28/09/2020
XÍCARA DE CAFÉ por Salvador Raimundo
JÁ lá vão os tempos em que o partidão lavava roupa suja dentro de portas, sem espaço para a opinião pública.
De repente isso passou para a história, dado que nos últimos meses, os moçambicanos têm sido chamados - incrédulos porém apaixonados - a perceber as reais linhas com que o partido Frelimo se cose, neste particular envolvendo Filipe Nyusi e Armando Guebuza, sem dúvidas duas das principais peças na estrutura frelimista.
A avaliar pelo peso dos contendores, é fácil perceber a quantidade de seguidores que arrastam consigo, em função de ser ou não ser pró ou contra.
É desse modo que se assiste a uma tímida fissura dentro do partido libertador, cuja história nos ensinou que os problemas, quaisquer que sejam, não devem ser vazados para a praça pública.
Não é o que nos tem sido dado a perceber nos tempos que correm. Detalhes de uma reunião do Conselho do Estado são trazidos a público, idem conversas envolvendo seguidores de Nyusi e de Guebuza, o que nos leva a acreditar estarmos diante de um novo partidão, onde os moçambicanos são dados a perceber a podridão que caracteriza o até então partido uno-e-indivisível.
Mas anima perceber que a guerra em Cabo Delgado e Mariano Nhongo, em Manica e Sofala, alimentam as picardias entre Nyusi e Guebuza, este último na tentativa de culpabilizar aquele do descontrolo no eixo centro e norte daquela província.
A resposta é que não se faz esperar. Quase à letra, Nyusi se esconde na intensidade da actual guerra, ao contrário da dos 16 anos, opondo governo à Renamo.
Quem claramente parece se distanciar desta briga sem precedente é Joaquim Chissano e uns tantos, que nem sequer se fez ao Conselho do Estado, provavelmente para que não fosse mal interpretado.
Até Ossufo Momad optou pela gazeta, ele que teoricamente não está, nem tem que estar, dum e doutro lado da barricada. Momad pode ter sido aconselhado a recuar, até porque também tem os seus pobres por resolver, no seio da Renamo.
Ainda que timidamente, Ossufo Momad lá vai tentando tapar o sol com a peneira, recuperando as presenças de Ivone Soares por onde se passeia, na vã tentativa de devolver a tão apregoada união no partido de Afonso Dhlakama. Seja como fôr, insuficiente para demover Mariano Nhongo de o fazer cair e rasgar os acordos de agosto do ano transacto.
Voltando à maka Nyusi-Guebuza.
Entre os galarduados da semana passada, estão Raúl Domingos (ex-Renamo) e Eduardo Mulémbwè.
Nyusi está a precisar de apoios classificados, numa altura de cotoveladas com Guebuza, no horizonte a sucessão, diz-se em determinadas tertúlias.
Ainda no primeiro mandato, Eduardo Mulémbwè, em bom tom, defendeu a continuidade de Filipe Nyusi inclusive para lá do segundo mandato. Das peças para suster Nyusi.
Quem diria que o partidão pudesse chegar a tanto...
EXPRESSO – 28.09.2020
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