"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



terça-feira, 25 de setembro de 2012

“As pessoas não falam à vontade na Frelimo e na sociedade”

 
Jorge Rebelo quebrou os consensos no congresso de Pemba.
- “No passado,  a Frelimo não era assim”, Jorge Rebelo
- “Nós crescemos sem amarguras, sem convencimento de que só uns é que sabem. Eu acho que esta abertura, esta humildade de ouvir dos outros é que são as marcas que fizeram esta nossa organização”, Jorge Rebelo.
Ao segundo dia, Jorge Rebelo afirmou-se como a voz dissonante do X congresso da Frelimo, que decorre em Pemba, quebrando o ambiente de unanimidades, que vinha desde o primeiro dia de trabalhos. Rebelo foi ao pódio reclamar maior abertura para os membros poderem apresentar as suas opiniões, “que, quando divergem das opiniões oficiais,  ou são proibidas ou são reprimidas, no momento em que as pessoas querem falar.”
Jorge Rebelo vincou que “sem diálogo, não vamos longe. Temos que permitir às pessoas falarem sem qualquer medo de represálias.” Neste momento, ajuntou, “isso não acontece no nosso partido e na sociedade em geral.”
Rebelo disse que  a intimidação manifesta-se de forma mais grave na comunicação social, segundo suas palavras,  amordaçada por agentes do Estado.
Para o ideólogo da Frelimo, o  perigo disso é os chefes não terem a percepção do que os membros pensam e querem e, consequentemente, não poderem tomar as medidas necessárias para corrigir os seus erros. Rebelo entende que ninguém é perfeito. “Mesmo  os chefes erram. Por isso, é preciso que saibam o que a população pensa.”
Já fora da sessão, perguntámos-lhe se “foi sempre assim na Frelimo”. Jorge Rebelo respondeu que “no passado, não era assim. Espero que este congresso encontre um caminho para poder haver abertura. Havendo abertura, este partido seria muito mais forte.”
Na sua intervenção na sessão do congresso, Jorge Rebelo abordou igualmente a unidade nacional. Disse que era uma questão importante para o país, “mas, muitas vezes, a unidade nacional é apenas um slogan utilizado nos discursos.  Não se indica qual o conteúdo dessa unidade nacional.”
Acrescentou que, “ultimamente, fico preocupado quando oiço certos pronunciamentos de dirigentes altos da Frelimo, que querem dividir-nos, que dizem haver moçambicanos genuínos e não genuínos. Eu próprio já não sei se sou genuíno. Será pela cor? O Manuel Tomé e a Graça (Machel) são bem mais claros que eu”, brincou, para logo a seguir retomar o ar sério: “Esta é uma questão séria”.
ÓSCAR MONTEIRO ASSINA POR BAIXO
Óscar Monteiro, outro histórico da Frelimo, corrobora as palavras de Jorge Rebelo. Entrevistado pelo nosso jornal à margem do congresso, o antigo ministro de Samora Machel entende que, numa organização, há sempre a tendência de as pessoas pensarem que todos os assuntos já estão resolvidos.  “O partido Frelimo cresceu através do debate e da incorporação permanente de novos conhecimentos. Isso pressupõe irmos buscar as pessoas a cada momento, através da discussão, o que elas têm para dar para enriquecer o pensamento colectivo.”

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Mulémbwè diz-se disponível para suceder a Guebuza


Tabu da sucessão desvenda-se pouco a pouco.
  • “Espero que este congresso seja capaz de pôr, à frente da sua máquina, pessoas que estejam comprometidas com a causa do povo, pessoas que vão servir este povo, pessoas que ponham os seus interesses pessoais não acima dos interesses populares.” Eduardo Mulémbwè;
  • “Eu julgo, modéstia à parte, que devo ser conhecedor, embora modesto, de como as coisas acontecem.” Eduardo Mulémbwè;
  •  “Até pode ser que seja julgado capaz, mas os meus companheiros acharem que não é oportuno.” Eduardo Mulémbwè
O há muito esperado X Congresso da Frelimo arrancou, ontem, em Pemba, mas a revelação mais importante veio dos corredores do evento. Em entrevista ao “O País”, Eduardo Mulémbwè, membro da Comissão Política cessante, abriu a porta à candidatura para a sucessão de Armando Guebuza. Diz que tem obra feita, é “conhecedor das coisas” e se os camaradas acharem que é oportuno, não dirá não. Enquanto isso, Luísa Diogo joga à defesa. Diz que “não faz sentido” falar-se na sua candidatura.
Enquanto no enorme pavilhão de eventos, os cerca de dois mil delegados e pouco mais de mil convidados começavam o congresso em ambiente de verdadeira festa, sem melindres e com unanimidades nas principais matérias do primeiro dia, designadamente, a eleição dos membros dos órgãos do congresso e a apreciação ao relatório do Comité Central, do lado de fora, vinham as mais ansiadas novidades do evento.
Entrevistado ao intervalo da sessão de ontem, Eduardo Mulémbwè disse que, “para além de discutirmos as grandes questões relacionadas com o nosso povo, temos de estar à altura de sermos capazes de escolher dirigentes, quadros, que estejam à altura deste grande desafio. Espero que este congresso seja capaz de pôr, à frente da sua máquina, pessoas que estejam comprometidas com a causa do povo, pessoas que vão servir este povo, pessoas que ponham os seus interesses pessoais não acima dos interesses populares.”
Eduardo Mulémbwè referiu que a sua expectativa à volta do congresso é enorme.
É visto como presidenciável. Como é que reage a isso?
Eu disse-vos sempre, eu tive o privilégio de participar na Frelimo já de há algum tempo para cá. Eu julgo, modéstia à parte, que devo ser conhecedor, embora modesto, de como as coisas acontecem. Essas percepções são ideias ou de uma pessoa ou de algumas pessoas. Mas têm que estar sob regra, têm de surgir de propostas dentro do partido.
Mulémbwè acrescentou ainda que “tudo o que pude tentar fazer ao longo da minha vida não foi porque me achei que era capaz de fazer. Até pode, mas os meus companheiros podem não julgar que seja capaz. Até pode ser que seja julgado capaz, mas os meus companheiros acharem que não é oportuno.”
Mais taxativo, Mulémbwè disse que, “quando me perguntam o que é que acho (da candidatura à liderança do partido), eu deixo à liberdade das pessoas que digam o que pensam sobre mim.”
Insistimos: e se o partido disser para avançar?
 “Eu não ponho a carroça à frente dos bois (...)”, respondeu, fugindo.
Leia mais na edição impressa do «Jornal O País»

Bakhir transferido para quartel de Moamba

24 de Setembro de 2012, 11:52

O empresário Mohamed Bakhir Ayoob foi transferido no passado fim-de-semana das celas da Força de Intervenção Rápida, onde esteve encarcerado, para o quartel da FIR em Moamba, na província de Maputo, avançou esta segunda-feira, o Canal Moz.
Fontes policiais garantiram ao Canalmoz que Bakhir esteve a tentar  comunicar com Arlindo Timane, outro detido pela Polícia, acusado de ser um dos operacionais dos raptos.
Bakhir, acusado de ser o mandante dos sequestros e assassinatos de empresários mulçumanos em Maputo foi detido na passada sexta-feira numa operação de forças especiais da Polícia da República de Moçambique.
Ainda segundo fontes policiais, Bakhir já começou a ser interrogado pela FIR e teria confessado que possui(a) dívidas avultadas com o empresário Ahmad Jassat, que foi morto há meses vítima de baleamentos, na Avenida 24 de Julho, em Maputo.  Segundo o Canal Moz, Bakhir teria confessado ainda deter dívidas com os donos da “Mundo Câmbios” e “Africâmbios”, dois empresários que também sofreram tentativas de raptos nos últimos meses.
Ao tudo, Bakhir teria confessado à FIR que tem dívidas acima de 17 milhões de dólares, conforme indicado ao Canalmoz de fontes ligadas à Polícia.
Notificados para depor
O Canalmoz explica que apesar de a prisão ainda não estar legalizada, há cidadãos a serem notificados para serem ouvidos pela FIR. Foram apurados os nomes de Selvanir Hanifi e Leyla Brito, senhoras das relações de Bakhir que teriam recebido duas viaturas de luxo avaliadas quase 180 mil dólares, como presente, após o rapto de uma senhora ligada aos donos da “Delta Trading”.
Quem é Bakhir
O empresário Mohamed Bakhir é proprietário de muitas lojas na cidade de Maputo, entre as quais “Bakhir Cel Shop”, “Bakhir Game Shop”, “Bakhir Auto Style”. Este empresário é filho da dona da “Electromundo”, uma famosa loja localizada na avenida Vlademir Lenine, na cidade de Maputo. O tio de Mohamed Bakhir foi morto a tiro, na década de 1990, na cidade de Maputo e a sua mã passou a assumir os negócios familiares.
Bakhir é casado com Zeinab Bachir, filha do empresário Momade Bachir Sulemane (MBS), o dono “Maputo Shopping Center”.

De que é acusado Bakhir

Conforme o Canalmoz apurou de fontes policiais, Bakhir é acusado de vários raptos e assassinatos de empresários moçambicanos, muçulmanos. De trinta ano de idade, o empresário Bakhir é investigado no caso do assassinato do empresário Ahmad Jassat, dono da “Expresso Câmbios”, que foi baleado há meses na cidade de Maputo, na Avenida 24 de Julho, tendo falecido na vizinha África do Sul, numa unidade hospitalar. Bakhir é acusado ainda de assassinato do empresário Momade Ayob, do grupo “Ayob Comercial”, que também foi morto numa tarde de sexta-feira, por volta das 13 horas, à frente da mesquita E-Jilani, na rua Rainha Nomatuku em Maputo.

Os raptos

Pesam ainda contra Bakhir acusações de ser mandante de alguns raptos consumados e fracassados, de empresários muçulmanos e ismaelitas na capital. É o caso do rapto fracassado que ocorreu em Novembro de 2011, onde tentou raptar o proprietário da “Mundo de Câmbios”, de nome Kasif, na zona da Belita. Também o caso da tentativa falhada de rapto do proprietário da “Africâmbios”, mas que foi confundido com o seu empregado. É ainda indiciado de rapto de uma senhora ismaelita, familiar de donos da “Delta Trading”. Ainda é acusado no caso de rapto de Ibrahimo “Machava”, proprietário dos “Armazéns Machava”. Também é acusado no caso de rapto do  proprietário dos “Armazéns Favorita”, de nome  Salim, e no rapto de proprietário da SOMOFER, de nome Yaqub.
A Polícia estava ao encalço de Bakhir há alguns meses, mas esta sexta-feira foi consumada a sua detenção, depois de existir o mandato de busca na sua residência.
Perda de mais de três milhões de dólares em casinos sul-africanos
A Polícia soube também junto de fontes da polícia sul-africana que o genro de Bakhir teria perdido em casinos sul-africanos cerca de 24 milhões de rands, equivalente a três milhões de dólares.
Máximo Dias convidado para advogado do genro de Bakhir
O advogado e político Máximo Dias foi convidado para a defesa de Bakhir.
Contactado pelo Canalmoz, Máximo Dias disse que apenas foi chamado para acompanhar o empresário Bakhir nos depoimentos à Polícia, negando que tenha sido constituído advogado de Bakhir.
Quanto à detenção de Bakhir, Máximo Dias disse no contacto telefónico com o Canalmoz que Bakhir “foi intimado para depor” e que “não sabe se será detido ou não”, entretanto Bakhir acabou por ficar detido.
Milhões para libertar Bakhir
Entretanto, fontes policiais alegam que está em curso uma movimentação de advogados influentes da praça, para estes pagarem caução em elevadas somas de dinheiro a fim de garantir a soltura do genro de Bakhir, para responder o caso em liberdade, mediante o termo de identidade e residência.
De acordo com o Canalmoz, o dinheiro em movimento, não será apenas para pagar a caução. Fontes policiais terão referido que o juiz da instrução criminal que deve legalizar ou não a prisão de Bakhir está a ser pressionada para libertar Bakhir. Pessoas próximas do empresário Bakhir têm a certeza que o mesmo será liberto entre a próxima quarta-feira e quinta-feira.

domingo, 16 de setembro de 2012

Maomé/Filme: Ataque a consulado vinga morte de "número 2" da Al-Qaida - rede extremista

16 de Setembro de 2012, 10:07

O ataque contra o consulado norte-americano em Benghazi, no leste da Líbia, "vinga" a morte do "número dois" da Al-Qaida, Abu Yahya al-Libi, afirmou o ramo iemenita da rede extremista, avança a Inforpress. “A morte do xeque Abu Yahya al-Libi (…) estimulou o entusiasmo e a determinação dos filhos de Omar al-Mokhtar [líder da resistência líbia contra a colonização italiana] a vingarem-se dos que ridicularizaram e atacaram o nosso profeta”, indica a Al-Qaida na Península Arábica (AQPA) num comunicado citado pelo centro norte-americano de vigilância dos "sites" islâmicos SITE..
A AQPA não reivindica diretamente em nome da Al-Qaida o ataque ao consulado que coincidiu com o aniversário dos atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos e que causou a morte de quatro norte-americanos, incluindo o embaixador Chris Stevens.
Abu Yahya al-Libi foi morto no início de junho no Paquistão num ataque de um avião não tripulado (“drone”) norte-americano. Na véspera do 11.º aniversário do 11 de setembro, o líder da Al-Qaida, Ayman Al-Zawahiri, divulgou um vídeo confirmando a morte do seu “braço direito”.
O consulado em Benghazi foi atacado durante um protesto contra um filme realizado nos Estados Unidos que retrata a vida do profeta Maomé e é considerado insultuoso para o Islão.
“O levantamento do nosso povo na Líbia, Egito e Iémen contra a América e as suas embaixadas é um sinal para indicar aos Estados Unidos que a sua guerra não é dirigida contra grupos e organizações (…) mas contra a nação islâmica que se levantou contra a injustiça, a fraqueza…”, refere o comunicado da AQPA.
O presidente da Assembleia Nacional líbia, Mohamed al-Megaryef, afirmou hoje, numa entrevista à agência France Presse, que elementos estrangeiros estiveram implicados no ataque ao consulado norte-americano em Benghazi e que a ação foi planificada e meticulosamente executada.

A história da Frelimo é pior que a da PIDE colonial

Ouvir com webReader
O outro lado da história do partido no poder
-diz o membro do Conselho do Estado, António Muchanga
Antonio_Muchanga“A lei do fuzilamento foi aprovada e havia um tribunal que fazia cumprir esses mandatos. É preciso trazer isso para a memória colectiva dos moçambicanos. E só dessa maneira é que vamos perceber que a Frelimo se reconciliou com todo o seu povo, e não ir ao “simpósio” para ocultar algumas fases da história e contar o que convém”- António Muchanga, membro do Conselho do Estado
“Dentro da nossa inocência e como continuadores da Revolução Moçambicana, cantávamos a favor da Frelimo. A Frelimo praticou fuzilamentos públicos. Nós sabíamos que a PIDE matava pessoas, mas nunca conseguíamos ver. Sabíamos que a PIDE fazia desaparecer pessoas porque nunca conseguimos entrar em contacto com os cadáveres dessas pessoas. Mas a Frelimo matava em comícios populares. São exemplos disso, Gulamo Naby e José Manderero e outros – António Muchanga, do Partido Renamo
Cláudio Saúte
CMC_153snasp1 CMC_153snasp2Na semana passada foi realizada uma conferência do partido Frelimo, que foi denominada por “simpósio” das Comemorações dos 50 anos desta associação que persegue objectivos políticos. Mas há muitos historiadores que dizem que de facto o partido Frelimo não está a completar 50 anos, mas, sim, apenas 35 anos. Estes que afirmam que o Partido Frelimo tem apenas 35 anos, alegam que o partido Frelimo foi fundando, como partido, a 03 de Fevereiro de 1977. Alegam ainda que antes disso o que havia era um movimento de libertação, denominado Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).
No III Congresso do partido Frelimo foi extinta a Frente de Libertação de Moçambique e criado o partido Frelimo Marxista-Leninista.
Seguiu-se uma ampla campanha de “estruturação do partido” como recordam os historiadores e os jornais da época que reportaram este facto e não deixam mentir.
O tal “simpósio” serviu da Matola, no último fim-de-semana, organizado para exaltar os feitos positivos do partido Frelimo. Mas, na verdade, o percurso desde a criação do partido Frelimo até hoje não foi só repleto de coisas boas.
Nem mesmo durante o período de luta pela independência nacional, e quando existia a Frente de Libertação de Moçambique sob o acrónimo FRELIMO de que o partido hoje existente usurpou a designação ao converter-se em Marxista-Leninista e de que foi primeiro presidente Samora Moisés Machel que no entanto não foi o primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique, pois desta foi o Professor Dr. Eduardo Chivambo Mondlane.
Em todo este processo desde os primórdios da luta de libertação nacional houve muitas torturas, matanças, perseguições, cárceres e outras formas de eliminação e admoestação compulsiva de quem pensava de forma diferente do Marxismo-Leninismo apregoado por um certo grupo dentro da Frente de
Libertação de Moçambique, grupo esse que assumiu em 1977, após a Independência Nacional, no III Congresso o controlo da situação. Por via da eliminação física de todos os opositores conseguia assim chegar ao ponto a que queriam, acabando no entanto por suscitar uma guerra civil de consequências desastrosas.
Por essa razão, muitas vozes levantaram-se hoje indignando-se com o que consideram ser a lavagem da história, pelo facto de só se contar o lado “glorioso” da Frelimo. Uma dessas vozes é o conhecido António Muchanga, ex-deputado da Renamo e membro do Conselho do Estado, que concedeu esta entrevista ao Canal de Moçambique para denunciar a “distorção da história”.
António Muchanga chegou a comparar a actuação do partido Frelimo, através do Serviço Nacional de Segurança Pública (SNASP) à actuação da polícia política colonial, a PIDE-DGS. Disse mesmo que a máquina de repressão e tortura adoptada pelo partido Frelimo no período pôs Independência, ultrapassou de longe as acções da PIDE/DGS as famigeradas versões da polícia política colonial dos regimes de Oliveira Salazar e Marcelo Caetano, respectivamente.
“Quando comparamos as estruturas da PIDE e do partido Frelimo, vemos que a Frelimo ultrapassou de longe a PIDE. Essa parte da história não foi contada no “simpósio” da Frelimo realizado a semana passada na Matola. A outra parte não contada, foi a operação de recolha das prostitutas e das Testemunhas de Jeová que foram carregadas e abandonadas no mato, para serem devorados por animais”, lembra António Muchanga.
“Dentro da nossa inocência e como continuadores da Revolução moçambicana, cantávamos a favor da Frelimo. A Frelimo praticou fuzilamentos públicos. Nós sabíamos que a PIDE matava pessoas, mas nunca conseguíamos ver.
Sabíamos que a PIDE fazia desaparecer pessoas porque nunca conseguimos entrar em contacto com os cadáveres dessas pessoas. Mas a Frelimo matava em comícios populares. São exemplos disso, Gulamo Naby e José Manderero e outros”, continua a lembrar o membro do Conselho do Estado.
Segundo Muchanga, estes e outros factos fazem parte do processo da governação da Frelimo. São factos históricos     marcantes para os moçambicanos e que um dos oradores deveria ter tido a coragem de levantar e falar no tal “simpósio” da Matola onde só se falou do que convém.
“Estas coisas, algumas estão escritas. A lei do fuzilamento foi aprovada, havia um tribunal que fazia cumprir esses mandatos. É preciso trazer isso para a memória colectiva dos moçambicanos, e só dessa maneira é que vamos perceber que a Frelimo para se reconciliar com todo o povo não deve estar aí a saltar algumas fases da história e contar só o que convém”, disse sublinhando que a história tem a parte negra e isso é claro.
Muchanga acrescentou que a Frelimo diz que tinha que atacar algumas igrejas porque representavam interesses da PIDE-DGS. Mas este membro do Conselho do Estado defende que nem todos os padres, nem todos os sacerdotes estavam envolvidos nos esquemas da PIDE.
Fazendo uma comparação factual, António Muchanga diz que actualmente acontece a mesma coisa. Na Frelimo, existem indivíduos que mataram pessoas sem que elas tivessem culpa, acusaram, prenderam e mataram.
Arrancaram esposas dos outros, arrancaram propriedades alheias e enriqueceram-se ilicitamente roubando às outras pessoas e ao Estado, mas não aceitam que todos os membros da Frelimo sejam tratados como ladrões.
“Queremos que o Governo clarifique esta situação”.
Testemunho das torturas da Frelimo
Muchanga conta, por exemplo, que na sua aldeia, em Manjacaze, província de Gaza, assistiu a cenas de pessoas a serem chamboqueadas porque vendiam pão e compravam farinha para alimentar as suas famílias.
António Muchanga recorda que a Assembleia Popular em 1983 aprovou a Lei de Chicotada. Era então presidente da Assembleia Popular do tempo do partido único, Marcelino dos Santos.
As pessoas eram chamboqueadas em frente dos seus pais e filhos. Tinha que estar alguém sentado na nuca e outro nas pernas. A população tinha que cantar perante as torturas, afirma António Muchanga agora membro do Conselho do Estado eleito pela Assembleia da República de que já foi deputado pelo partido Renamo.
Este Conselheiro do Estado admite que dentro da inocência ele e outros jovens na altura “continuadores”, cantavam, enquanto pessoas eram chamboqueadas. Disse que eles sabiam que a PIDE matava pessoas mas nunca conseguiam ver. Sabiam também que a PIDE fazia desaparecer pessoas porque nunca conseguimos entrar em contacto com os cadáveres.
Mas a Frelimo matava em comícios populares.
Satisfeito por algumas verdades
António Muchanga disse que está satisfeito por saber que alguns camaradas da linha dura da Frelimo reconhecem que os estatutos vindos da UDENAMO foram redigidos por Marcelino dos Santos, antigo presidente da Assembleia Popular.
“Há um reconhecimento de que Marcelino dos Santos é uma das pessoas que redigiu os estatutos provenientes da UDENAMO. Porque parece haver dúvidas sobre a heroicidade de Marcelino dos Santos. Também parece haver dúvidas de que Mondlane foi candidato da UDENAMO.
Foi interessante ouvir isto, mas é preciso completar o que falta”, pede António
Canal de Moçambique – 20.06.2012

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

“Houve tentativas de manipulação nas reivindicações dos muçulmanos”

“Houve tentativas de manipulação nas reivindicações dos muçulmanos”Segundo o sociólogo Gulamo Tajú
O sociólogo Gulamo Tajú concedeu-nos uma entrevista onde, de entre outros temas, analisa o movimento de reivindicação dos muçulmanos, desencadeado nas últimas semanas. Tajú diz que este movimento não é alheio ao X congresso da Frelimo, que se avizinha

Como é que explica a emergência do Movimento Islâmico de Moçambique?
O movimento desta natureza não é algo linear. Em primeiro lugar, a criminalidade que nos últimos tempos se manifestou, particularmente sentida entre alguns elementos da comunidade muçulmana sob forma de raptos. Então, o elemento inicial despoletado deste movimento é esta situação de que a onda de criminalidade recrudesceu nos últimos tempos, com esta manifestação de raptos em reivindicação de pagamentos de dinheiro para libertação dessas pessoas.
O que se procedeu nos encontros, depois de algumas exigências, começando com o reforço da segurança, foi caminhando para um nível político mais prático. Segundo o discurso público, nesta estação, de Amad Camal, um dos aspectos fulcrais é negociar a participação, a inclusão dos muçulmanos.
Esta é a expressão. Negociar com a Frelimo a inclusão dos muçulmanos no poder, porque a Frelimo nos próximos 10 anos vai ser o partido no poder. É o que eu ouvi. Saiu da simples exigência do reforço da segurança da criminalidade para uma exigência da inclusão dos muçulmanos no poder.
Acha que a questão de segurança foi um protesto?
Pode não ter sido, provavelmente para um conjunto de movimentos sociais. Nem toda a gente tem a mesma agenda que toca a todos. Com o tempo, alguns passam a não se identificar com o mesmo. Não sei se será para todos ou um processo para alguns.
Sob ponto de vista de liderança, ir buscar um elemento aglutinador como a segurança era um elemento fundamental sob ponto de vista das pessoas?
Penso que lá dentro há pessoas que, genuinamente, foram por razões de segurança e aquela era a melhor forma de exigirem, mas há outros que não era essa a visão. Como se disse nas reuniões convocadas, apareceram pessoas de outras congregações religiosas e de partidos políticos. Um segmento naturalmente faz uso deste para outras oportunidades e começa acentuar esta questão de negociar com a Frelimo a inclusão dos muçulmanos no poder, porque a Frelimo nos próximos 10 anos é previsível que seja o partido no poder. Portanto, esta é a linguagem de Camal. Estamos à beira de um congresso, não há melhor oportunidade para fazer passar alguma ideia e reivindicação para isso, mas depois ele acrescenta: diz que muito por culpa dos intelectuais e dos media está a racializar-se, adjectizar-se este movimento. Estas são as palavras de Camal e que 98% dos muçulmanos deste país são negros e pobres.
Qual é o alcance desta mensagem?
Em primeiro lugar, por que a história dos muçulmanos no poder? Temos um país em que o poder não está constituído de forma linear, racial, regional e nem religiosamente, muito menos de outra natureza, não é esse o princípio.
Como explica este súbito apetite dos muçulmanos?
De que muçulmanos? Essa é a pergunta! Eu sou muçulmano de origem familiar, pelo menos até à geração dos meus bisavós, do que me contaram, são todos muçulmanos, tanto do meu pai assim como da minha mãe. Mas temos parentes cristãos, a mãe das minhas filhas é católica apostólica Romana. A questão é: de que muçulmanos estão a falar, embora o poder não esteja constituído em linhas religiosas. Temos um primeiro-ministro que é muçulmano; temos um provedor da justiça que é muçulmano; temos um ministro da planificação e desenvolvimento; vice-ministro dos recursos minerais e energia; vereadores das assembleias municipais e deputados que são muçulmanos e não foram para lá por serem muçulmanos, mas como cidadãos moçambicanos. Agora, qual o muçulmano que está a reivindicar? Este grupo com certeza categoriza muçulmanos e muçulmanos. Que fique claro de que muçulmanos se trata.
Este movimento não se afirma como partido político, mas comporta-se como tal: fazem exigências ao estado. Há ali um grupo político em embrião de uma irmandade Islâmica como acontece no Egipto?
Embora ele diga que 98% são negros e pobres, as imagens eram de 2%. O que predominava ali eram os 2% e é um grupo bem definido. Este grupo é que diz que o Ide é hoje e não amanhã, contrariando todo o resto, é um grupo extremamente bem realizado. É um grupo de pertença. Uma identidade é um sentido de pertença ao grupo que convoca alguns recursos, podem ser a língua, a religião, a terra de origem, a irmandade.
Nós temos múltiplas identidades. Eu sou Islâmico, mas sou de Inhambane, sou da UEM e da Matola. Provavelmente, entre o grupo islâmico, haja outros elementos de identidade que são convocados. Não se olhe a comunidade Islâmica como identidade única.
Sobre a questão das identidades, que é a questão central, o grupo mostrou pouca homogenidade. Pareceram homogéneos mas desagregaram-se à medida que o processo foi desenvolvendo. Há distanciamento dos Hindus e Ismaelitas, depois fica a percepção de que são os muçulmanos de Maputo. O que isto significa?
 É exactamente esta questão da multiplicidade de identidade e de recursos identitários que são convocados a formar grupos... dentro da comunidade há elementos de pertença que distinguem e grupalizam ainda mais. Quer dizer que, eventualmente, o Camal convocava para dizer que vocês estão a racializar. A presença não é discurso, foi a própria configuração da comunidade que dá. Isto é mau.

Há uma questão racial dentro da própria comunidade?
Eventualmente que sim. Isto é algo que mesmo nas nossas práticas religiosas sentimos. Em Inhambane existia uma mesquita velha, mais Afro e outra nova mais Ásia. Hoje, provavelmente, as coisas não sejam às mesmas. Alguns seguem o Islão, mas, na verdade, fazem parte de um grupo, os outros fazem por empréstimos.
A relação religiosa e a política tem sido problemáticas desde séculos, muitas vezes por instrumentalização da religião. Estaremos a encaminhar-nos por aí?
Espero que não encaminhemos por aí. Espero que aquelas pessoas tenham ido genuinamente na sua maioria porque o seu primo, amigos e tios foram raptados. Espero que esta solidariedade humana tenha sido a fonte motivadora e que Camal e o seu grupo sejam um grupo pequeno e isolado. Provavelmente o Camal e o seu grupo tinham os seus interesses, que os colocaram dentro de um grupo que estava preocupado com outros problemas.
Voltamos à questão de identidade: Amin Maalouf escreveu um livro com o título “identidades assassinas”, em que ele diz que na história da humanidade a afirmação de si próprio segue tantas vezes a ponte da negação do outro. Estamos perante esta situação?
Toda a identidade é construída para agregação aos semelhantes e por diferenciação dos outros. Eu sou islâmico porque não sou cristão e identifico-me como islâmico e por oposição de diferença do outro. Esta questão da identidade não é natural, biológica, hereditária, é qualquer coisa que é construída em relações sociais e contextuais,  num espaço que me identifico com um e outro. n

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Desmond Tutu defende que Blair e Bush devem ser julgados em Haia

Desmond Tuto  diz que Bush e Blair mentiram sobre a existência de armas químicas no Iraque.
Não é uma posição inédita, mas desta vez foi defendida pelo Nobel da Paz Desmond Tutu. Num artigo publicado no diário britânico Observer, o bispo sul-africano, considerado um herói da luta contra o apartheid, defendeu que George W. Bush e Tony Blair devem ser julgados em Haia devido à guerra no Iraque.
Tutu acusou o anterior presidente norte-americano George W. Bush e o antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair de terem mentido sobre a existência de armas de destruição maciça e disse que a guerra naquel país tornou o mundo mais instável, mais “do que qualquer outro conflito na história”. As acusações não surpreenderam Blair, que já as terá ouvido inúmeras vezes. “É o mesmo argumento que ouvimos muitas vezes”, reagiu, citado pela BBC.
No início desta semana, o bispo sul-africano recusou-se mesmo a liderar um painel de uma conferência em Joanesburgo em que participava Tony Blair. Agora, Tutu defende que a campanha para derrubar o regime de Saddam Hussein em 2003 abriu caminho à guerra civil na Síria e a um possível conflito no Médio Oriente que envolva o Irão. Bush e Blair “levaram-nos para a beira do precipício, onde nos encontramos agora, com o espectro da Síria e do Irão diante de nós”, escreveu Desmond Tutu.