"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



segunda-feira, 26 de março de 2018

SOBRE A DERROTA ELEITORAL DA FRELIMO EM NAMPULA



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Centelha por Viriato Caetano Dias(viriatocaetanodias@gmail.com )
A fome foi, desde sempre, a razão de mudanças sociais, de progressos técnicos, de revoluções, de contrarrevoluções. Nada influiu mais na história da humanidade. Nenhuma doença, nenhuma guerra matou mais gente. Ainda hoje, nenhuma praga é tão letal e, ao mesmo tempo, tão evitável como a fome. Martín Caparrós – A Fome, 2016, p. 10.
Existem vários ângulos para analisar um determinado problema. Cada um, com a sua lupa e perícia, pode tirar ilações que lhe convier diante de uma ou mais situações complexas. A minha conclusão, que é alimentada pela frágil mas humilde hipótese, é a de que a Frelimo foi “penalizada” nas eleições intercalares de Nampula devido à dramática situação das fomes que afecta a maioria dos nampulenses. Essencialmente, eles reclamam de fome da habitação, do emprego, da saúde, da água, do saneamento, do transporte, etc. Para os mais “novos” eleitores de Nampula, para quem a Luta de Libertação Nacional é uma ficção, a Frelimo é uma “marca registada” da pobreza no país. Eles queixam-se (e, provavelmente, com alguma razão) de uma grande nulidade de pessoas que, à custa da manigância de falsos camaradas do partido, pretendem obter estatutos de dirigentes cuja competência e quinta-essência nunca conseguiram demonstrar. 
O eleitorado não quer dirigentes “amplificadores” cuja tarefa é reproduzir discursos triunfalistas, carregados de reprimíveis palavras de bajulações, mas sim gente capaz de coalescer valores e talentos de todos os moçambicanos. Se o caminho não for esse, de inclusão desses talentos, então eu não vejo futuro nenhum para o partido. O eleitorado não está alheio aos “problemas da dívida” que, na minha percepção, foram contraídas legitimamente para a defesa da nossa soberania, e das ininterruptas e infindáveis chantagens do líder narcisista da Renamo, Afonso Dhlakama. A questão central é a ausência de dirigentes com uma agudeza de visão. Como disse Martin Luther King: “Mesmo as noites totalmente sem estrelas podem anunciar a aurora de uma grande realização.” Mas para que isso aconteça, é necessário acabar com loas, que muitas vezes servem para beatificar incompetentes e corruptos.
Penso que o presidente do partido, Filipe Nyusi, cedo percebeu isso: que nem “fanatismos, nem localismos, nem tradicionalismos inventados”, muito menos absolutismos de ideias são capazes de vencer eleições. Segundo Nyusi, que falava à margem da II Sessão Ordinária do Comité Central, a Frelimo deve apostar na modernidade. Estas palavras, a meu ver, devem ser levadas muito a sério. Perante o exposto, urge questionar: como modernizar o partido quando ainda reina algumas mentes tacanhas?
Esses camaradas de mentes retrógradas, quando são questionados sobre uma determinada acção que prejudica o partido, dizem logo que “estão a seguir os ditames de Mondlane, o arquitecto da Unidade Nacional.” Meu Deus, quanta aberração! Às vezes fico com vontade de lhes perguntar de pronto se Mondlane era pela consumpção da moral! Faço aqui um veemente apelo para que o presidente Nyusi depure o mais rápido possível esses indivíduos que não falam a linguagem refinada da Frelimo, caso contrário arrisca-se a figurar, injustamente, no “grupo dos coveiros” dos partidos revolucionários. Eu explico em “quinhentas”. Teoricamente, diz-se que, quer nas organizações como nos partidos políticos, há sempre um primeiro elemento que cria, um segundo que mantém e um terceiro que destrói. Coragem, presidente!
Quando uma determinada organização é incapaz de enfrentar e resolver os problemas, só lhe resta, ou fugir como os ratos, ou pôr as mãos à cabeça como os macacos para não ver o perigo, ou atirar-se, de alma e coração, ao trabalho, sem olhar a horas nem a sacrifícios. Esta é a grande lição de inteligência do presidente portista Jorge Nuno Pinto da Costa que deve ser seguida por todos. É preciso corrigir os erros e recolocar o partido na linha da frente.
Zicomo (obrigado) e um abraço nhúngue ao amigo Fábio.  
WAMPHULA FAX – 26.03.2018

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