"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Automobilistas suspeitam da qualidade de combustível

 
Avarias estranhas de viaturas luxuosas em Maputo.
Na cidade de Maputo, verifica-se, nas últimas semanas, casos descritos como estranhos de paragem, na via pública, de viaturas ligeiras movidas à gasolina, devido a avarias que se supõe estejam relacionadas com a qualidade da gasolina disponível nos postos de abastecimento. Na sequência do fenómeno, uma investigação efectuada pela nossa equipa de reportagem apurou que, em menos de um mês, cerca de 50 viaturas, na sua maioria de marca Mercedes Benz e Peugeot, deram entrada nas oficinas do Entreposto Comercial devido a problemas ligados à bomba de combustível. o mesmo fenómeno regista-se, para além de outros agentes, na TECNICAR, agentes das viaturas de Marca VW e Audi, onde, segundo fontes bem colocadas, nas últimas semanas, uma média de quatro viaturas dá entrada, por dia, nas oficinas daquela agência, devido a problemas similares.
O chefe das oficinas do Entreposto Comercial de Maputo, assim como o da TECNICAR, não aceitaram prestar declarações à nossa equipa de reportagem, por, alegadamente, carecerem de autorização das direcções das suas empresas.
No entanto, a situação das avarias atingiu contornos dignos de registo, de tal forma que empresas que se dedicam ao trabalho de reboque de viaturas na cidade de Maputo já se aperceberam.
Sandra dos Santos, da Auto Sadula, revelou à nossa reportagem que, nas últimas semanas, tem rebocado, em média, quatro viaturas para as oficinas, na sequência da paragem de funcionamento do motor que, depois, se apura estar ligada à avaria da bomba de gasolina, decorrente da qualidade do combustível. A fonte acrescentou que as viaturas modernas e sensíveis à qualidade de combustível é que, frequentemente,  registam estes problemas.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Moçambique entre os seis piores na África Austral

 

Índice de Boa Governação-2012.
Na categoria de Segurança e Estado de direito, por exemplo, o país está na 17ª posição, tendo descido dos 63 para 53 pontos. No desenvolvimento humano, está no 35º lugar; assistência social, na posição 46. Esta fundação decidiu ainda em não atribuir o Prémio Mo Ibrahim para a Excelência na Liderança africana.
Moçambique está entre os seis piores países no índice de boa governação na África Austral, segundo o ranking divulgado ontem pela Fundação Mo Ibrahim.
O índice de Boa Governação da Fundação Mo Ibrahim avalia nos 52 países do continente africano o desempenho do respectivo executivo nas áreas de segurança e estado de direito, participação e direitos humanos, desenvolvimento económico equilibrado, grau de implementação de políticas e programas de desenvolvimento, para além da inclusão da sociedade no processo.
Na categoria segurança e estado de direito, por exemplo, o país está na 17ª posição, tendo descido dos 63 pontos para 53. Na participação e direitos humanos, em 25º lugar. No quadro do ambiente comercial, está na 28ª posição; desenvolvimento humano, no 35º lugar; assistência social, na posição 46; e em 39º lugar no acesso à educação.
Com a conjugação destes pontos, a fundação diz que Moçambique registou, a nível global, melhorias e está agora na 21ª no ranking global do Índice, mas a pontuação abaixo da média na região, torna-o um dos seis piores ao nível dos países da África Austral.
A lista dos 10 melhores países em boa governação conta com sete países da África Austral, e é liderada pelas Ilhas Maurícias, seguidas por Cabo Verde, Botswana, Ilhas Seychelles, África do Sul, Namíbia, Gana, Tunísia, Lesotho e Tanzania, que formam o top 10. Ao nível da região, Moçambique só está melhor posicionado que Angola, Madagáscar, Zimbabwe, Swazilândia e República Democrática de Congo.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Relações entre tribunais e polícia cada vez mais tensas

 
Guerra entre agentes da administração da justiça?
Os tribunais reclamam de forma sistemática que a polícia não tem acatado as suas decisões. A PRM também anda “zangada” com os tribunais, por entender que mandam soltar criminosos. O Ministério Público aparece sempre como o mediador do conflito...
Embora sejam instituições complementares, no quadro da administração da justiça em Moçambique, há cada vez mais casos conflituosos entre a Polícia da República de Moçambique, os tribunais e a Procuradoria.
O caso mais recente envolveu o Tribunal Judicial da Cidade de Maputo e a PRM ao nível do Comando Geral, quando a instância judiciária teria ordenado a devolução de um número considerável de viaturas apreendidas pela polícia na sua operação contra a onda da raptos que se verificam na capital do país, tendo a PRM se escusado a executar tal decisão do tribunal.
Aliás, a PRM só aceitou devolver as viaturas depois da intervenção da procuradoria ao nível da cidade, por esta ter ameaçado processar a corporação pelo crime de desobediência.
Como é que a história começa?
A história começa nos meados do presente ano, quando a onda dos crimes de raptos se agudiza na cidade de Maputo. No quadro das suas operações, a Polícia da República de Moçambique apreendeu, nessa altura, um número considerável de viaturas, pertencentes ao grupo REMIX Property, da família Nini Satar.
Na ocasião, o grupo de Nini, inclusive, foi transferido da Brigada Operativa, vulgo B.O, para as celas do Comando da Cidade de Maputo, também para ser investigado no quadro da operação policial.
O caso de apreensão de viaturas deu entrada no Tribunal Judicial da Cidade de Maputo, na Secção de Instrução Criminal. Porém, ainda na instrução preparatória, o tribunal não viu elementos probatórios convincentes para a apreensão dos referidos carros, tendo, portanto, ajuizado a favor da família Nini, ordenado desta feita a sua devolução imediata.
O tribunal diz que “não encontrou elementos probatórios do envolvimento do principal indiciado, Carlos Covane, e outros comparsas seus no crime de rapto, sendo que o motivo fundamental da apreensão das viaturas é o envolvimento de Covane nestes crimes, já que os carros estavam em seu nome”, lê-se no despacho exarado pelo tribunal. Ou seja, as viaturas foram apreendidas pela polícia simplesmente porque estavam em nome de um indivíduo suspeito de crime de rapto. Não havendo provas do seu envolvimento, obviamente, o tribunal tinha que ordenar a devolução das viaturas, decisão não acatada pelos agentes da Lei e Ordem.
No entender do tribunal, as viaturas só podiam ser apreendidas se, efectivamente, houvesse provas factuais de que foram usadas para a prática de crimes de rapto e não o suposto envolvimento do seu dono. Aliás, o Código do Processo Penal do nosso país diz que só se pode apreender os instrumentos do crime na fase de instrução do processo e não os bens que se supõe - sem provas - que tenham sido usados como tal. Para além disso, não se pode apreender bens que, sem provas, se suponha resultem de actividades ilícitas, mesmo que o seu proprietário se tenha envolvido em actos criminais com provas evidentes.
Ainda de acordo com o CPP, os bens de um criminoso podem ser apreendidos caso haja uma sentença transitada em julgado,  e que a mesma condenação requeira uma indemnização e tais bens serem necessários para o efeito, e não foi o que aconteceu desta vez.
Diante destes factos, o Tribunal da Cidade de Maputo ordenou, através de despachos datados de 13 e 22 de Agosto, a devolução das viaturas aos seus legítimos proprietários, sendo que a polícia não o fez dentro do prazo que se estabelecia.
No dia 14 de Setembro, a Procuradoria Geral da República emitiu um despacho no qual exigia à polícia que respeitasse a decisão judicial. O despacho, assinado pela procuradora-chefe, Maria Machava, recorda a Polícia sobre o conteúdo do artigo 215 da Constituição da República, segundo o qual “as decisões dos tribunais são de cumprimento obrigatório para todos os cidadãos e demais pessoas jurídicas, e prevalecem sobre as outras autoridades”.

Guebuza remodela Governo e troca Aires Ali por Alberto Vaquina

Uma semana após o X Congresso.
O presidente da República, Armando Guebuza, fez ontem “mexidas” de vulto na composição do seu Executivo, exonerando ministros, incluindo o primeiro-ministro, Aires Ali, vice-ministros e governadores provinciais, e nomeando, para os mesmos cargos, novos elementos.
Muitos dos exonerados passaram a ocupar outras posições no executivo central, com a excepção do primeiro-ministro, Aires Ali, do ministro da Juventude e Desportos, Pedrito Caetano, do ministro da Educação, Zeferino Martins e do ministro da Ciência e Tecnologia, Venâncio Massingue, que deixam, definitivamente, de fazer parte dos governos quer central como provinciais.
Dos governadores provinciais, nota-se o “afastamento” definitivo de Felismino Tocoli, que ocupava o cargo de governador de Nampula, ora detido pela estreante Cidália Chaúque. Trata-se da primeira exoneração neste segundo mandato de Guebuza.
A grande novidade para as nomeações de ontem vai para a ascensão inesperada de Alberto Vaquina, de governador de Tete para o cargo do primeiro–ministro, em substituição de Aires Ali, que, curiosamente, cai 10 dias depois de não ter conseguido votos para entrar na Comissão Política do partido, sem que seja por inerência de funções. Este foi, na verdade, o primeiro sinal que Ali recebeu do partido, um claro voto de desconfiança.
Nessas mexidas, não deixa de constituir novidade a subida de Carvalho Muária, até então governador de Sofala, que passa a ocupar a posição do ministro do Turismo, substituindo Fernando Sumbana Jr., que passa para o cargo do ministro da Juventude e Desporto. Sumbana substitui Pedrito Caetano que deixa de fazer parte do executivo.
É segunda vez que Sumbana ocupa este cargo, uma vez que, em 2009, quando David Simango, actual edil de Maputo o renunciou para concorrer à presidência do município da capital do país, o Presidente da República nomeara-o para o mesmo em acumulação com o cargo de ministro do Turismo.
Por seu turno, Carvalho Muária havia sido nomeado vice-ministro das Obras Públicas, mas viria a ser indicado para o cargo de governador de Sofala, em substituição temporária de Maurício Vieira, que se encontrava doente. Após a morte de Vieira, Muária viria a ser confirmado governador de Sofala. Hoje, regressa a Maputo como ministro do Turismo.
No mesmo despacho de ontem, o Presidente da República nomeou Augusto Jone, antigo vice-ministro da Educação, para o posto do ministro do mesmo ministério, sacrificando Zeferino Martins, até então titular da pasta. A solução foi encontrada dentro da instituição. Para ocupar a vaga deixada por Augusto Jone, Guebuza foi buscar Francisco Itai Meque, que era até ontem governador da província da Zambézia.
Na Ciência e Tecnologia, o Chefe do Estado exonerou Venâncio Massinga, nomeando, para o seu cargo, Louis Augusto Mutomene Pelembe.
Pelas exonerações de Carvalho Muária, Felismino Tocoli, Alberto Vaquina e Itai Meque, haviam sido abertas vacaturas. E, por conseguinte, o Presidente da República foi ao partido buscar Cidália Chaúque, Félix Paulo, Ratxide Abdala Ackyiamungo Gogo e Joaquim Veríssimo para os cargos de governos provinciais de Nampula, Sofala, Tete e Zambézia, respectivamente.
Joaquim Veríssimo é, actualmente, deputado influente pela bancada parlamentar da Frelimo, círculo eleitoral de Sofala e membro da Comissão Permanente.
Ratxide Gogo, 52 anos,  é  engenheiro mecânico de formação, docente na Faculdade de Engenharia da Universidade Eduardo Mondlane. Antigo estudante das escolas da Frelimo, Gogo é, actualmente, assessor da bancada parlamentar da Frelimo e foi director da Administração e Património da UEM, nos tempos de Brazão Mazula, como reitor, e director-geral adjunto do STAE, de 1999 a 2004.
Cidália Chaúque é, actualmente, deputada da Assembleia da República pela bancada parlamentar da Frelimo, desde 1999 e membro da Comissão Permanente. É, igualmente, funcionária do Ministério das Finanças e membro do Secretariado Nacional da Organização da Juventude Moçambicana (OJM) durante 12 anos. Na sua história, já foi membro do Comité Central por um mandato.
Quem é Vaquina?
Alberto Vaquina é um médico de carreira, formado em Portugal. Natural de Nampula, licenciou-se em 1992, em Medicina, pelo Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar da Universidade do Porto e trabalhou nos hospitais de Santo António, do Porto, e de S. José, em Lisboa.
Tem ainda uma pós-graduação em Clínica das Doenças Tropicais no Instituto de Higiene e Medicina Tropical, da Universidade Nova de Lisboa.
Depois de tantos anos em Portugal, em 1996, regressa a Moçambique, tendo trabalhado como médico na província de Nampula e, de 1998 a 2000, foi director provincial de Saúde em Cabo Delgado.
Em 2005, foi nomeado para o cargo de governador de Sofala, cargo que ocupou até princípios de 2010, ano em que foi nomeado governador da província de Tete.

domingo, 7 de outubro de 2012

Dhlakama e Raul Domingos podem estar a caminho da reconciliação

Manuel de Araújo aparece como intermediário.
Durante as celebrações do dia da Paz, as duas figuras trataram-se de forma diferente: vários apertos de mãos, abraçaram-se longamente e trocaram números de telephones.
O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, e o presidente do Partido para Paz, Democracia e Desenvolvimento (PDD), Raul Domingos, podem estar em vias de reconciliação, volvidos mais de 10 anos em que este último foi expulso da Renamo, alegadamente por ter facilitado a derrota do partido, nas eleições gerais de 1999.
Desde aquele período, nunca mais se viram encontros públicos entre Afonso Dhlakama e Raul Domingos. Entretanto, semana finda, por ocasião da inauguração da Praça da Paz em Quelimane, viu-se uma mudança de atitude por parte dos dois líderes.
O edil de Quelimane, Manuel de Araújo, convidou o antigo chefe da delegação da Renamo nas negociações de paz de Roma, Raul Domingos, e o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, para testemunharem a inauguração da infra-estrutura alusiva à paz e que homenageia o fim do conflito que “derramou sangue” no país durante 16 anos.
O reencontro
Durante a cerimónia, mais do que celebrar a paz que representa o 4 de Outubro, os líderes da Renamo e do PDD, que antes pertenceram ao mesmo partido - a Renamo - trataram-se de forma diferente de como procederam nos últimos mais de 10 anos: vários apertos de mãos; abraçaram-se longamente e trocaram números de telefones.
Esta atitude vem quebrar o ritmo de como vinham as relações, num contexto em que quase nunca se tratavam de forma cordial, como aconteceu em Quelimane, no encontro facilitado por Manuel de Araújo, também antigo membro da Renamo.
Refira-se que nem o partido de Raul Domingos nem o de Afonso Dhlakama registam crescimento, desde que os dois líderes se separaram. Pelo que, ainda que uma união não lhes traga benefícios, também é verdade que não lhes prejudicará.
O PDD, actualmente com apenas dois membros na Assembleia Provincial, no caso a Assembleia Provincial de Mocuba, na província da Zambézia, e a Renamo, que outrora elegeu mais de 100 deputados, actualmente não tem mais de 50. Por outro lado, não restam dúvidas de que a saída de Raul Domingos e de Daviz Simango da Renamo fragilizou, em grande medida, o partido.
Ora, depois da inauguração da praça da Paz, em Quelimane, Afonso Dhlakama voltou a estar, publicamente, à mesma mesa com Raul Domingos, no Paços do Conselho Municipal da Cidade de Quelimane, onde o líder da Renamo proferiu uma palestra bastante concorrida por estudantes, funcionários públicos e intelectuais, subordinada ao tema “Perspectivas e Desafios da Manutenção da Paz em Moçambique”.
 Falando ao “O País”, Raul Domingos referiu que “o reencontro com Dhlakama em Quelimane significa um espírito de paz, de concórdia e reconciliação nacional”. Dado que Raul Domingos e Afonso Dhlakama nunca estiveram em conflito armado, o líder do PDD só pode estar a referir-se à “reconciliação” política entre si e o líder da Renamo, depois da sua separação, que o levou a fundar o PDD. Aliás, o presidente do PDD explicou, ainda, que tem mantido frequentes conversações com os membros da Renamo. “Nunca deixei de falar com os meus ex-colegas, do mais baixo nível até à liderança. Conversamos sem remorsos nem ressentimentos”, disse. Raul Domingos revelou, ainda, que dos 20 anos que esteve na Renamo, guarda boas memórias.
Os abraços entre aquelas duas figuras chegou a merecer uma salva de palmas no comício popular havido em Quelimane, alusivo ao dia da paz.

Moderado - Comentario sobre a suposta manifestação da Remano de 30 de Outubro

ModeradoO problema é que Dhlakama nunca acerta numa data certa.Diz até ao dia 30.Até lá faltam sensivelmente,25 dias.Se ele quer manifestação geral a força uma vez que já vem falando nisso desde há muito,pois que marque a data e a hora e inclusive,ponha a sua máquina logística a trabalhar nesse sentido,marcando os pontos de concentração,o percurso etc etc.Não atire pedras no ar que ninguém as vai apanhar.Não queremos imitar os de Magreb porque já fizemos 20 anos de Paz dos 16 anos de guerra embora essa mesma guerra nos tenha trazido a liberdade de muito a que estávamos acorrentados pelo medo imposto pelas SNASPs,grupos dinamizadores e outros ditos "revolucionários".Agradecemos a Dhlakama essa vitória,sem qualquer dúvidas.Agora é preciso que nos libertemos do jugo frelimista que afinal de libertadores,passaram a opressores com a sua ainda política da intimidação a quem não seja por eles.Mas Dhlakama pode vencer esta "batalha" se for mais objectivista e queira ou não,tem de se aliar aos demais opositores e não lhes chamar de miúdos.Eles não aprenderam com a Renamo e tanto é que estão pouco a pouco,conquistando o que a eles (Renamo) vão perdendo.Acredito que terá muita gente a aliar-se a essa manifestação e desde que seja do mais pacífico possível.,sem desordens seja como for mesmo que provocados por Polícias a mando do governo.Se quiserem prender,pois que prendam e que o povo todo se dirijam as cadeias numa clara demonstração de apoio aos que forem detidos.Nelson Mandela ficou a vida dele praticamente encarcerado mas conseguiu o que sempre quis,a Liberdade do seu Povo.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Presidente de Moçambique elogia líder da Renamo por contribuir para manutenção da paz há 20 anos

04 de Outubro de 2012, 20:35

Maputo, 04 out (Lusa) - O Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, elogiou hoje Afonso Dhlakama, líder da Renamo, principal partido da oposição,"pela forma como tem contribuído para a consolidação da paz em Moçambique", um país que a ONU qualifica como "maduro".
Discursando na cerimónia central dos 20 anos de paz, o chefe de Estado moçambicano qualificou o líder da Renamo um "parceiro dos acordos de Roma", após 16 anos de conflito armado, que ceifou um milhão de vidas e forçou cerca de quatro milhões a refugiarem-se nos países vizinhos.
"Queremos saudar também o senhor Afonso Dhlakama, líder da Renamo, pela forma como tem contribuído para a consolidação da paz em Moçambique. Ele tem dado a sua contribuição como parceiro dos acordos de Roma, reafirmando perante os membros do seu partido, perante toda a sociedade moçambicana e ao mundo que o conflito armado é contrário ao progresso, à democracia multipartidária e ao futuro melhor que queremos para nós e para as gerações vindouras", disse Armando Guebuza.

“Os dois anos e meio das negociações foram muito difíceis para mim”

Afonso Dhlakama
Afonso Dhlakama diz que o balanço dos 20 anos de paz é negativo.
A partir da província da Zambézia, onde se encontra de visita, o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, faz uma análise do Acordo Geral de Paz e reitera que à guerra não volta mais.
Como é que foi o período de negociação até chegar ao acordo de paz?
Recordo-me que foram dois anos e meio de negociações em Roma e aquilo foi muito difícil. Difícil porque, na altura, o governo moçambicano não queria reconhecer a Renamo, queria que a Renamo depusesse as armas e que Dhlakama e seus guerrilheiros fossem reintegrados, sem negociarmos uma agenda política. Em face disso, obrigámos a Frelimo para retornarmos às negociações políticas, um processo que levou dois anos e meio até à criação dos protocolos. Cada protocolo definiu a pretensão de cada uma das partes sobre os destinos de Moçambique. Nós, a Renamo, queríamos democracia multipartidária e que, depois, tivéssemos eleições livres e transparentes, justiça, direitos humanos, economia do mercado, liberdade de circulação e religiosa, entre outras. foi duro, mas valeu a pena a demora das negociações - foram dois anos e meio -, pois, por isso, até hoje temos esta paz.
Dois anos e meio de negociação da paz, porquê? Alguma coisa falhou neste processo?
Não. Em termos de negociação, nada falhou. foram dois anos e meio porque nós exigíamos que as negociações fossem sérias. Não seria bom que as negociações da paz em Moçambique fossem como acontece com os outros países, onde negociam para satisfazer a vontade de mediadores, cessam-fogo hoje e, volvidos dois dias, regressam às matas. Ora, nós queríamos que a Frelimo aceitasse o fim da guerra numa condição de entrada de multipartidarismo em Moçambique. Também queríamos que a Frelimo aceitasse a criação de um exército único, apartidário, técnico com parte dos guerrilheiros da Renamo e as tropas do governo. Queríamos que se acabasse com guia de marcha, aldeias comunais, a lei de pena de morte e tudo aquilo que fosse política de comunismo. A Frelimo acabou por aceitar porque, quando tentasse fazer manobras no interior, mandava a minha ofensiva militar, daí que ficava com medo e acelerava o processo.
Volvidos 20 anos, que balanço faz da paz em Moçambique?
 É negativo. Foram 20 anos de sacrifício e da pior vida do que a que vivemos no período da guerra dos 16 anos. Foram 16 anos de luta com armas e 20 anos de calar das armas. Entretanto, em termos de perseguição, sofrimento e escravidão, os 20 anos foram duros. Já imaginou alguém como Dhlakama a assinar acordo com Chissano para, depois, ser excluído de tudo e ser atacado fisicamente, incluindo os seus seguranças, pelas forças policiais a mando da Frelimo. Já fomos atacados em Marínguè no ano passado, e, no dia oito de Março, em Nampula. Vou contar-lhe um episódio: durante a campanha para as eleições de 2009,  quando estive em Mandimba, no Niassa, entrei num restaurante e o proprietário veio até a mim e retirou-me do seu espaço, alegando ter instruções para o efeito. Será que estamos em paz? 
Fala-se de nova ordem política na Renamo, porquê?
Eu não gostaria de assustar as pessoas, porque jurei que jamais haverá guerra iniciada pela Renamo. nós vamos fazer manifestação pacífica como forma de pressionar a Frelimo. O limite para o efeito é até ao dia 30 de Outubro. Se a Frelimo aceitar negociação para assinar acordos que ponham termo os abusos, de facto, tudo será tranquilo. Mas se até ao dia 30 não houver nenhuma indicação positiva no seio da Frelimo, vamos, efectivamente, manifestar, fechar todas as linhas-férreas, aeroportos, estradas e tudo, e ninguém pode tentar intervir. Se mandarem a Força da Intervenção rápida, vou ordenar a segurança da Renamo para esmagar todos. Não sou belicista, mas de paz. A Frelimo fala da reconciliação, unidade nacional e boa governação todos os dias, mas o que faz é um autêntico terrorismo (...).
O discurso de manifestação não é novo...
Comecei com este discurso logo após de resultados eleitorais de 2009, antes do Egipto e a Líbia, que copiaram o meu discurso. Eu cheguei à conclusão de que África não precisa de pegar em armas para matar, é só manifestar e fechar todos os pontos estratégicos. Se assim procedermos, o governo será obrigado a resolver os problemas. É por isso que já formei seis homens para negociarem com os ministros da Frelimo.
Sente que os acordos de Roma não estão a ser cumpridos?
Pelo amor de Deus, não há nenhuma coisa que está a ser cumprida.... 
Algumas correntes contestam o facto de o líder da Renamo ter homens armados, é legal a sua força?
São estas correntes que não percebem nada. sinto muito quando vejo figuras académicas a falar disso. O acordo de paz diz que a Renamo deve ter a sua segurança, que é composta por guerrilheiros que combateram durante a guerra. está escrito que o desaparecimento desta segurança vai depender do cumprimento, por parte de governo, que tinha como obrigação despartidarizar a polícia, de modo a que a Renamo e outros partidos emergentes se sentissem à vontade. mas a Frelimo, até hoje, não faz nada. Eu estou disposto a entregar a minha força para integrar uma polícia apartidária.
Sente que há falta de compromisso nos acordos de Roma?
Sim, porque a Frelimo não está cumprir nada daquilo que assinou. Se eu quisesse vingar-me já em 1994, teríamos acabado com a paz, o que não seria bom para o país, porque a guerra não faz bem a ninguém. E se eu responder, todos os investimentos vão fugir e eu não quero fazer isso.
Que tem a dizer sobre as recentes conversações que manteve com o chefe do estado, Armando Guebuza, em Nampula?
Não surtiram efeitos e espero que o desfecho seja urgente.
Para terminar, o líder da Renamo é pela paz? 
Sim, sou pela paz e não pretendo voltar a pegar em armas.

“Durante dois anos em Roma só almocei uma vez com Guebuza”

 
Um olhar sobre o passado com o negociador Raul Domingos.
O antigo chefe de relações exteriores da Renamo e chefe da delegação nas negociações de Roma diz que havia poucas oportunidades para “um social” com a delegação do Governo. Só houve uma ocasião, e essa, por sua iniciativa.
Qual é a sua opinião sobre o estágio da paz 20 anos depois?
20 anos depois, a paz que temos é uma paz do calar das armas. É aquilo a que chamo paz militar. É o que estamos a viver ao longo destes 20 anos. Tenho receio de dizer que Moçambique está efectivamente em paz. Prefiro dizer que estamos apenas num tempo depois do calar das armas. Estamos na possibilidade de uma convulsão social ou política, porque não estão a ser respeitados muitos aspectos, quer do Acordo de Paz, quer da constituição. Basta olhar para o que acontece em cada eleição quanto ao nível de participação dos eleitores. Perguntamo-nos: por que em 1994 as pessoas se interessaram por eleições, e agora não? Estamos a falar de um partido dominante que, do ponto de vista legal, o é porque tem o Parlamento, o Executivo, tem nomeado quase todos os membros do judiciário, mas esse partido, do ponto de vista de legitimidade, é eleito pela minoria. 80% da população não vai votar e não sabemos por que esta população não está a votar. Isto significa que, um dia destes, podemos acordar com um 5 de Fevereiro ou 1 e 2 de Setembro.
É mais difícil manter a paz do que fazer a guerra...
A paz, tal como o poder, faz-se com o simbolismo. É por isso que vemos pessoas vestidas de branco, soltam pombos nas celebrações. No caso da oposição e do partido no poder, por que nunca os vemos juntos nas praças no dia 4 de Outubro? Que mensagem os mentores da paz estão a lançar para a sociedade? O simbolismo desta paz militar é a constituição das FADM. O simbolismo que existe é ao nível de discursos, mas a materialização destes discursos ainda é uma miragem. O meu apelo é que, ao celebrarmos os 20 anos da Paz, os jovens peguem nesses discursos e os tornem materializáveis.
Levando-nos de volta a Roma,  para o período das negociações, como é que era a convivência entre as delegações que se encontravam nas negociações?
Em Roma não tivemos muitas ocasiões para convívio, mas há um aspecto que tentámos cultivar, que era o informal. Para além do momento formal com os mediadores, observadores e a imprensa, nós desenvolvemos um momento informal, no qual trocávamos ideias e opiniões longe dos  media e da imprensa. Eu próprio e o chefe da delegação do Governo promovíamos debates sobre aquelas coisas que não havia consensos, para que, de uma forma informal, sem compromissos, sem pressão da imprensa e de observadores, encontrássemos soluções. e por vezes encontrávamos. Chamávamos a isto o cultivar de uma confiança mútua.
Vamos falar de um outro informal... Havia momentos em que as duas delegações privavam, saíam juntas a um café, um jardim ou mesmo conversar e confraternizar?
Para ser franco, eu recordo-me apenas de um almoço entre os dois chefes de delegações. Foi uma iniciativa minha que os mediadores consideraram-na muito ousada. Garanti que o senhor Armando Guebuza havia de aceitar, e, por acaso, aceitou. Estávamos acompanhados pelos membros das nossas delegações. eles ficaram numa mesa e eu e o chefe da delegação da Frelimo estivemos numa outra. Era esta uma forma de procurarmos aproximação.
Onde é que aconteceu esta conversa informal?
Lá na Comunidade Santo Egídio havia um espaço que estava consagrado para isso.
Há quem diga que a maioria das decisões que corporizaram o Acordo Geral de Paz de 4 de Outubro de 1992 foi conseguida nos corredores e não na mesa das negociações como tal. Confirma a informação?
 
Dom Jaime, arcebispo emérito da Beira, faz-nos voltar ao passado e desvenda os bastidores da paz no país.
“O País” traz, nesta edição, uma entrevista com Dom Jaime,  arcebispo emérito da Arquidiocese da Beira. Dom Jaime foi um dos principais negociadores da paz de que desfrutamos há 20 anos .
O que teria levado a igreja católica a envolver-se na procura de paz para Moçambique?
A Conferência Episcopal de Moçambique entendeu que a resistência liderada pela Renamo incitava os moçambicanos à revolta, expandido por todo o país a guerra civil ou de desestabilização, como queira, isto a partir do início da década 80. Esta resistência contava com o apoio de forças internas, neste caso, os próprios moçambicanos, e externas. Estou a referir-me àquele grupo de países ou pessoas que pretendiam criar a chamada África branca, ou seja, os que não consentiam ligação com países comunistas.
Podemos voltar à intervenção da igreja católica no processo de paz em Moçambique?
A guerra civil foi ganhando consistência, expandia-se pelo país todo e a nossa sociedade estava a ser destruída. A segurança dos cidadãos tornou-se problema tanto nas cidades assim como nas zonas rurais. A unidade nacional era uma cantiga, e o governo da Frelimo tinha perdido  o controlo da soberania nacional, pois, aos poucos, a Renamo ia controlando um vasto território nacional, onde o governo revolucionário não tinha nenhum poder. Era um governo descontrolado, com uma soberania dividida e com matanças e choros por todos os lados. Para a nossa felicidade, a Frelimo reconcilia-se com as instituições religiosas em 1982. Foi um grande abertura para os caminhos da paz.
Mas onde e quando entra a igreja católica no processo de paz?
Bem, tanto a Igreja Católica como o Conselho Cristão de Moçambique defendiam junto do governo a política de reconciliação para com a resistência. Dado o nosso insucesso, a Conferência Episcopal de Moçambique criou, em 1987, duas comissões. Uma tinha a responsabilidade de continuar a escrever cartas pastorais, que era a forma mais  comum para nos comunicarmos com o resto dos moçambicanos, e a outra comissão teve a missão de procurar a Renamo, para lhe dizer que a solução das suas apreensões não seria com recurso a tiros, mas sim com o diálogo. Eu, que era o presidente da comissão de justiça e paz, passei a chefiar a segunda comissão, e, portanto, fiquei com a responsabilidades de procurar a Renamo, juntamente com o então cardeal da cidade de Maputo, Dom Alexandre.
Como localizou a Renamo, tendo em conta que estava nas matas?
  Não foi fácil. Decidimos começar por procurar os seus representantes fora do país. percorremos Tanzania, Malawi, Quénia, Portugal, Itália e até Estados unidos da América durante um ano, sem sucesso. Importa referir que, numa das minhas viagens à busca do representante da Renamo em Portugal, que  na altura era o já falecido Ivo Fernandes, fui abordado por um político muito desenrascado, o Máximo Dias, que me convidou para um restaurante onde a iluminação era ténue. Acredito que ele estava com medo. Acabei aceitando o convite, e ele disse que estava a representar Ivo Fernandes. Por desconfiança, não abordei a minha preocupação. Limitámo-nos a tomar um chazinho e abordámos a questão da Renamo de forma muito superficial. Na mesma altura, Dom Alexandre estava nos estados Unidos da América à procura de Artur Vilanculos, que era representante da Renamo, mas sem sucesso. Artur Vilanculos orientou-lhe a procurar o governo do Quénia. Já no Quénia, Dom Alexandre foi orientado pelo executivo do então presidente Arap Moi a retornar àquele país com mais pessoas, se efectivamente estava interessado em encontrar -se com a Renamo.
Como é que vai a Gorongosa?
Em Novembro de 1988, saí da Beira rumo a Lesotho. De Lesotho parti numa avioneta com destino desconhecido. Saímos às 15h00 e só chegámos às 18h00 ao destino. Já no ar, um jovem piloto perguntou-se se sabia qual era o meu destino. Apenas afirmei que ia ao encontro de Afonso Dhlakama. Ele pôs-se a rir e, sinceramente, nunca entendi. Aterrámos numa pista deserta e, no fundo da mesma, estava um outro avião relativamente maior. O meu jovem piloto disse: “Senhor Arcebispo, entre naquele avião”. Entrei, e dentro do avião havia apenas um pequeno espaço para eu me sentar. Estava tudo ocupado com mantas, bebidas, alimentos de diversa natureza. Cerca das 19h00, saímos na mesma escuridão.
Qual era o destino?
Apenas disseram-me que íamos a Gorongosa. Durante 30 minutos, o avião sobrevoou o mar e, de repente, fez um desvio. Lembro-me que foi num dia de lua cheia, e, como o avião estava a voar à baixa altitude, notei que, gradualmente, estávamos a entrar em florestas cada vez mais densas. Aterrámos numa pista onde vários guerrilheiros empunhavam tochas em fila nas extremidades da pista a fim de facilitar a aterragem do avião. Minutos depois, ouvi o roncar de uma moto de grande cilindragem. Era Afonso Dhlakama. Todo sorridente, jovem na altura, esticou a sua mão e disse: “Boa noite senhor Bispo. Respondi, todo trémulo. Virou-me as costas e vi-o a dialogar com os seus guerrilheiros. Não entendi nada, nem me preocupei. Retornou ao meu encontro e ordenou-me que fosse com ele na moto, tendo de seguida me pedido para lhe segurar bem. Fi-lo, pois não estava interessado em cair. Arrancámos e seguimos um caminho em zigue-zague no meio de muitas árvores. Cerca de 10 minutos depois, chegámos a um local onde havia muito mais guerrilheiros e várias fogueiras. Em redor, diversas infra-estruturas destruídas e equipamento bélico destruído. Dhlakama levou-me a um alpendre feito de capim e barro, também com uma fogueira no meio. Não havia energia.
Como o encarou?
Eu estava aflito, não sabia como iniciar a conversa. Não sabia como ele reagiria à nossa proposta de diálogo, de negociações à busca de paz. Para a minha felicidade, foi ele mesmo que iniciou a conversa para o lado que eu pretendia. Perguntou-me se eu tinha notado a destruição em redor, e respondi que sim. Perguntou-me se a luz eléctrica não me fazia falta, também respondi sim. Depois disse-me que não tinha comida, muito menos um café para me servir, porque não havia. Dhlakama disse: “Estamos a sofrer e cansados desta guerra. Queremos dialogar com a Frelimo e pedimos a mediação da igreja”. Respirei de alívio. Estava dado o primeiro e importantíssimo passo rumo à paz em Moçambique. Discutimos as condições, que passavam necessariamente pela escolha do local das conversações e as pessoas que estariam envolvidas no processo. Ficou acordado que o encontro seguinte seria em Nairobi, em Fevereiro de 1989. Parti de regresso a Beira, via África de Sul, quando eram cerca de duas horas de madrugada.
No encontro de Nairobi, Dhlakama apareceu?
Não, mas os seus representantes estavam lá. Importa referir que, depois do primeiro contacto com Dhlakama, o presidente Alberto Chissano dispensou a Igreja Católica no processo e envolveu de forma directa os seus homólogos do Zimbabwe e do Quénia. Sei que, no encontro de Fevereiro, nada de concreto foi acordado. Foi agendada uma outra reunião para Agosto do mesmo ano. Também não trouxe bons resultados. Robert Mugabe chateou-se, porque estava a gastar muito dinheiro, sem sucesso, e pediu ao presidente Chissano para voltar a convidar a igreja católica para estar no processo. Retornámos, e mesmo sem ser diplomatas iniciámos uma séria de diplomacia no sentido de convencer a Renamo a avançar com as negociações sem desconfiar. Mas acontece que o presidente Chissano estava a mostrar resistência para o início das negociações.
Como conseguiram convencer o presidente Chissano?
Usámos diplomacia que ele não entendeu. Fui à Itália e pedi ao Vaticano, assim como ao governo italiano, para aproximarem ao então presidente norte -americano Jorge Bush(pai), no sentido de apelar ao nosso presidente a dialogar com a oposição. Como os EUA são uma potência mundial, acreditámos que o apelo de Bush seria uma especial ordem para Chissano. Funcionou. O presidente Chissano anunciou, a partir de Washington, em finais de 1989, que estava aberto ao diálogo.
E como a Renamo reagiu?
De forma satisfatória, mas levanta-se, então, um outro problema. O local das negociações. A Frelimo propôs  Malawi; a Renamo recusou, alegando que a SNASP circulava à vontade naquele país, o que seria um risco para ela. A Renamo propôs Portugal; a Frelimo recusou, alegando que havia muitos descontentes que fugiram de Moçambique e que as negociações seriam minadas. A igreja voltou a entrar em cena. Fomos pedir socorro ao Vaticano e foi identificada a Comunidade de Santo Egídio.
Constou-nos que Afonso Dhlakama esteve na Comunidade de Santo Egídio, antes do inicio  das negociações?
Esteve, realmente, em Fevereiro de 1990. E agora recordo-me de um episódio que criou muito embaraço. Afonso Dhlakama não tinha passaporte. Foi muito difícil fazê-lo viajar, mas a comunidade de Santo Egídio usou as suas influências junto do governo italiano e conseguiu-se um documento para ele viajar dentro da Itália e noutros pontos da Europa.