"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Autárquicas 2013: O galo cantou em Nampula   
   
 
O voto não tolera farsas. Não importa que seja um esquema novo ou velho, que seja uma delegada ou a força da polícia. A vontade dos eleitores não se pode enganar consecutivamente. E menos, se se trata de uma estratégia que navega à margem da legalidade. A abstenção, às vezes, condena os medíocres e enaltece os bravos. A Frelimo e o seu candidato perderam umas eleições marcadas por inúmeras tentativas de fraude. Cinquenta e quatro porcento dos votos para Mahamuno Amurane castigaram a governação que nos últimos cinco anos ignorou a periferia e transformou a cidade de cimento...
Nampula é desde domingo, dia do combate contra o SIDA, uma cidade nas mãos da oposição. Oitenta porcento dos eleitores não foi votar e dos que optaram por exercer o seu dever de cidadania 60.62 porcento escolheu o candidato do Movimento Democrático de Moçambique. Contudo, os dados da CNE e STAE publicados madrugada adentro indicavam, com 69 mesas contabilizadas, 54,52 porcento para o candidato do MDM e 40,56 para Adolfo Siueia. A contagem paralela do @Verdade consultou 137 mesas e encontrou uma vitória bem mais expressiva para o candidato do MDM: 60.62 porcento. Filomena Mutoropa do PAHUMO 4,92 porcento e Mário Albino da ASSEMONA 1,16.
Ao contrário dos outros pontos do país onde a oposição é poder, no contexto autárquico, na capital do norte não foi preciso derramar sangue para vingar a vontade expressa nas urnas. Os poucos residentes da urbe que votaram (menos de 15 porcento) não ficaram ao redor dos postos de votação à espera do resultado. Nessa perspectiva, os polícias dedicaram-se a estorvar o trabalho da imprensa. “Eu sou autoridade”, disse um agente nervoso ao repórter do @Verdade quando procurava dados na EPC de Namutequeliua. “A Frelimo decidiu procurar inverter a tendência de voto pela via que melhor domina. Vai ser pela via da fraude”, disse temoroso um repórter de uma das rádios comunitárias de Nampula.
A diferença de motivação resultou decisiva. Por muito que se pense que só é possível ganhar eleições com a fórmula da Beira ou Quelimane, a fiscalização feita pelos delegados e o descaso dos nampulenses foram bem mais importantes.
Incidentes
O processo ficou marcado por quatro detenções, incluindo dois vice-presidentes de assembleias de voto surpreendidos a tentar introduzir boletins para beneficiar a Frelimo e o seu candidato. Na EPC de Muecha, a vice-presidente da mesa no 03001603, Albertina Julião, introduziu votos e fez campanha nos postos de votação a favor da Frelimo e foi detida na primeira esquadra da cidade de Nampula.
Na EPC 12 de Outubro, foi detido Agnaldo Paz de Oliveira, vice-presidente de uma assembleia de voto quando tentava introduzir votos na urna para o partido e candidato da Frelimo. Está detido na Segunda Esquadra da PRM de Nampula.
Este caso junta-se a do presidente da mesa 03001802, na EPC de Beleneses, de nome Hermínio da Silva Atumane, que tentou votar com o cartão de eleitor emitido em Angoche.
Ainda no capítulo das detenções, a delegada da Rádio Índico - emissora do partido Frelimo - Yolanda Dombi, foi interpelada pela população com boletins pré-votados a favor do partido Frelimo e arrumados na sua viatura. O caso se deu na EPC de Mutaunha, onde decorria a votação. Yolanda Dombi foi conduzida à primeira esquadra da PRM, mas saiu em liberdade. A sua viatura de marca Toyota-Rav4, com a chapa de matrícula MMS-83-82, com que transportava os boletins pré-votados ficou parqueada no comando distrital da PRM, depois que estava quase a ser vandalizada pela população quando descobriu que trazia boletins pré-votados.
Contagem
Silenciaram-se os incidentes e falou a contagem. Era o momento de pôr as cartas na mesa e descobrir quem tinha sido elegido como edil pelo povo de Nampula. A retórica da força foi insuficiente pela Frelimo quando Muhamudo Amurano começou a ganhar vantagem à medida que os boletins de voto eram contabilizados, tanto na cidade de cimento como na periferia. Não houve espaço para recuperações milagrosas. O MDM e o seu candidato ganharam às eleições de Nampula e completaram um ano de glória no cenário político nacional. Glória e honra para quem desempenhou o papel mais difícil: o de disputar uma partida com o dono do apito.

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