quinta-feira, 19 de agosto de 2021
E depois de Ruanda?!
Por Edwin Hounnou
Como qualquer povo do mundo, é bom viver em paz, ir para cama com a certeza de que nenhum bandido lhe irá lhe tirar a vida nem a dele, nem a de ninguém da sua família. Por esta razão, assistimos o povo dançar abraçado aos militares ruandeses pelo bom trabalho que prestam na defesa vidas e de instituições de moçambicanos e, na certeza de que, se aparecer os terroristas serão castigados, quer dizer, perseguido e até correr o risco de perder a vida. Por isso, estamos a ver 46 anos depois da independência nacional, homens, mulheres e crianças saltitam, dançam, abraçam-se de tanta alegria, ovacionam e batem palmas para colunas militares que passam a caminho de Cabo Delgado por se aperceberem que chegou a hora de tranquilidade e sossego. O povo sabe quem está à altura de lhe proporcionar uma defesa eficaz, por isso se rejubila pela chegada das forças ruandesas que são vistas como quem lhes vem tirar do buraco.
Quando ouvíamos dizer que nenhum pedaço do nosso território, nenhuma localidade ou vila estava ocupados por terroristas, nós sabíamos que aquilo não passava de uma mentira grosseira porque tínhamos conhecimento de que por exemplo, os postos administrativos de Awasse, Diaca e outros povoados estavam ocupados desde os meados do ano de 2020. A Vila da Mocímboa da Praia estava ocupada desde Agosto de 2020 e nenhuma pessoa podia podia entrar ou sair daquela urbe. Nenhuma viatura podia aí chegar ou atravessar ainda que os desmentidos saíssem da boca do comandante-geral da Polícia da República de Moçambique ou mesmo dos ministros do Interior ou da Defesa que, também, aprendeu a mentir. Aprendemos uma coisa muito importante que, na guerra se mente bastante da parte dos que têm o dever moral pelo treinamento, equipamento das forças armadas, como forma de se esquivarem das suas responsabilidades políticas pela incapacidade demonstrado pelas FADM. Ao invés de elaborarem desmentidos, deveriam treinar e equipar as forças armadas para prontidão combativa. Os rapazes estão prontos para tudo mas a direcção tem muitas fraquezas.
Sempre falamos que o partido Frelimo tem que se afastar da gestão do bem comum e das instituições públicas. Estamos hoje de côcoras e envergonhados por não possuirmos um exército capaz de bater terroristas devido às intromissões políticas como a transferência do poder de fogo dos militares para a polícia e vimos essa visão errada quando os ataques terroristas começaram. A Frelimo e sua liderança foram relevantes em aceitar que aquilo fosse uma guerra terrorista e para se consolar, frisavam que se tratava de ladrões. Antes do primeiro ataque à vila da Mocímboa da Praia, a 5 de Outubro de 2017, o governo refugiava-se dizendo que tudo não passava de conflito inter-religioso.
Porém, nas mesquitas de Pemba já estavam instaladas células terroristas que até faziam treinos como ordem unida nos pátios das madrassas, quer dizer, marcha militar, placar, corridas e outro tipo de treinos, algo que não nada a ver com igrejas ou qualquer tipo de religião. O governo foi sendo alertado sobre o surgimento nas mesquitas de uma nova postura mas ninguém levou a sério os avisos emitidos até ao ataque da Mocímboa da Praia. As armas usadas no ataque à vila da Mocímboa da Praia e os próprios terroristas saíram de algumas mesquitas de Pemba.
Devido ao excesso de ganância pelo poder ilegítimo, o partido Frelimo deixou as portas escancaradas para qualquer terrorista ou bandido atacar e ocupar o nosso país e hoje estamos de mãos estendidas a pedir socorro. Somos protegidos e o nosso território defendido por Ruanda, um pequeno território que cabe em Moçambique mais de 30 vezes e com uma população que corresponde quase três vezes menos que a do nosso país. Ruanda tem um PIB de cerca de 11 biliões de dólares enquanto de Moçambique é 15 biliões, mas este pequeno país da África Ocidental tem um exército mais forte que o nosso que “desconseguiu" bater os terroristas que ocupam extensas áreas de Cabo Delgado.
Ruanda precisou de 30 dias para os terroristas fugirem, abandonando armas, incluindo mapas de reconhecimento e livros de alcorão que dizem ser sua fonte de inspiração, porém sabemos que isso é de todo falso, porque a religião islâmica é pela paz e fraternidade. O seu exército tão culto que já cria saudades nas populações locais com as quais se abraça, pila e conversa de forma amena. As populações de Cabo Delgado até já dizem não precisar de intérprete para se comunicar com soldados ruandeses.
Comparando as valências económicas entre Moçambique e Ruanda, salta à vista que o nosso país possui 2700 km de costa maírítima para turismo e pesca e uma infindável economia azul, tem marques e reservas naturais. Para além disso, temos três grandes corredores com portos, caminhos de ferro para o interland, designadamente, o corredor de Maputo, Beira e Nacala, porém, quase desaproveitados. Exporta alumínio e electricidade da HCB para África do Sul, Zâmbia, Zimbabwe e Swazilândia. Enquanto isso, Ruanda não tem costa marítima nem corredores de desenvolvimento e o forte das suas exportações se assenta em banana, café, turismo e industrial tecnológica emergente. Kigali, a sua capital é uma cidade moderna, com ruas sem buracos nem lixo a transbordar por tudo quanto seja canto. Tem jardins bem tratados. É uma beleza! dá prazer de nela habitar e transmite a sensação de estarmos numa Lourenço Marques, Beira ou Nampula dos anos 1975-1980. Temos saudades de viver numa cidade limpa e bem organizada!
Ruanda construiu um exército pequeno, forte e moderno para o seu povo dormir tranquilo e ajudar a seus amigos que precisarem de apoio. Paul Kagamé, seu presidente, não fez calote aldrabando que vai edificar um exército para se defender ninguém e Moçambique tem muita coisa que aprender deste pequeno país, ainda que discordemos da sua política de mover uma perseguição cerrada contra seus opositores políticos a que procura para além-fronteiras, tirando-lhes a vida. Não aprovamos o facto de Kagamé ter alterado a constituição do país para lhe permitir que se mantivesse no poder por mais tempo do que o previsto na Lei-Mãe. Esta prática de alterar a constituição é própria de ditadores para acomodar os seus apetites que, infelizmente, também nos persegue no nosso horizontal, pois o Presidente Filipe Nyusi tem dado sinais de que não pretende deixar o poder, como determina a Constituição. Estamos para ver como vai terminar este cinema mudo que Nyusi nos quer presentear. Se a brincadeira de alterar a Constituição persistir, o país vai ser jogado num buraco sem fundo de onde sairemos bem machucados.
A nossa maior dúvida, parece também ser de tantos outros, depois da saída do contingente ruandês quem ficará a defender os moçambicanos que hoje são vítimas dos terroristas? A Força Conjunta da SADC tem um período, embora possa vir a ser renovado, caso seja necessário, o medo da guerra de intensificar as nossas forças - FADM – também conhecidas por leões da floresta, já nos deram bastantes provas de que é melhor negociar bem com Paul Kagamé para nos ajudar a manter os terroristas longe das nossas fronteiras para que o povo possa viver tranquilo. Sugerimos, igualmente ao governo, que celebre um contrato com Kigali a fim de que venha um contingente policial para travar os raptos que são protagonizados por agentes da SERNIC. Não se esquecendo também de incluir a Polícia de Trânsito para dar um intervalo de descanso aos automobilistas dos pedidos de refresco como condução para prosseguirem viagem. Que tal apreciar positivamente nossa proposta, Mr. President?!
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 18.08.2021
terça-feira, 17 de agosto de 2021
Cabo Ligado Mensal: Julho de 2021
TENDÊNCIAS VITAIS NESTA RELATÓRIO - OBSERVATÓRIO DE CONFLITOS
• As tropas ruandesas chegaram a Cabo Delgado em Julho e rapidamente se envolveram nos confrontos; estiveram envolvidos em 10 ocorrências de violência política organizada registradas, resultando em 73 mortes reportadas
• A violência no distrito de Mocímboa da Praia aumentou bruscamente quando as tropas ruandesas e moçambicanas empreenderam uma ofensiva que acabou resultando na recaptura da vila de Mocímboa da Praia no início de Agosto
• Os confrontos também continuaram no distrito de Palma, enquanto as tropas ruandesas e moçambicanas engajavam-se no sentido de limpar as áreas ao redor da vila de Palma e o troço Palma-Nangade de insurgentes
• Análise das correntes de propaganda do Estado Islâmico na língua KiSwahili e sua relação com o conflito de Cabo Delgado
• Explicação das origens e funções das milícias locais pró-governo em Cabo Delgado
• Análise do histórico de combate e posição política de Ruanda no conflito de Cabo Delgado
• Atualização sobre o envolvimento internacional em Cabo Delgado com foco em como os custos e responsabilidades serão divididos entre os estados membros da SADC na missão da Força em Estado de Alerta da SADC
Leia aqui Download Cabo-Ligado-Monthly_July2021
sexta-feira, 13 de agosto de 2021
*Conheça os Moçambicanos que Lideraram os Terrorristas de Cabo Delgado*
Não obstante a presença de estrangeiros, a esmagadora maioria dos membros do
grupo são moçambicanos, oriundos maioritariamente dos distritos de Mocímboa da
Praia, Palma, Macomia e Quissanga, mas também do planalto de Mueda, do litoral
de Nampula e da província do Niassa, entre outras regiões. Segundo as
estimativas, o número efectivo de membros tem sido variável, oscilando entre os
1000 e os 2000 homens. Os ataques a pequenas aldeias são realizados por grupos
de dimensões reduzidas, compostos sobretudo por cidadãos moçambicanos. Nos
ataques a Mocímboa da Praia e a Palma o grupo recorreu a mercenários
estrangeiros, grande parte oriundos da Tanzânia, existindo referências a
indivíduos “brancos” entre os machababos. Não obstante a existência de um
comando central que coordena ataques, o grupo possui várias chefias
intermédias, com poderes diversos e com relativa autonomia, permitindo alguma
iniciativa. Entre os líderes moçambicanos do grupo estão claramente
sobrerepresentadas as populações da costa, entre Palma e Macomia, geralmente
falantes de mwani. O poder dos indivíduos tende a advir do domínio do Islão,
contactos internacionais e capacidade militar. Os líderes de topo vão trocando
de nome, razão porque podem aparecer conhecidos de diferentes formas. Em função
do simbolismo islâmico, os sucessivos nomes vão traduzindo o poder do indivíduo
no seio do grupo. A partir dos relatos de pessoas que foram raptadas e que
conviveram com os líderes dos machababos, é possível identificar algumas
lideranças, por volta de Abril de 2021, onde consta, inclusivamente, uma
mulher.
1.1 Bonomado Omar
O líder do grupo é largamente conhecido na região, ainda que por vários
nomes. Textos jornalísticos (CJI, 14.09.2020) referenciam-no por Bonomado
Machude Omar ou Ibn Omar, aparecendo também designado por Omar Saíde ou Sheik
Omar. Os relatos sugerem que Omar foi trocando frequentemente de nome, sendo
actualmente conhecido por Nuro Saíde ou Abu Surakha. Omar nasceu em Palma no
povoado de Ncumbi e, aos 5 anos, ficou órfão de pai. A família viajou para
Mocímboa da Praia e a mãe juntou-se com outro homem, localmente conhecido por
Mze Tchidi. O padrasto introduziu Omar no Islão, que foi estudando e
aperfeiçoando. Finalizou a 10ª classe na Escola Secundária Januário Pedro em
Mocímboa da Praia e, de acordo com antigos professores, era um jovem calmo, bom
aluno e bom jogador de futebol. Depois de atingir a maioridade, cumpriu o
serviço militar na marinha em Pemba, findo o qual residiu no internato do
African Muslim, finalizando a 12ª classe. Torna-se um elemento carismático
junto de outros jovens, conhecido pelo seu sentido de justiça e de proteção dos
mais novos. Um dos seus passatempos era jogar futebol. Devido à estatura
elevada (entre 1,80 e 1,90m) e pelo facto de jogar no meio campo, adquiriu a
alcunha de Patrick Vieira¹. Por volta de 2008 e 2009 trabalhou no mercado
Maringué em Pemba, onde vendia hortícolas e roupas muçulmanas, por conta de um
comerciante estrangeiro (as versões variam entre tanzaniano e somaliano).
Viajou para a Tanzânia e para a República da África do Sul. Regressou a
Mocímboa da Praia onde dinamizou uma mesquita e uma barraca de venda de
quinquilharias, adquiridas em mercados tanzanianos ou na cidade de Pemba.
Participou nos primeiros ataques a Mocímboa da Praia e refugiou-se nas matas.
Pela sua habilidade militar e capacidade de camuflagem adquiriu localmente a
alcunha de “Rei da Floresta”. Constitui actualmente o líder do grupo em
Moçambique, assim como o elo de ligação com o exterior², recentemente
confirmado pelo US Department of State (Blinken, 06.08.2021). Omar demonstra
capacidade de comando, carisma e liderança, ditando as regras e decidindo onde
e como atacar, assim como quem se deve assassinar. É a Omar que se recorre
perante situações mais delicadas. Omar destaca-se como bom nadador. Futebol,
alcorão, condução de veículos e manuseio de material bélico constituem as suas
grandes paixões. Tem três esposas nas matas de Cabo Delgado e vários filhos
menores, inclusivamente na cidade de Pemba. À noite, circula com uma lanterna
de mineiro na cabeça, por vezes com uma escolta de motas atrás de si. Os que o
acompanham são geralmente mais velhos e experientes. Por vezes, é visto
trajando “roupa muçulmana preta”. Trata-se da figura central de um vídeo
filmado em Mocímboa da Praia em Março de 2020 aquando da invasão à cidade,
aparecendo a falar em suaíli para a população local, explicando os objectivos
do grupo. Omar coordenou o ataque a Palma em Março de 2021 e envolveu-se
directamente no processo de negociação de resgates. É conhecido por ter
bastantes relações em vários distritos de Cabo Delgado, inclusivamente no
exército moçambicano. Para além do suaíli, língua com a qual mais se
identifica, Omar exprimese fluentemente em macua, maconde e português.
1.2. Mustafá
É conhecido por ser o executivo de Omar, passando instruções no terreno,
oriundas do comandante. Tem baixa estatura (cerca de 1,55m de altura). A sua
língua materna é o mwani e fala fluentemente o suaíli, e um pouco de português.
Nasceu em Mocímboa da Praia onde cresceu e frequentou a escola primária.
Residiu no bairro Milamba, perto do campo de futebol do Benfica, onde tinha uma
barbearia, sendo localmente conhecido pelo seu apelido maconde Shinpwateka.
Durante um período de tempo Mustafá residiu em Palma, jogando para o clube de
futebol local, tendo depois regressado a Mocímboa. Foi visto no ataque a Palma
de Março de 2021, actuando sempre próximo de Omar, transmitindo ordens e
identificando, entre as pessoas capturadas, aqueles elementos que, pelas suas
competências profissionais, pudessem ser importantes para o grupo, nomeadamente
jovens com o serviço militar cumprido, médicos, enfermeiros, mecânicos ou
motoristas.
1.3. Maulana Ali Cassimo
Maulana é o nome próprio, constitui um dos comandantes mais destacados pelos
indivíduos que estiveram em cativeiro, pelo facto de se apresentar como
engenheiro agrónomo. De acordo com as testemunhas, trata-se de um indivíduo
inteligente, bem articulado na língua portuguesa e com capacidade
argumentativa. Maulana é um indivíduo claro, com cerca de 1,70m de altura. É
natural de Lichinga, tendo concluído o curso médio de Agropecuária, no
Instituto Agrário nesta cidade. É classificado de “bom aluno” por
ex-professores. Trabalhou para a Mozambique Leaf Tobacco em Tete e em Cuamba.
Alegadamente, foi após ter estado preso pela polícia (por não ter licença de
condução) que ingressou no aparelho do Estado. Entre 2014 e 2017 foi técnico de
Extensão Agrária no SDAE de Mecula. Devido ao seu envolvimento e dedicação na
sua área de extensão, Maulana chegou a ganhar um prémio provincial. É descrito
como carismático e com muita aceitação junto dos produtores. Ficou conhecido
entre os colegas por ser rigoroso nos preceitos islâmicos (rezando cinco vezes
ao dia) e por ser profissionalmente “activo” e “agitado”. É recordado por ter
demonstrado, várias vezes, a sua revolta em relação à atitude das autoridades
para com garimpeiros (em Mariri, na localidade de Mbamba) e caçadores furtivos
na reserva do Niassa. Os colegas destacam a veemência com que criticava a
extorsão de bens e detenção de jovens garimpeiros, justificando que a
agricultura não constitui uma actividade rentável e que os jovens não dispunham
de outras alternativas. Em defesa dos garimpeiros, com quem tinha relações,
insurgia-se abertamente contra as autoridades do distrito, inclusivamente
contra o Administrador e Secretário Permanente. A partir de 2016 envolve-se na
organização de uma mesquita e perde interesse pela sua actividade profissional.
A radicalização do discurso, incluindo a proibição de crianças de frequentarem
a escola, levou ao encerramento da mesquita pelo Estado. Neste processo foi
impedido de utilizar a motorizada do SDAE (que colocava ao serviço das suas
actividades religiosas) gerando-lhe um grande descontentamento e revolta. Em
Julho de 2017 abandonou o posto de trabalho e deixou de ser visto em Mecula. Os
colegas foram informados que se tinha dirigido para Cabo Delgado para receber
formação religiosa, para posteriormente abrir uma mesquita em Mecula, onde iria
receber um subsídio de 60 mil meticais, bem superior ao salário que auferia do
Estado. Com o início do conflito armado, juntou-se aos insurgentes nas matas de
Mocímboa da Praia, tal como muitos outros jovens de Mecula. A esposa ainda
tentou juntar-se ao marido em Cabo Delgado, mas foi detida pela polícia nesse
processo, residindo actualmente em Lichinga com os seus dois filhos, assim como
a família do marido. Maulana participou nos ataques a Mocímboa da Praia e a
Palma.
1.4 Rosa Cassamo Rosa
Cassamo nasceu em Cabo Delgado, em distrito que desconhecemos. Antes de aderir
ao grupo rebelde possuía três enormes machambas. É descrita como uma mulher
clara e bonita, mãe de cinco filhos, entre os quais três meninas. Duas das suas
filhas foram prematuramente casadas por insurgentes e levadas para as matas.
Rosa foi chefe de logística em Ilala e Mucojo (distrito de Macomia) e, através
da posição do seu marido, Ibraimo Mussa³, adquiriu poder e influência local.
Hoje é considerada de mãe, no seio de insurgentes, desempenhando um papel
importante na mobilização de várias mulheres do seu povoado, para ingressassem
na insurgência. Entre os rebeldes, Rosa é considerada a “rainha da magia
negra”, existindo rumores de práticas mágico-tradicionais, envolvendo relações
sexuais com guerrilheiros, como forma de reavivar poderes mágicos (prática
dominada de “freemason”).
terça-feira, 10 de agosto de 2021
Tomada de Mocímboa da Praia é estratégica, mas há o risco de guerrilha, dizem analistas
E ainda é cedo para celebrar a vitória, opinam analistas
A tomada de controlo da vila de Mocímboa da Praia, em Cabo Delgado, pela força conjunta Moçambique-Ruanda, tem um valor estratégico muito importante por causa do porto e do aeroporto, mas não se deve enveredar por nenhum triunfalismo, porque os jihadistas poderão optar por tácticas de guerrilha, que são mais difíceis de enfrentar.
A retomada de Mocímboa da Praia ocorreu cerca de um mês depois da chegada de militares ruandeses a Cabo Delgado, e, para o jornalista Fernando Lima, isso mostra que aqueles que estão a desencadear a violência naquela província não têm uma força tão imensa como muitas vezes se pretende, e que qualquer força militar minimamente organizada e com meios pode derrotá-los.
"Quando uma zona esteve durante um ano sob ocupação, e vem uma força externa reocupá-la num mês de operações, isso mostra que a insurgência não é tão poderosa, mas penso que não se deve enveredar por nenhum triunfalismo," diz Lima.
Guerrilha
Na leitura daquele jornalista, a reconquista de Mocímboa da Praia tem um valor estratégico por causa do porto e da pista de aviação, mas ainda há zonas importantes onde estão as bases principais da insurgência, que não foram eliminadas.
"E vai ser muito mais difícil, porque se trata de posições no meio da floresta; para além disso, vai ser necessário consolidar os territórios reconquistados," diz.
Por seu turno, o sociólogo Moisés Mabunda diz ser necessário que as diversas forças se preparem para a fase que considera a mais difícil, que poderá começar a partir de agora, a da guerrilha, e que, eventualmente, se vai alastrar a outras províncias.
"É preciso evitar que isso aconteça, perseguindo os terroristas; o trabalho só começou, é preciso ver qual é a estratégia que os terroristas vão usar", realça Mabunda.
Dércio Alfazema, analista político, entende também que com a intensificação dos combates no terreno, os insurgentes vão se dispersar procurando refúgio noutros locais, pelo que é preciso que haja um controlo mais efectivo sobretudo nas zonas de saída dos campos de ataque, bem como uma maior vigilância no triângulo Niassa, Nampula e Cabo delgado.
VOA – 09.08.2021
Regresso da Total pode acontecer dentro de um ano, prevê analista
A retomada de Mocímboa da Praia pelas forças moçambicanas e ruandesas abre portas para “um futuro diferente” para o megaprojeto de gás em Cabo Delgado, defende o analista moçambicano Mohamed Yassine.
Em entrevista à DW África, o professor de Relações Internacionais da Universidade Joaquim Chissano, Mohamed Yassine, comentou ainda os atritos entre Maputo e Kigali, após as comunicações do Ruanda sobre as operações no terreno em Cabo Delgado, antes mesmo de um pronunciamento oficial de Moçambique.
Para o analista, a Defesa moçambicana será obrigada a quebrar o "segredo de Estado” se quiser recuperar o protagonismo nos meios de comunicação social e "permitir que mais instituições possam averiguar de perto o que está a acontecer em Cabo Delgado".
DW África: O que significa a retomada de Mocímboa da Praia para o megaprojeto de gás em Cabo Delgado?
Mohamed Yassine (MY): Significa o retorno de uma parcela da soberania moçambicana que estava nas mãos da insurgência há mais de um ano. Por outro lado, significa que o lugar de concentração e que sempre serviu de bastião da insurgência, estando nas mãos do Governo é fácil projetarmos a segurança que precisamos para a região de Afunge e Palma.
DW África: Será o início do regresso da Total para a região?
MY: A estabilidade da região requer um bocadinho mais de cuidados. Para além de Mocímboa da Praia o Governo conseguiu recuperar cerca de onze posições que estavam nas mãos da insurgência, mas, por outro lado, uma vez que os insurgentes já não têm um bastião podemos começar a pensar no retorno da Total para Moçambique provavelmente daqui a um ano. A Total dava um ano e oito meses para que Moçambique se decidisse e penso que com esta intervenção feita em Mocímboa da Praia estão abertas as portas para começarmos a pensar num futuro diferente daquilo que eram os prazos. Já existem mecanismos para dizermos que, com o apoio internacional, iremos conseguir defender a província de Cabo Delgado no seu todo.
DW África: O Presidente Filipe Nyusi lançou esta segunda-feira formalmente, em Pemba, a missão militar da SADC que se vai juntar às forças moçambicanas e ruandesas em Cabo Delgado. No seu entender, como vai ser o trabalho de todas essas tropas no terreno?
MY: As dificuldades que eu vejo pode estar na coordenação porque afinal de contas os países que lá estão cada um tem o seu interesse individual ou coletivo. Acho que se Moçambique tiver feito o seu trabalho de casa por forma a introduzir cada uma das forças à força da SADC no seu todo e à força bilateral do Ruanda cada um com objetivos diferentes, um com o objetivo de combate (como temos visto nos do Ruanda) e a força da SADC como a força de manutenção da paz. Mas se isso estiver a sair do controlo da liderança moçambicana, cada um dos exércitos pode optar pelo seu ego. Além de que é preciso dizer que alguns países de SADC têm ainda algumas "feridas" em relação ao Ruanda e pode resvalar num ajuste de contas no terreno.
DW África: Ainda no lançamento da missão da SADC, o Presidente Filipe Nyusi exigiu mais comunicação e coordenação em Cabo Delgado. Acha que foi um mea-culpa do chefe de Estado?
MY: Esse pronunciamento do Presidente não foi exatamente virado para a SADC mas é preciso recordar que Moçambique vem sendo informado sobre o que está a acontecer em Cabo Delgado através do Ruanda. A conferência de imprensa é dada no Ruanda, o que significa que do ponto de vista do Estado devia ser o contrário. A conferência de imprensa devia ser dada em Moçambique, pelo exército moçambicano anunciando os ganhos alcançados em conjunto com as forças ruandesas. Tem sido continuamente trazido até nos Tweets que o Presidente do Ruanda vai fazendo, o que mostra um bocadinho de falta de humildade para com a missão que está a assumir. Penso que o recado do Presidente (Filipe Nyusi) é no sentido de que a coordenação a ser feita com o objetivo único de apoiar Moçambique e, por outro lado, Moçambique tem de ser a "pessoa" que tem de comunicar para o mundo o que está a acontecer no país.
DW África: Nos últimos dias, tem circulado a informação de que alguns chefes militares de Moçambique não estão contentes com o Ruanda, que estaria sempre à frente na divulgação dos resultados das operações, inclusive através das redes sociais. É hora do Ministério da Defesa de Moçambique melhorar a sua comunicação?
MY: O Ministério da Defesa vai ser obrigado a quebrar o chamado "segredo de Estado". Durante muitos anos o Ministério da Defesa além de ter impedido que os jornalistas locais pudessem viajar para Mocímboa da Praia e outras zonas para acompanhar de perto o que estava a acontecer, sempre fechou-se também em copas em relação à informação que era necessária em relação a o que estava a acontecer dentro de Cabo Delgado. A conferência de imprensa do Ruanda também passa para os órgãos de informação independente em Moçambique, o que já não é a televisão e a rádio de Moçambique que têm o poder de comunicar e até censurar aquilo que se achar que deve ser censurado. Isso vai quebrar o o procedimento do Ministério da Defesa que precisa permitir que mais instituições possam averiguar de perto o que está a acontecer em Cabo Delgado até chamar à razão em relação a direitos humanos e outras consequências que advêm da guerra.
DW – 09.08.2021
OS REBELDES DO NORTE SÃO MESTRES DE TACTICAS DE GUERRILHA E FUSTIGARÃO O INIMIGO
Por Francisco Nota Moisés
Finalmente um Comunicado do MDN de Moçambique
Comunicado Oficial
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
MINISTÉRIO DA DEFESA NACIONAL
COMUNICADO DE IMPRENSA
"Convocamos os órgãos de Comunicação Social para a partir destes, informar a sociedade moçambicana e a comunidade internacional, que na sequência das operações conjuntas envolvendo as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique e as Forças Ruandesas, os terroristas têm vindo a perder terreno, estando a retirar-se das zonas onde exerciam relativa influência."
Não estou para duvidar se os ruandeses e frelimistas tomaram a vila de Mocímboa de Praia. Tudo indica que lá chegaram. O que é muito curioso e que nem os propagandistas da Frelimo nem os do Ruanda fornecem fotografias de combatentes rebeldes mortos ou capturados. Como já tinha escrito há algum tempo atrás, os rebeldes não estavam em ocupação da vila de Mocímboa da Praia como tal depois de a ter conquistada dos terroristas da Frelimo. A vila destruída não tinha disposições para albergá-los tais como água e comida, mas as vezes eles entravam na vila para patrulhar e verificar se havia forças inimigas aproximarem-se do lugar.
Nenhuns guerrilheiros podem se expor num lugar aberto como uma vila onde podem ser martelados por aviões, helicópteros e outras armas pesadas e ligeiras.
Estes invasores não travaram combates para retomar a vila como dizem e nem os destemidos rebeldes queriam se expor a uma força militarmente superior à deles em situações que lhes eram desfavoráveis. O seu recuo não é uma fuga, mas sim uma manobra táctica para salvaguardar as suas vidas para combates futuros em termos e circunstâncias que lhes serão favoráveis.
O que aconteceu não é nada de novo. E o que aconteceu no Afeganistão quando uma força móvel dos donos de guerra americanos entrava e ocupava cidades e vilas. Os talibãs retiravam-se sem combates para depois fazer ataques de bate e foge que vieram a minar o moral dos gigantes adamastores ianques norte-americanos. No Mali perante a tempestade inicial militar francesa no ar e por terra, os guerrilheiros abandonaram as vilas e cidades, embora alguns deles se tivessem mantido dentro dos murros e tivessem travado combates com os agressores franceses.
Depois de dispersos nas matas semidesérticas, começaram as operações de bate e foge contra os invasores gauleses ate que conseguiram libertar 2/3 do Mali, forçando os invasores a reconhecer a sua derrota como os americanos e os seus aliados da OTAN saíram a correr do Afeganistão e do Vietname muito antes disto.
Nenhum dos vídeos de propaganda ruandesa no YouTube mostrou um único rebelde capturado, se quer. Os rebeldes estão vivos e sãos e martelarão estes invasores mesquinhos. Estes invasores se armadilham e verão que será muito difícil defender lugares quando se estabelecerem em posições defensivas e e insanidade da parte deles pensar que eles ganharam a guerra. Esta auto-aldrabice só pode existir nas mentes dos terroristas ruandeses e frelimistas.
As matas nortenhas e o tempo estão ao lado dos rebeldes e com o tempo um outro tanto que aconteceu aos agressores americanos e franceses e outros no Afeganistão e no Mali revisitara essas forças de regimes tirânicos que ajudam a tirania da Frelimo a se manter no poder
Ruanda foi o primeiro a anunciar a reconquista de Mocímboa da Praia -Fomos nós!
Um dia antes da entrada oficial da SADC,
- Nada ainda se sabe sobre o tipo de confrontação que pode ter havido, nem sobre reféns que continuavam ou continuam na vila
Mais do que lançar dúvidas sobre a coordenação de questões de comunicação, a forma como são geridas e partilhadas informações importantes e actualizadas sobre a ofensiva contra o terrorismo em Cabo Delgado parecem sugerir mesmo uma espécie de competição entre o Ruanda e a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral.
Depois de, numa única leva, Paul Kagame ter despachado um efectivo de mil homens, antecipando, por cerca de uma semana, a chegada do contingente da SADC, e a forma como tem comunicado as incidências no campo operacional em Cabo Delgado, o Ruanda procura lançar uma imagem de que o principal está a fazer, devendo, ao contingente da SADC sobrar o periférico [mas complexo], das quais a tarefa de manter posições fixas que garantam segurança nas aldeias para o possível retorno das populações.
Ontem, mais uma vez, o Ruanda foi o primeiro a anunciar a reocupação da importante vila de Mocímboa da Praia, depois da expulsão dos terroristas daquele espaço que foi seu bastião por cerca de 12 meses. Foi uma simples e pontual nota, mas bastante no objectivo de evidenciar a “bravura e determinação” da tropa ruandesa.
Apesar de fazer referência ao facto de a retoma da vila de Mocímboa da Praia resultar de uma operação conjunta, Forças de Defesa e Segurança de Moçambique e do Ruanda, a nota faz questão de recordar que Mocímboa da Praia foi, por dois anos, um importante reduto dos terroristas.
“A cidade portuária de MdP, um importante reduto da insurgência por mais de dois anos, foi capturada pelas forças de segurança de Ruanda e Moçambique” – assim refere o twitter das Forças de Defesa e Segurança do Ruanda. A retoma do essencial da vila de Mocímboa da Praia e o respectivo anúncio triunfal acontece exactamente horas antes do lançamento oficial da chamada Força em Estado de Alerta da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, cuja cerimónia tem lugar, hoje, em Pemba.
Ministério da Defesa de Moçambique
Depois de a informação ter começado a circular cerca das 14 horas de Maputo, todos citando o twit das Forças de Defesa e Segurança do Ruanda, só pouco depois das 16 horas, o Ministério da Defesa Nacional de Moçambique falou com conferência de imprensa, com espaço para apenas duas questões. No essencial, nada de novo foi dito. O coronel Omar Saranga, porta-voz do Ministério da Defesa, limitou-se a confirmar o que os ruandeses tinham já informado à sua nação e ao mundo.
“As Forças Conjuntas – Moçambique e Ruanda, controlam a Vila de Mocímboa da Praia desde as 11 horas de hoje, 08 de Agosto de 2021, controlam as infra-estruturas públicas e privadas com enfoque para edifícios do governo local, porto, aeroporto, hospital, mercados, estabelecimentos de restauração, entre outros objectos económicos” – apontou Omar Saranga, depois de no minuto anterior ter descrito o percurso e as acções de consolidação que incluíram várias zonas. “A este respeito, destacamos que depois das operações que culminaram com o controlo da localidade de Awasse, a consolidação do troço Awasse – Diaca, no distrito de Mocímboa da Praia, bem como o reforço do controlo situacional da Vila de Palma e arredores, a ofensiva em curso desactivou as seguintes posições:
- à Norte da Vila de Mocímboa da Praia, nomeadamente, posições de Quelimane, Njama, Tete, Maputo, Primeiro de Maio e Unidade; e
- à Oeste – posições de Ntotwe, Manilha, Magoma, Mumu e Mbuje” – detalhou.
Em relação à questão de coordenação, o porta-voz limitou-se a dizer que “estamos coordenados”, “apesar de poder haver nuances diferentes” na forma como o Ruanda e Moçambique apresentam a informação. Reiterou que, no terreno, as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique é que estão a coordenar as operações.
Omar Saranga em nenhum momento da sua comunicação abordou questões relacionadas com os reféns que, se acredita que estavam ou estão em Mocímboa da Praia. Não deu qualquer detalhe sobre a operação que culminou com a retoma da vila, não se sabendo se terá efectivamente havido confrontação intensa ou não. É que, há a percepção de que os grupos terroristas há muito ter-se-ão apercebido da impossibilidade de resistirem na defesa do seu principal reduto, dada a envergadura da operação e da conjugação de esforços internacionais para desalojá-los da vila de Mocímboa da Praia.
Nisto, o mais provável é terem, há muito, encontrado formas, apesar do cerco, de abandonar a vila para as densas matas existentes, tanto no distrito de Mocímboa da Praia, as[1]sim como em outros distritos vizinhos.
MEDIA FAX – 09.08.2021