01/05/2019
Por André Thomashausen
Nas cerimónias fúnebres de Dhlakama a decorrer ontem, dia 9, no campo desportivo do Ferroviário da Beira, bem como em todo o território nacional, rezam pela sua alma e choram pela sua morte prematura mais de oito milhões de moçambicanos.
As imagens testemunhas do amor e da lealdade de uma metade dos moçambicanos pelo homem que derrotou o monopartidarismo em Moçambique são abundantes. Para eles, Dhlakama será sempre o pai da democracia e o nosso pai.
Quando encontrei Dhlakama pela primeira vez em 1983 fiquei tocado pelo magnetismo do seu calor humano e a sua sinceridade. Um charme difícil de resistir e que ao longo da sua vida cativava as pessoas que entravam naquela "aura" que sempre existia onde Dhlakama se encontrava. Dhlakama nunca teve de chamar alguém à ordem nas suas reuniões. Tinha uma autoridade natural e incontestável.
História nunca contada, ao acabar do dia 29 de setembro de 1992, perto já da meia-noite, estava sentado só com Dhlakama na "casa principal", uma palhota aberta na base de Massala. Tínhamos passado o dia a rever os 11 protocolos que juntos estavam para ser assinados em Roma, Itália, no dia 1 de outubro, para constituir o Acordo Geral de Paz. Dhlakama tinha-me pedido para explicar os acordos aos generais. Aguardavam em fila para me ouvir. Homens duros e com nada para ganhar. Lembro--me do olhar preocupado no rosto do general Ossufo Momade, agora o sucessor interino do falecido presidente. Era comandante da Zona Sul, a zona militar mais difícil para a Renamo. Pediu licença para falar e perguntou-me como a Renamo poderia evitar "que nos vão cortar o pescoço a todos nós" se abandonarem o controlo militar do território. Eu respondi que se os generais conseguissem organizar um levantamento popular em Maputo em que o governo seria preso e levado à justiça popular, numa grande praça aberta, não precisaríamos negociar um acordo de paz.
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