Um dia antes da entrada oficial da SADC,
- Nada ainda se sabe sobre o tipo de confrontação que pode ter havido, nem sobre reféns que continuavam ou continuam na vila
Mais do que lançar dúvidas sobre a coordenação de questões de comunicação, a forma como são geridas e partilhadas informações importantes e actualizadas sobre a ofensiva contra o terrorismo em Cabo Delgado parecem sugerir mesmo uma espécie de competição entre o Ruanda e a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral.
Depois de, numa única leva, Paul Kagame ter despachado um efectivo de mil homens, antecipando, por cerca de uma semana, a chegada do contingente da SADC, e a forma como tem comunicado as incidências no campo operacional em Cabo Delgado, o Ruanda procura lançar uma imagem de que o principal está a fazer, devendo, ao contingente da SADC sobrar o periférico [mas complexo], das quais a tarefa de manter posições fixas que garantam segurança nas aldeias para o possível retorno das populações.
Ontem, mais uma vez, o Ruanda foi o primeiro a anunciar a reocupação da importante vila de Mocímboa da Praia, depois da expulsão dos terroristas daquele espaço que foi seu bastião por cerca de 12 meses. Foi uma simples e pontual nota, mas bastante no objectivo de evidenciar a “bravura e determinação” da tropa ruandesa.
Apesar de fazer referência ao facto de a retoma da vila de Mocímboa da Praia resultar de uma operação conjunta, Forças de Defesa e Segurança de Moçambique e do Ruanda, a nota faz questão de recordar que Mocímboa da Praia foi, por dois anos, um importante reduto dos terroristas.
“A cidade portuária de MdP, um importante reduto da insurgência por mais de dois anos, foi capturada pelas forças de segurança de Ruanda e Moçambique” – assim refere o twitter das Forças de Defesa e Segurança do Ruanda. A retoma do essencial da vila de Mocímboa da Praia e o respectivo anúncio triunfal acontece exactamente horas antes do lançamento oficial da chamada Força em Estado de Alerta da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, cuja cerimónia tem lugar, hoje, em Pemba.
Ministério da Defesa de Moçambique
Depois de a informação ter começado a circular cerca das 14 horas de Maputo, todos citando o twit das Forças de Defesa e Segurança do Ruanda, só pouco depois das 16 horas, o Ministério da Defesa Nacional de Moçambique falou com conferência de imprensa, com espaço para apenas duas questões. No essencial, nada de novo foi dito. O coronel Omar Saranga, porta-voz do Ministério da Defesa, limitou-se a confirmar o que os ruandeses tinham já informado à sua nação e ao mundo.
“As Forças Conjuntas – Moçambique e Ruanda, controlam a Vila de Mocímboa da Praia desde as 11 horas de hoje, 08 de Agosto de 2021, controlam as infra-estruturas públicas e privadas com enfoque para edifícios do governo local, porto, aeroporto, hospital, mercados, estabelecimentos de restauração, entre outros objectos económicos” – apontou Omar Saranga, depois de no minuto anterior ter descrito o percurso e as acções de consolidação que incluíram várias zonas. “A este respeito, destacamos que depois das operações que culminaram com o controlo da localidade de Awasse, a consolidação do troço Awasse – Diaca, no distrito de Mocímboa da Praia, bem como o reforço do controlo situacional da Vila de Palma e arredores, a ofensiva em curso desactivou as seguintes posições:
- à Norte da Vila de Mocímboa da Praia, nomeadamente, posições de Quelimane, Njama, Tete, Maputo, Primeiro de Maio e Unidade; e
- à Oeste – posições de Ntotwe, Manilha, Magoma, Mumu e Mbuje” – detalhou.
Em relação à questão de coordenação, o porta-voz limitou-se a dizer que “estamos coordenados”, “apesar de poder haver nuances diferentes” na forma como o Ruanda e Moçambique apresentam a informação. Reiterou que, no terreno, as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique é que estão a coordenar as operações.
Omar Saranga em nenhum momento da sua comunicação abordou questões relacionadas com os reféns que, se acredita que estavam ou estão em Mocímboa da Praia. Não deu qualquer detalhe sobre a operação que culminou com a retoma da vila, não se sabendo se terá efectivamente havido confrontação intensa ou não. É que, há a percepção de que os grupos terroristas há muito ter-se-ão apercebido da impossibilidade de resistirem na defesa do seu principal reduto, dada a envergadura da operação e da conjugação de esforços internacionais para desalojá-los da vila de Mocímboa da Praia.
Nisto, o mais provável é terem, há muito, encontrado formas, apesar do cerco, de abandonar a vila para as densas matas existentes, tanto no distrito de Mocímboa da Praia, as[1]sim como em outros distritos vizinhos.
MEDIA FAX – 09.08.2021
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