"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Muita poeira não deixa ver a verdade?


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Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Ou é tudo uma questão de recusa de admitir os factos?
Aquela bonança que se pensava que existiria ou que se concretizaria parece esfumar-se a cada dia que passa. Foram tantos os esforços e as negociatas ensaiadas mas que agora estão diluindo-se ou descongelando-se como gelo no deserto escaldante.
Quem supunha que as redescobertas de reservas minerais seriam a “poção mágica” para todos os problemas de Moçambique vê-se numa posição complicada.
O país não está andando, e no horizonte desenham-se cenários dantescos sem que surjam sinais indicativos de que a liderança lidera ou possui soluções.
Una coisa é discursar, e outra bem diferente é responder às forças agrestes do mercado.
Uma coisa é tecer considerações ou desenhar estratégias, e outra também bem diferente é ver essas estratégias surtindo os efeitos desejados.
São várias as frentes em que se manifestam desencontros e mesmo falhanços.
Se nos tempos do partido único era fácil ditar e impor, agora observa- se que a Comissão Política da Frelimo está complicando as contas do PR, embora ele seja também da Frelimo e até nominalmente presidente deste partido.
Os estatutos vigentes na Frelimo colocam a sua Comissão Política acima do PR e do Governo.
E como a CP foi montada pelo ex-PR AEG, é este quem, de facto, ainda baralha e distribui as cartas.
A dualidade discursiva e o comportamento das forças militares e policiais não deixam dúvidas sobre quem manda em Moçambique. As FDES juraram fidelidade ao PR, mas isso ainda tem de ficar claro e visível.
Na esfera económica, o cenário é por demais sombrio, com a autoridade monetária desfasada dos tempos e com os ministérios se digladiando por protagonismo.
Se hoje não se fala de jatropha como nos tempos áureos de AEG, verifica-se que ainda não há direcção traçada. Não há fio condutor que se esteja seguindo.


Ou, como já terá sido tudo negociado, a nova equipa governamental está procurando ver onde pode actuar e o que se poderá alterar ao nível das concessões mineiras e outras já atribuídas.
Quando se diz em público que se encontrou os cofres vazios, é porque há problemas sérios.
Não há diplomacia económica que vai curar as feridas deixadas pelo Governo anterior. Nem a “dança de cadeiras” iniciada em alguns ministérios, mesmo que prolongue ou se aprofunde, não vai trazer novidades, porque as coisas já estão traçadas.
Os grandes “dossiers” na esfera dos recursos naturais já foram negociados e é difícil ver um Governo da Frelimo alterando o que outro fez.
O tipo de interesses em jogo e as contrapartidas individuais conseguidas têm consequências demasiado importantes para os beneficiários.
Assiste-se a uma tentativa de governar, mas algo está faltando.
A equipa que existia deixou não só os cofres vazios. Dado ao tipo de escolhas e métodos utilizados, a nova equipa é constituída por “ferrugem do passado” e um grupo de novos integrantes sem experiência nas lides governamentais. Depois existe a questão de senioridade de alguns ministros, pertencentes à Comissão Política das Frelimo que deixam o PR “atrapalhado”.
Por outro lado, parece que existe um Governo-sombra diferente daquele que se reúne todas as terças-feiras. Algumas coisas que acontecem dão para entender que a situação governamental é difusa, com vários centros de poder e com poder.
Um país em crise tem de ter o seu PR atento e concentrado com a mesma. A crise política, militar e financeira é real e exige conjugação de esforços e iniciativas corajosas.
Moçambique já não pode alegar falta de quadros e de experiência para gerir os seus assuntos nas variadas frentes.
Denota-se exclusão de quadros que poderiam dar o seu saber e experiência em prol do desenvolvimento nacional.
Houve como que uma sangria de quadros por razões políticas e isso afecta sectores vitais como a Água e Energia Eléctrica.
Quando se torna notícia habitual que há rombos e roubos no aparelho de Estado, é grave, mas não se vêem acções concretas para estancar este cancro.
Montou-se uma enorme máquina governativa em todos os domínios, mas, a julgar pelo desempenho sofrível, não passa de um sugadouro de recursos.
Vem aí a época das chuvas, e a situação da água em cidades como a Beira é uma dor de cabeça que pode contribuir para a eclosão de cólera.
É preciso ver a coragem fazendo parte da governação. Aos incompetentes, basta de recomendações.
Há que demitir.
Quem não consegue realizar com sucesso o trabalho que é sua função deve ser removido, porque os prejuízos sociais e económicos são muito grandes.
Quando falha a energia eléctrica e quando os cortes são constantes, a indústria e o comércio sofrem.
Moçambique e o seu Governo devem adoptar uma cultura de trabalho que acelere o desenvolvimento.
Está mais do que provado de que a “confiança política e o clientelismo como critérios de recrutamento de pessoal e atribuição de cargos de chefia corroem o país.
Não se diz nem está escrito, mas todos sabem que ser da OMM e da OJM é quase que ter emprego garantido no aparelho de Estado.
Assim não se desenvolve um país.
Os compadrios e indecência na gestão de recursos humanos atrasam soluções de problemas.
Comprar vagas com dinheiro ou com sexo, considerações de natureza racial ou tribal estão tomando conta de assuntos onde se deveria julgar pela competência dos candidatos. Quando se diz que existe falta de qualidade do ensino no país, deve-se acrescentar que isso mina a economia.
Que país se dá ao luxo de contratar empresas estrangeiras para montar balcões de bancos nas cidades e distritos?
Quando começará a baixar a contratação de técnicos estrangeiros?
Com tantos graduados universitários todos os anos, já deveríamos estar sentindo os seus efeitos ao nível da gestão económica, na agricultura, na saúde e nas finanças públicas.
Governar tem de ser algo que se faça a partir de diagnósticos realistas e com sentido de servir.
Numa estrada de terra batida, quando não se quer sofrer por causa da poeira que os carros provocam, rega-se com água em intervalos regulares.
Sem “regar a poeira” do “guebuzismo”, será muito difícil que o PR, Filipe Nyusi, chegue a governar. Também importa dizer que ele tem de fazer opções mais consentâneas com a realidade do país no campo dos seus conselheiros e assessores. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 02.12.2015

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