórico de enchimento de urnas à favor da Frelimo.
Historicamente, quase todos enchimentos de urnas têm sido à favor da Frelimo e do seu candidato presidencial.
Houve enchimento em mais de 5% das urnas
Estima-se que houve enchimento significativo em mais de 5% das urnas nas assembleias de voto, o que provavelmente aumentou o número de votos para o candidato da Frelimo e Filipe Nyusi por mais de 100 mil.
Usando a contagem e amostra do Observatório Eleitoral, registaram-se igualmente problemas como a abertura tardia ou alteração do local de funcionamento em cerca de 130 assembleias de voto. Os observadores e delegados dos partidos políticos relataram casos de assembleias de voto que tinham cadernos de recenseamento que não constavam da lista oficial das assembleias de voto e cadernos. Supõe-se que isso tenha acontecido em cerca de 250 assembleias de voto.
A amostra do Observatório Eleitoral foi baseada em dados colectados por observadores seus em 1.770 assembleias de voto que foram selecionadas por métodos estatísticos de modo a constituir uma amostra precisa das mais de 17.000 assembleias de voto existentes. Essa informação pode ser usada para estimar a dimensão dos problemas reportados, e um relatório sobre a participação será publicado aqui no final da semana.
Considera-se que qualquer participação acima de 80% é irregular e, provavelmente, pode indicar enchimento de urnas. A amostra constatou que 5% de todas as assembleias de voto teve uma afluência superior. Contudo, se essa percentagem se aplica para todas as assembleias de voto, sugere-se que houve enchimento significativo de urnas pelos membros das mesas de voto (MMVs) em mais de 850 mesas de voto, o que poderá ter contribuído para adicionar mais de 100 mil votos para Filipe Nyusi, o candidato presidencial da Frelimo. Se forem retirados 100.000 votos ao total de votos de Nyusi, a sua percentagem de votos no apuramento provincial publicado ontem, cairia em 1%, passando dos 56,8% para 55,9%.
As afluências acima de 80% foram verificadas em Tete, Gaza, Inhambane e Cabo Delgado.
Esta estimativa consegue captar somente os casos de enchimento de urnas em grande escala, em locais onde os observadores do OE estavam presentes. Há relatos de enchimentos de menor escala e existência de alguns boletins extra. E casos de má conduta grave podem ter ocorrido em locais onde não estiveram os observadores. Mas isso não pode ser identificado por estes métodos estatísticos.
Pequena correcção
No nosso quadro de resultados, publicado ontem, por má percepção na transmissão dos resultados via telefone, alguns votos de Afonso Dhlakama ficaram omissos. Na verdade, ele recebeu 357.000 votos na Zambézia. Isso faz ligeiras alterações nos totais nacionais do apuramento provincial:

Afonso Dhlakama 1,777,093  36.77%
Filipe Nyusi           2,744,066  56.78%
Daviz Simango         311,358    6.44%

O quadro completo, com as correções, esta disponível em: http://www.cip.org.mz/election2013/
Vamos atualizar este quadro logo que recebermos versões mais actualizadas sobre os totais das províncias.

Agora temos resultados de 117 dos 150 distritos, que estão disponíveis em http://www.cip.org.mz/election2013/

 Os totais provinciais e distritais não incluem os milhares que serão requalificados. A CNE estima que existam 700 mil votos inválidos (nulos), e neste momento, todos eles estão ser enviados para Maputo para que seja feita a requalificação pela Comissão Nacional de Eleições. Em mais de 10% dos casos, a CNE tem concluido que o pessoal das assembleias de voto foi muito duro, considerando que a intenção do eleitor estava clara, mesmo que a marca no quadrado não seja precisa. Estes votos serão adicionados aos válidos, e poderão aumentar o total dos candidatos em dezenas de milhares.
PVT mostrou ser preciso
A contagem paralela (PVT, parallel vote tabulation) produzida pelo EISA para o Observatório Eleitoral, mais uma vez, provou ser bastante precisa. A estimativa final, com base em uma amostra de pouco mais de 10% das assembleias de voto, foi:

Dhlakama: 35.22%
Nyusi:        57.24%
Simango    7.54%

COMENTÁRIO: PVT é um método de confirmação
O PVT fornece uma verificação essencial sobre o processo eleitoral. Houve relatos generalizados de caos e confusão em alguns distritos e provinciais, incluindo detenções de funcionários que tentam alterar os resultados.
Porque o PVT é baseado em cópias oficiais das folhas de resultados (editais) recolhidos pelos observadores nacionais independentes na assembleia de voto, ele constitui um mecanismo importante para a fiscalização de quaisquer manipulações que possam ser feitas no nível distrital, provincial e nacional. Uma vez que a previsão do PVT se encontra próxima dos resultados provinciais, podemos depreender que tenha havido pouca manipulação dos resultados nos níveis intermediários, e, portanto, os resultados até agora divulgados estão próximos dos correctos.
O PVT não é um mecanismo de observação formal sobre o que acontece na assembleia de voto, mas, como podemos constatar nos artigos acima, ele permite-nos fazer estimativas sobre a má conduta nas assembleias de voto. E vamos continuar a fazer nos próximos dias.       jh
Detidas duas pessoas na Beira por fraude eleitoral
Dois oficiais eleitorais foram detidos na cidade Beira por tentativa de alterar os resultados, segundo noticiou o jornal Diário de Moçambique na Beira. O membro nomeado pelo MDM para a Comissão Provincial de Eleições (CPE) de Sofala, Lucas Zabica, foi detido quarta-feira (22) por ter tentando mudar o edital do distrito de Chibabava, com o intuito de dar mais votos ao MDM e Renamo e menos a Frelimo.
A chefe de operações do STAE (Secretariado Técnico de Administração Eleitoral) da cidade da Beira, Sónia Dzimba, foi detida terça-feira (21) depois de ter sido encontrada na segunda-feira a mudar os editais das assembleias de voto. O Canal de Moçambique relatou quatra-feira, que ela mandou os funcionários para o almoço e depois tentou substituir editais do bairro Manga Laforte, por outros que davam mais votos a Frelimo.
ISS: Afirma que o 'retorno das hostilidades foi um golpe de mestre político'
"Por mais improvável que possa parecer, o retorno da Renamo para o mato parece ter sido uma estratégia mais eficaz de campanha", escreve o Institute for Security Studies (ISS) da África do Sul na sua análise sobre a eleição.
"Longe de ser uma sentença de morte da Renamo, o reinício das hostilidades foi um golpe de mestria política. O que permite descrever a Renamo como um partido que foi capaz de tomar medidas reais para defender seus princípios, que considerou serem para o bem de Moçambique como um todo. A retórica de Dhlakama na campanha eleitoral ganhou repercussão, e enfatizou valores como a tolerância e a unidade, que contrastam fortemente com a Frelimo e sua abordagem conosco-ou-contra-nós."
"Curiosamente, puxando para fora do processo democrático, a Renamo foi capaz de demonstrar o seu compromisso com ela própria, principalmente, na medida em que estava em causa o seu eleitorado", considerou o ISS.
http://www.polity.org.za/article/renamos-renaissance-and-civil-war-as-election-strategy-2014-10-22

In Boletim sobre o processo político em Moçambique
Número EN 72 - 24 de Outubro de 2014

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