"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



domingo, 16 de setembro de 2012

A história da Frelimo é pior que a da PIDE colonial

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O outro lado da história do partido no poder
-diz o membro do Conselho do Estado, António Muchanga
Antonio_Muchanga“A lei do fuzilamento foi aprovada e havia um tribunal que fazia cumprir esses mandatos. É preciso trazer isso para a memória colectiva dos moçambicanos. E só dessa maneira é que vamos perceber que a Frelimo se reconciliou com todo o seu povo, e não ir ao “simpósio” para ocultar algumas fases da história e contar o que convém”- António Muchanga, membro do Conselho do Estado
“Dentro da nossa inocência e como continuadores da Revolução Moçambicana, cantávamos a favor da Frelimo. A Frelimo praticou fuzilamentos públicos. Nós sabíamos que a PIDE matava pessoas, mas nunca conseguíamos ver. Sabíamos que a PIDE fazia desaparecer pessoas porque nunca conseguimos entrar em contacto com os cadáveres dessas pessoas. Mas a Frelimo matava em comícios populares. São exemplos disso, Gulamo Naby e José Manderero e outros – António Muchanga, do Partido Renamo
Cláudio Saúte
CMC_153snasp1 CMC_153snasp2Na semana passada foi realizada uma conferência do partido Frelimo, que foi denominada por “simpósio” das Comemorações dos 50 anos desta associação que persegue objectivos políticos. Mas há muitos historiadores que dizem que de facto o partido Frelimo não está a completar 50 anos, mas, sim, apenas 35 anos. Estes que afirmam que o Partido Frelimo tem apenas 35 anos, alegam que o partido Frelimo foi fundando, como partido, a 03 de Fevereiro de 1977. Alegam ainda que antes disso o que havia era um movimento de libertação, denominado Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).
No III Congresso do partido Frelimo foi extinta a Frente de Libertação de Moçambique e criado o partido Frelimo Marxista-Leninista.
Seguiu-se uma ampla campanha de “estruturação do partido” como recordam os historiadores e os jornais da época que reportaram este facto e não deixam mentir.
O tal “simpósio” serviu da Matola, no último fim-de-semana, organizado para exaltar os feitos positivos do partido Frelimo. Mas, na verdade, o percurso desde a criação do partido Frelimo até hoje não foi só repleto de coisas boas.
Nem mesmo durante o período de luta pela independência nacional, e quando existia a Frente de Libertação de Moçambique sob o acrónimo FRELIMO de que o partido hoje existente usurpou a designação ao converter-se em Marxista-Leninista e de que foi primeiro presidente Samora Moisés Machel que no entanto não foi o primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique, pois desta foi o Professor Dr. Eduardo Chivambo Mondlane.
Em todo este processo desde os primórdios da luta de libertação nacional houve muitas torturas, matanças, perseguições, cárceres e outras formas de eliminação e admoestação compulsiva de quem pensava de forma diferente do Marxismo-Leninismo apregoado por um certo grupo dentro da Frente de
Libertação de Moçambique, grupo esse que assumiu em 1977, após a Independência Nacional, no III Congresso o controlo da situação. Por via da eliminação física de todos os opositores conseguia assim chegar ao ponto a que queriam, acabando no entanto por suscitar uma guerra civil de consequências desastrosas.
Por essa razão, muitas vozes levantaram-se hoje indignando-se com o que consideram ser a lavagem da história, pelo facto de só se contar o lado “glorioso” da Frelimo. Uma dessas vozes é o conhecido António Muchanga, ex-deputado da Renamo e membro do Conselho do Estado, que concedeu esta entrevista ao Canal de Moçambique para denunciar a “distorção da história”.
António Muchanga chegou a comparar a actuação do partido Frelimo, através do Serviço Nacional de Segurança Pública (SNASP) à actuação da polícia política colonial, a PIDE-DGS. Disse mesmo que a máquina de repressão e tortura adoptada pelo partido Frelimo no período pôs Independência, ultrapassou de longe as acções da PIDE/DGS as famigeradas versões da polícia política colonial dos regimes de Oliveira Salazar e Marcelo Caetano, respectivamente.
“Quando comparamos as estruturas da PIDE e do partido Frelimo, vemos que a Frelimo ultrapassou de longe a PIDE. Essa parte da história não foi contada no “simpósio” da Frelimo realizado a semana passada na Matola. A outra parte não contada, foi a operação de recolha das prostitutas e das Testemunhas de Jeová que foram carregadas e abandonadas no mato, para serem devorados por animais”, lembra António Muchanga.
“Dentro da nossa inocência e como continuadores da Revolução moçambicana, cantávamos a favor da Frelimo. A Frelimo praticou fuzilamentos públicos. Nós sabíamos que a PIDE matava pessoas, mas nunca conseguíamos ver.
Sabíamos que a PIDE fazia desaparecer pessoas porque nunca conseguimos entrar em contacto com os cadáveres dessas pessoas. Mas a Frelimo matava em comícios populares. São exemplos disso, Gulamo Naby e José Manderero e outros”, continua a lembrar o membro do Conselho do Estado.
Segundo Muchanga, estes e outros factos fazem parte do processo da governação da Frelimo. São factos históricos     marcantes para os moçambicanos e que um dos oradores deveria ter tido a coragem de levantar e falar no tal “simpósio” da Matola onde só se falou do que convém.
“Estas coisas, algumas estão escritas. A lei do fuzilamento foi aprovada, havia um tribunal que fazia cumprir esses mandatos. É preciso trazer isso para a memória colectiva dos moçambicanos, e só dessa maneira é que vamos perceber que a Frelimo para se reconciliar com todo o povo não deve estar aí a saltar algumas fases da história e contar só o que convém”, disse sublinhando que a história tem a parte negra e isso é claro.
Muchanga acrescentou que a Frelimo diz que tinha que atacar algumas igrejas porque representavam interesses da PIDE-DGS. Mas este membro do Conselho do Estado defende que nem todos os padres, nem todos os sacerdotes estavam envolvidos nos esquemas da PIDE.
Fazendo uma comparação factual, António Muchanga diz que actualmente acontece a mesma coisa. Na Frelimo, existem indivíduos que mataram pessoas sem que elas tivessem culpa, acusaram, prenderam e mataram.
Arrancaram esposas dos outros, arrancaram propriedades alheias e enriqueceram-se ilicitamente roubando às outras pessoas e ao Estado, mas não aceitam que todos os membros da Frelimo sejam tratados como ladrões.
“Queremos que o Governo clarifique esta situação”.
Testemunho das torturas da Frelimo
Muchanga conta, por exemplo, que na sua aldeia, em Manjacaze, província de Gaza, assistiu a cenas de pessoas a serem chamboqueadas porque vendiam pão e compravam farinha para alimentar as suas famílias.
António Muchanga recorda que a Assembleia Popular em 1983 aprovou a Lei de Chicotada. Era então presidente da Assembleia Popular do tempo do partido único, Marcelino dos Santos.
As pessoas eram chamboqueadas em frente dos seus pais e filhos. Tinha que estar alguém sentado na nuca e outro nas pernas. A população tinha que cantar perante as torturas, afirma António Muchanga agora membro do Conselho do Estado eleito pela Assembleia da República de que já foi deputado pelo partido Renamo.
Este Conselheiro do Estado admite que dentro da inocência ele e outros jovens na altura “continuadores”, cantavam, enquanto pessoas eram chamboqueadas. Disse que eles sabiam que a PIDE matava pessoas mas nunca conseguiam ver. Sabiam também que a PIDE fazia desaparecer pessoas porque nunca conseguimos entrar em contacto com os cadáveres.
Mas a Frelimo matava em comícios populares.
Satisfeito por algumas verdades
António Muchanga disse que está satisfeito por saber que alguns camaradas da linha dura da Frelimo reconhecem que os estatutos vindos da UDENAMO foram redigidos por Marcelino dos Santos, antigo presidente da Assembleia Popular.
“Há um reconhecimento de que Marcelino dos Santos é uma das pessoas que redigiu os estatutos provenientes da UDENAMO. Porque parece haver dúvidas sobre a heroicidade de Marcelino dos Santos. Também parece haver dúvidas de que Mondlane foi candidato da UDENAMO.
Foi interessante ouvir isto, mas é preciso completar o que falta”, pede António
Canal de Moçambique – 20.06.2012

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