sábado, 22 de maio de 2021
África do Sul vai pressionar por acção militar contra insurgentes em Moçambique
A África do Sul pressionará por uma acção militar urgente da região para reprimir uma insurgência islâmica em Moçambique, que ameaça desestabilizar os países vizinhos, disse, nesta sexta-feira, 21, a chefe da diplomacia Naledi Pandor.
Entrevistada, por telefone, pela Reuters, Pandor disse que o apelo nesse sentido será feito na cimeira da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), na próxima semana, no Botswana.
Na abordagem sobre a insurgência de militantes ligados ao Estado Islâmico, é a primeira vez que a África do Sul dá o seu peso explicitamente à ideia de uma intervenção militar.
"Apoiamos o uso do pacto de defesa. Nunca foi realmente utilizado na região, mas acreditamos que esta é a hora, esta é uma ameaça para a região", disse a titular dos Negócios Estrangeiros.
Ela explicou que “tivemos os nossos colegas, por exemplo na Nigéria, a dizer: 'não permitam que isto saia do control, porque se isso acontecer, vai ficar incontrolável e muito difícil de reverter'. É por isso que acreditamos que é urgentemente necessário que tenhamos acção ".
A Reuters não obteve de imediato comentários do porta-voz do Governo de Moçambique em relacão à posição dos sul-africanos.
Reporta-se que Moçambique tem sido hesitante quanto ao envolvimento militar estrangeiro na luta contra os insurgentes, mas, no mês passado, o presidente Filipe Nyusi disse que o país precisava de ajuda de potências externas, desde que não substituíssem as suas forças armadas.
VOA – 21.05.2021
Tribunal britânico autoriza Privinvest a abrir processo judicial contra o Presidente moçambicano
Caso "dívidas ocultas" envolve Presidente Filipe Nyusi
Um tribunal do Reino Unido autorizou a empresa Privinvest a abrir um processo contra o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, uma reacção ao processo movido pelas autoridades de Maputo àquela companhia no âmbito do conhecido caso das “dívidas ocultas”.
Esta é a primeira vez que Nyusi enfrenta uma acção judicial que pode expô-lo à responsabilidade pessoal, um raro caso de um tribunal britânico a permitir um processo contra um Chefe de Estado estrangeiro.
O caso remonta-se aos anos 2013 e 2014, quando o Governo moçambicano deu um aval a empréstimos para a execução de vários projectos, entre eles a criação de uma frota para a pesca de atum.
Centenas de milhões de dólares foram desviados, em luvas e subornos, segundo as autoridades de Moçambique e a justiça americana.
Os barcos adquiridos e a infraestrutura construída no âmbito do projecto enferrujaram e a frota para a pesca de atum, quando operou, terá tido um desempenho insignificante.
Desde Abril de 2016, quando o escândalo foi revelado pelo actual ministro das Finanças de Moçambique, Adriano Maleiane, numa reunião do FMI em Washington, começaram a ser divulgados vários pormenores, tendo o ex- titular das Finanças, Manuel Chang, sido detido na África do Sul, em Dezembro de 2018, a pedido da justiça americana.
Em causa a lavagem de dinheiro em bancos americanos.
Em 2019, as autoridades de Moçambique entraram com uma acção contra a Privinvest em Londres na tentativa de recuperar os empréstimos e receber compensação.
Este caso e vários outros, incluindo um processo separado contra o banco Crédit Suisse, também envolvido no escândalo, foram transformados num único processo, que agora inclui também a acção pessoal contra o Presidente Filipe Nyusi.
A empresa Privinvest, com sede em Abu Dabhi, e principal parceira das autoridades moçambicanas no processo, nega irregularidades, mas reconhece ter feito pagamentos a dirigentes moçambicanos, incluindo Filipe Nyusi, e ao partido no poder Frelimo.
No entanto, considera que foram contribuições legais para a campanha eleitoral de Nyusi e Frelimo e não subornos.
A empresa de construção naval acrescenta em forma de argumento que se os pagamentos fossem subornos, Nyusi e os outros também seriam culpados por aceitá-los.
Empresário revela ao juiz que "Nuy" se refere ao Presidente mocambicano
O Presidente moçambicano que assumiu o poder em 2015 e era ministro da Defesa durante o período em que ocorreu o caso das dívidas ocultas, sempre negou as irregularidades, tendo sublinhado que as três empresas estatais envolvidas nos projectos não estavam vinculadas ao Ministério da Defesa.
O Governo de Moçambique tem tentado revogar a garantia estatal a uma parte dos empréstimos.
Em nota enviada à agência Reuters, a Privinvest escreveu que "qualquer litígio em Londres ... deve reflectir o envolvimento directo e pessoal ... dos antigos e actuais membros do próprio Governo (de Moçambique)".
A Presidência da República de Moçambique ainda não reagiu.
VOA – 21.05.2021
A JUNTA MILITAR TORNA-SE MAS ACTIVA EM TETE
Por Francisco Nota Moisés
Esquadra policial em Moatize foi atacada por grupo armado desconhecido (20.05.2021) (2)
"Um grupo armado desconhecido atacou, um posto policial no distrito de Moatize, província de Tete, a PRM naquela região do país. De acordo com a chefe do Departamento das Relações Públicas do Comando Provincial da PRM em Tete, Deolinda Matsinhe, disse que o ataque ocorreu na madrugada, contra o posto policial de Caphirizange, no distrito de Moatize, e foi protagonizado por um grupo, em número desconhecido..."
Não se trata dum grupo desconhecido algum. Trata-se duma operação da Junta Militar do rebelde Mariano Nhongo que já empreendeu dois ataques anteriores na mesma aldeia de Caphirizange, no segundo do qual antes desta ultima operação deixaram um texto, um documento histórico de 4 paginas, cujo conteúdo a Frelimo não nos revelou na integra, no qual os atacantes se identificaram como sendo uma força da JM. No documento, os autores assaltam verbalmente Ossufo Momade como sendo um líder inútil para a Renamo e gritaram bem alto para que os frelimistas atirem Felipe Nyusi fora do poder.
O que este artigo diz é o que a Frelimo afirma, mas a verdade pode ser muita outra. Pode ser que os camaradas apanharam uma forte porrada e os rebeldes roubaram, na linguagem da Frelimo, para dizer capturaram, material bélico da Frelimo e levaram outros troféus incluindo talvez alguns camaradas capturados que integrarão as fileiras da JM como a Renamo fazia na guerra dos 16 anos em flagrante violação das regras de Genebra sobre os prisioneiros de guerra que não devem ser integrados nas fileiras dos que os capturam.Obviamente, a Renamo, dirigida militarmente por alguns ignorantes, não sabia da existência de tais regras.
Sinto pena dos camaradas. Como é que vão aguentar com duas guerras -- a do norte e a do centro, esta agora com duas frentes em Manica e Sofala e agora em Tete?
Shauri yao como se diz em Swahili para dizer isto é com eles.
Comité Central da FRELIMO: Cabo Delgado "ultrapassa" Filipe Nyusi
Para o coordenador do Centro de Jornalismo Investigativo Luís Nhanchote, terrorismo é o tema "mais importante para os moçambicanos" na reunião do partido no poder, este fim de semana. Mas falta "dimensão" ao Presidente.
A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, realiza, de 22 a 23 de maio, a sua IV sessão ordinária do Comité Central. Na agenda vão estar "a situação de segurança no norte e centro do país, o programa do partido para 2021 e o balanço das eleições gerais, legislativas e das assembleias provinciais", refere a FRELIMO em comunicado.
A segurança nacional, o terrorismo em Cabo Delgado e os ataques armados da Junta Militar da RENAMO no centro do país, serão os principais "cancros" nacionais com os quais o partido terá de lidar no encontro a ter lugar na Escola da FRELIMO, na Matola.
Para o coordenador do Centro de Jornalismo Investigativo de Moçambique, Luis Nhanchote, Cabo Delgado é a questão "mais importante para os moçambicanos", mas o líder do partido e Presidente da República, Filipe Nyusi, "está diante de um assunto que o ultrapassa" no que toca ao terrorismo no norte do país.
DW África: Como deverão ser tratados estes assuntos pelo maior partido do país?
Luís Nhanchote (LN): Os temas serão tratados de acordo com a demanda de quem manda no partido FRELIMO, que são os macondes. Eles fizeram uma lista de três temas e vão discutir aquilo que quiserem. O primeiro: eleições. Isso é público, mas discutir eleições neste tempo parece surrealismo, não houve mais debate por causa da pandemia. Mas não é o assunto mais importante para os moçambicanos. O assunto mais importante é a guerra em Cabo Delgado. Aquilo que está a acontecer, quais são as soluções, o que é que eles têm a dizer sobre isso.
Acho que a FRELIMO tem aqui um assunto muito grande para discutir, porque é um partido que sempre se definiu de multiplicidade nacional, norte, sul, centro. Não sei que entendimento vão ter, mas tem de ser rápido, porque têm de passar para o terceiro tema: Sofala, a Junta Militar [da RENAMO]. Isso não interessa a ninguém. O assunto mais importante para os moçambicanos que vai ser discutido no Comité Central da FRELIMO, na minha ótica, é a guerra em Cabo Delgado e o que é que a FRELIMO tem para oferecer. O nosso Presidente tem comunicado muito mal, desde que começou este conflito. Primeiro, ficou sete dias sem falar nada, depois dos ataques de Palma. Falou no sétimo dia e, simplesmente, no oitavo dia piorou.
DW África: A unidade nacional parece estar fragmentada e a situação em Cabo Delgado é um dos sinais. Haverá planos para recuperar esta unidade tão defendida pelo partido?
LN: O Presidente Nyusi está diante de um assunto que o ultrapassa. Eu acho que ele não tem a dimensão daquilo que se passa, porque um estadista não pode deixar fazer ataques e ficar sete dias calado.
DW África: Os membros da FRELIMO deverão avaliar os trabalhos da comissão política, do comité de verificação e do gabinete central do partido para a preparação das eleições de 2022. A sucessão deverá ser um dos temas em debate?
A sucessão nunca vai ser um tema em debate neste Comité Central. Isso que fique claro para toda a gente, dentro e fora de Moçambique. Por uma razão muito simples: a FRELIMO sempre foi estruturada em relação à discussão dos seus assuntos e sempre os arrumaram para discutir em função também do público internacional. Eu não acredito que eles vão mudar, desta vez, agendas em relação a um assunto interno. Isso permite a Nyusi ter tempo de olhar para a sua sucessão, porque o debate do seu sucessor é mais fora do que dentro da FRELIMO. Todas as frentes de fora, por exemplo, Chissano e Guebuza, têm sido abordadas por outras tendências. Isso que vai acontecer agora vai sair daquilo que é a lógica da FRELIMO.
DW África: Que relevância será dada às dívidas ocultas, que fragilizaram a imagem do partido e até do próprio Presidente da República?
LN: Não interessa ao Presidente abordar isso, mas interessa-lhe ter Manuel Chang perto de casa, perto da cadeia, o que permite que Filipe Nyusi discuta com ele, através dos seus emissários, o destino que ele deve dar na eventualidade de um julgamento. Se Chang vier para aqui [Moçambique], a sociedade civil vai pressionar para que ele seja julgado. Significa que o Presidente Nyusi, em função daquilo que tem sido dito aqui, sobre o seu envolvimento, vai poder conversar com o ex-ministro das Finanças de modo a não embaraçar o poder político.
DW – 21.05.2021