"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



terça-feira, 24 de junho de 2014

“O país está em guerra sim, haja coragem de assumir”



clubofmozambique (2014-06-24) O académico Brazão Mazula, que foi reitor da Universidade Eduardo Mondlane e também Presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), disse em entrevista exclusiva a António Zefanias,do "Diário da Zambézia", que o país está em guerra.

Na entrevista ao Diário da Zambézia, conduzida pelo jornalista António Zefanias, Mazula disse que “a situação já é preocupante ao avaliar pela forma como as armas tem vindo a ser usadas como forma de acabar com as diferenças”. E são usadas, não só para acabar com as diferenças, mas também pela apetência dos políticos pelo poder, “quer para se manterem, quer para ascenderem”.

Conforme explicou Mazula, o país está em guerra e não vale a pena minimizar, buscando linguagens suaves como conflito político-militar, porque essa fase já passou. Aliás, de acordo com o académico e ex-reitor da UEM, há bastante tempo que o país saiu do tal conflito político militar para uma situação de guerra.

Há guerra, conforme Mazula, naqueles casos em que já não se pode andar via terrestre (como é o caso de Muxungué, Murrotone, etc), os camiões são queimados, as armas são usadas como forma de acabar com um e outro e isso não tem outro nome se não guerra. Mazula lembra com mágoa os malefícios da guerra.

“Nós estávamos habituados a viver em paz, apesar da pobreza, mas com isso que estamos a viver, poderemos ser mais pobres”- disse Mazula, citado no Diário da Zambézia.

O entrevistado considera ainda que isto acontece em contraste com o desenvolvimento, apesar de algumas correntes defenderem a tese de que com a guerra se faz o desenvolvimento, mas estas teorias são de menos humanas.

Aliás, o académico pede que se faça uma análise fria e que todos moçambicanos se questionem, o porquê do retorno à guerra.

Questionado sobre onde reina o receio de afirmar ou declarar que o país esteja em guerra, este disse que “a falta de coragem reina naqueles que defendem que é apenas um conflito político e não guerra”.


DIÁLOGO SÉRIO PRECISA-SE

Na senda da guerra que assume estar a acontecer no país, Mazula falou do diálogo que tem vindo a acontecer no Centro de Conferências Joaquim Chissano em Maputo. Sobre este assunto, afirmou que falta seriedade nas pessoas que dialogam porque, no final do dia, o que os moçambicanos precisam é de um diálogo sério, franco para que, no fim, produza resultado.

E o resultado que os moçambicanos esperam, continua a entrevista do Diário da Zambézia, é o fim da guerra, para que as armas não sejam um elemento para a resolução das diferenças.

Para que o diálogo flua, Mazula pede à Frelimo encontre razões na Renamo e à Renamo que, por seu turno, encontre razões na Frelimo, para que no final de tudo, os moçambicanos gozem da paz que conquistaram em 1992.

“A guerra beneficia algumas pessoas. Serve de fonte de acumulação de riqueza, dai que são estes poucos que defendem que a guerra prevaleça”- lamentou Mazula para depois acrescentar que “quando é assim, são jovens que morrem, jovens que nunca souberam o porquê da guerra são enviados ao combate”-finalizou. Assim sendo, de acordo com o entrevistado, o fosso entre ricos e pobres vai aumentando a olhos vistos o que não ajuda o país.

Faltou uma verdadeira reconciliação: para se chegar a um extremo como este de voltar-se as armas, diz Brazão Mazula que entende que tudo aconteceu porque, logo depois da assinatura dos Acordos Gerais da Paz (AGP) em 1992, entre o governo e a Renamo, faltou uma verdadeira reconciliação, uma reconciliação cultural, em que as duas partes poderiam sentar numa esteira e ambos comerem juntos, tudo para o bem do país.

Por outro lado, o académico foi mais longe ao afirmar a reconciliação não foi efectiva, porque não bastou apenas o calar das armas, faltou uma convicção assumida sobre a reconciliação.

“Não há diálogo cultural no nosso país, porque a reconciliação faz-se com um diálogo cultural, não simplesmente um diálogo político”- rematou Mazula para depois explicar que “ a reconciliação também se faz com pessoas que pensam diferente, pessoas que vêem o país de outra forma, mas todos eles que se sentam numa esteira chamada Moçambique”- disse.

Na óptica daquele académico, faltou tudo isso, porque não se faz reconciliação apenas do lado político, mas também ao nível económico, psicológico, cultural etc. E para que salvemos a geração vindoura, temos de acreditar que a reconciliação não é apenas o que se fez no país, mas precisamos de muito mais.

A dado passo, Mazula disse que coloca a hipótese de ter faltado uma reconciliação séria e um diálogo cultural e que a reconciliação devia ter sido um programa de acção governativa, da acção política e da acção social, mas não o foi porque ninguém se comprometeu com a reconciliação.

“Hoje, são os jovens que são levados para a guerra, significa que esta juventude está educada na violência como solução do problema, o que é grave”- desabafou.

Zefanias termina a sua entrevista referindo que Brazão Mazula é docente de alguns cursos na Universidade Católica de Moçambique, Faculdade de Ciências Sociais e Políticas de Quelimane, e que foi que foi lá,em Quelimane, que o foram encontrar e lhe pediram esta entrevista.

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