20/09/2020
Por ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Neste artigo vou tentar discutir um tema muito delicado e espinhoso; se na guerra há espaço para ética e moral ou como se costuma dizer; numa guerra vale de tudo.
E… para começar o que é a guerra? No princípio ou primeiro momento várias respostas vêm em nossas mentes, mas por incrível que pareça o conhecimento que temos sobre o que é a guerra é extremamente limitado e variado, por esta razão vou começar pela origem da palavra, ou seja, etimologia.
O escritor, padre e médico francês François Rabelais afirmou ironicamente, que estava a ponto de acreditar, que a guerra seja, assim ela chamada bela simplesmente pelo facto de que, é na guerra que se destacam todas as espécies de fausto e beleza. Destarte, os empregos linguísticos/semânticos actuais de guerra relacionam essa palavra com três [3] diferentes etimologias: o termo grego Polemos [πολεμική], do qual o estudioso francês, Gaston Bouthoul fez derivar a Ciência das Guerras; a Polemologia.
O termo italiano, Bellum do qual a língua italiana tirou o conceito de bellicocita ou belicosidade com seus correlatos; bellicoso, bélico e beligerante, e o termo alemão Werra do qual se originaram tantas formas neolatinas; guerra italiana e guerre francesa, quanto inglesa o war lembrado, que para aumentar a confusão o alemão moderno recorrera, depois por outro lado a forma Krieg.
Destarte, quanto ao pensamento, as definições e as conclusões sobre a mesma, também não existem consensos, chegando aos filósofos e o que melhor tratou de definir esse assunto foi o Michael Montaigne. Ele afirmou; «quanto a guerra que é a maior e mais pomposa das acções humanas eu gostaria de saber, se queremos usá-la para provar alguma prerrogativa nossa ou ao contrário para testemunhar nossa debilidade e imperfeição».
Outros filósofos reflectiram de formas diferentes sobre a guerra. O grego Platão afirmava, que era uma inutilidade; o moralista francês La Bruyére definiu a guerra como inevitável, o também francês Misty a considerava divina; o alemão Hegel a via como uma necessidade histórica; para o Nietzsche filósofo nascido no reino da Prússia actual Alemanha era bela, e para o francês Voltaire, «era uma manifestação de estupidez, pois nada envolve tantos os seres humanos de maneira tão íntima e completa. Ela mobiliza todos os recursos, económicos, espirituais, industrial, científico, ideológico e religioso. Nada exige tanto dos seres humanos; a morte, a dor, as feridas e os sofrimentos. Nada causa destruição de todas as espécies e bens; dos grandes monumentos, às bibliotecas, das fábricas, as casas sem conceder nenhuma distinção entre civis e combatentes, entre jovens e velhos, entre homens e mulheres, entre crianças e doentes».
Um melhor exemplo, a segunda guerra-mundial, que é vista ainda hoje, como o conflito mais repugnante e imoral, da história da humanidade. Seguindo uma ideologia doentia baseada em conceitos científicos deturpados os alemães [avançaram] pela Europa, subjugando, destruindo e escravizando povos inteiros.
Os japoneses, seguindo conceitos raciais, semelhantes aos dos alemães, escravizaram vastas regiões na China e na Correia levando a morte a milhões de civis; os americanos e britânicos, seguindo a risca o ditado; guerra é guerra destruíram centros populacionais inteiros na Europa e na Ásia, partindo do princípio de que, se os civis fossem mortos não haveria mão-de-obra para manter o esforço de guerra do inimigo, destarte, cidades como [Dresden e Tóquio] foram completamente varridas do mapa.
A seguir, os soviéticos no seu ímpeto vingativo, mataram e enterraram em valas comuns vinte [20] mil Oficiais polacos. Escravizaram, mataram e violaram centenas de milhares de civis e deportaram para Sibéria povos inteiros. Repare! Cada um deles tinha uma justificativa perfeitamente aceitável para esses actos [cruéis] ao menos para eles próprios. Isso significa, que na guerra não há espaço para moralidade e para ética.
De facto, quando debatemos a moralidade e a ética na guerra surgem prontamente dois [2] campos opostos: um deles formados pelos pacifistas, um grupo de pessoas para o qual nada pode justificar uma guerra; com outro campo sendo formado por pessoas com padrões um pouco mais relaxados geralmente [permeados] com uma boa dose de nacionalismo, que defendem peremptoriamente, que qualquer guerra é justificável desde que, acolha os interesses duma nação, e esse é o campo que governa o mundo desde que a história começou a ser escrita.
Destarte, na segunda-guerra mundial, bombardear Hiroxima era justificável, pois acolhia os interesses dos Estados Unidos [EU] naquela época, que era basicamente o de vencer a guerra; para um alemão na segunda-guerra mundial, usar os ucranianos e polacos como uma mão-de-obra escrava era justificável, pois para eles aqueles povos eram inferiores e só teriam uma utilidade como escravos; para o russo em 19[45] estuprar uma mulher alemã ou deportar para Sibéria povos inteiros era justificável, porque atendia os interesses da União Soviética [US] naquela época, que era se vingar do ataque alemão e eliminar qualquer oposição política no Leste europeu.
No médio oriente, por exemplo, quando árabes laçam roquetes de morteiros e foguetes contra o Israel, a partir do pátio duma escolas e de hospitais é um acto justificável para eles, dado que acolhe os seus interesses, que é espalhar o terror entre os israelitas e forçar uma negociação territorial mais logrativo, e… quando Israel, bombardeia posições iranianas na Síria e se esconde em seguida atrás de aviões civis, também é um acto justificável para eles, pois estão lutando pela sua própria sobrevivência.
Portanto, respondendo a pergunta, que acima atirei. Não há uma moralidade universal na guerra, uma vez que, qualquer acto por mais [irracional] que seja pode ser justificado desde que, traduza os interesses de quem o praticou. Ou seja, o que é imoral para uns é perfeitamente moral para outros.
Por exemplo, se você e a sua família estão sendo atacados; moralmente você tem o direito e/ou obrigação de fazer tudo, que estiver ao seu alcance para proteger asi, também a sua família, o que pode e inclui se aplicarmos essa ideia num contexto de nações, atacar também a família do agressor, que está atacando a sua família. Numa guerra, isso não é imoral ou antiético, já que é tudo uma questão de sobrevivência.
Quer dizer, não há moralidade/ética na guerra, mas há moral e ética nas pessoais. Como viu, tudo tem uma justificativa, e ela só varia conforme no lado, no qual você está entrincheirado; o que me leva a uma outra verdade absoluta. No mundo, não há honestos e bandidos com todos os países se regendo por [leis e regras] baseadas nos seus próprios interesses.
Em geral, as guerras no mundo longe das cenas dos filmes são suja e imorais, mas como ser humano não posso aceitar moralmente certos actos. Contudo, no mundo onde interesses nacionais e supranacionais suplantam e se sobrepõe aos interesses individuais, essa minha opinião e atitude moral particular não representa absolutamente nada. Pois, a nossa espécie venera e estima essa prática como forma desse chegar ao fim, por meio, da força para subjugar o outro e impor lhe a sua própria vontade.
Por isso, cabe a nós pensarmos, se essa prática vale ou não apena.
Manuel Bernardo Gondola
Em Maputo, aos [20] de Setembro 20[20]
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