"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Fraca qualidade do ensino resulta da má formação do professor e da gestão pedagógica


Académicos apontam os problemas que estão na origem da fraca qualidade do ensino
“Temos alunos da 6ª classe sem competências básicas. Não sabem ler, escrever, nem identificar letras. Isso significa que essas crianças passam pelo primeiro ciclo de ensino sem capacidade exigida para o efeito”.
Num debate bastante concorrido, realizado ontem, em Maputo, quatro académicos nacionais apontaram as principais causas da fraca qualidade do ensino no país. Das várias causas, constam a má formação de professores, as suas condições sociais, a insuficiência das condições infraestruturais básicas, além da ineficiente gestão pedagógica pelas direcções das escolas.
O outro aspecto que tem sido apontado relaciona-se com a falta de consistência dos programas de formação de professores. Por exemplo, um estudo levado a cabo pelo professor Adriano Niquice concluiu que os sistemas de educação em Moçambique foram mudados cerca de 20 vezes, em 36 anos da independência. Isto significa que o sistema de ensino nacional muda em cada um ano em meio. Hoje, a formação do professor obedece ao modelo 10ª+1 e 12ª+1.
As quatro dimensões
Na sua apresentação, o Professor José Castiano disse que, da investigação que efectuou ao sistema do ensino nacional, sobretudo na questão dos problemas que estão na origem da sua fraca qualidade, concluiu que, para se ter um melhor sistema de ensino, é necessário desenvolver a formação do professor em quatro dimensões societais, nomeadamente: cognitiva (dimensão do saber); do saber fazer; axiológica (relativa aos valores e à dignidade); e ontológica (que diz respeito ao saber ser).
Castiano afirmou que, em relação à primeira dimensão, é preciso fazer leituras das sociedades antes de se ler a escola em relação à qualidade da educação. Conforme referiu, nas suas leituras baseadas no estudo que tem vindo a fazer, conclui que, nas zonas urbanas, a sociedade reclama que as crianças não sabem ler nem escrever (portanto, não têm conhecimento, o saber) e, logo, a qualidade do ensino é fraca. No entanto, nas zonas rurais, a sociedade diz que a qualidade do ensino é boa.
Relativamente à segunda dimensão, o problema que levanta tem que ver com a componente prática, pois quer no campo como na cidade, a percepção é a mesma: os formados não sabem fazer. “Se quisermos ter qualidade no futuro, devemos olhar para que áreas devemos investir”, disse Castiano.
Para este académico, é preciso que a sociedade não abdique dos seus valores sociais. Esse aspecto deve também nortear a formação do professor. É que essa dimensão axiologia expressa os valores que as crianças têm ou adquirem na escola. “Os pais dizem que os alunos não têm respeito, não respeitam as pessoas adultas, as cerimónias fúnebres, etc. Essas queixas são muito frequentes nas zonas rurais”, sublinhou Castiano, adiantando ser preciso um questionamento sobre como formar um cidadão que seja activo e participativo e que saiba respeitar a dignidade do outro. 

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