02/10/2019
É na medida do possível, nalguns casos só com escolta das FDS, diz a CNE. Analista acredita que eleitores ficarão excluídos da votação no dia 15 de outubro. Mas CNE fala em reforço de segurança nesse dia.
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Os relatos da campanha eleitoral mais difundidos pela imprensa e pelos próprios partidos políticos não são com certeza os de Cabo Delgado. Nesta província nortenha de Moçambique vários distritos são praticamente palco de ataques e confrontos armados, ações cuja a frequência neste momento eleitoral aumentou.
Será que a caça ao voto está a acontecer de forma efetiva e segura? Gil Mulhovo, da Sala da Paz, plataforma que monitora o processo eleitoral, afirma: "Na verdade estamos a ter campanhas muito condicionadas justamente por questões relacionadas com segurança."
"Os insurgentes acabam trazendo ameaças relacionadas com o curso normal da campanha. Portanto, é uma campanha extremamente condicionada, onde temos os partidos políticos com muito receio de fazer a campanha", relata Mulhovo.
Campanha só com escolta das FDS em algumas zonas
A CNE, a Comissão Nacional de Eleições, órgão que administra o processo, também assume que a caça ao voto não decorre de forma plena.
Paulo Cuinica é o porta-voz e conta que "está a decorrer na medida do possível. Estão lá partidos políticos e os candidatos a fazerem a campanha, mas condicionados, naturalmente."
"A limitação é esse de fazer [a campanha] até certa hora. Há alguns locais onde é preciso ter muito cuidado para lá chegarem, outros não se chegam sem a escolta das forças de Defesa e Segurança", detalha o porta-voz da CNE.
E é ao som de tiros e outro tipo de violências contra a população na província que o país deverá ir a votos dentro de 13 dias. Por exemplo, recentemente um edifício da FRELIMO, o partido no poder, terá sido incendiado pelos atacantes. E desde que os ataques iniciaram, há quase 3 anos, as populações amedrontadas tem se descolado para lugares mais seguros.
Previsões de exclusão do processo político
E ao que tudo indica, as eleições de 15 de outubro deverão acontecer sob o expectro de guerra. Apontando as possíveis consequências, o analista político Calton Cadeado diz que as "pessoas com certeza vão ficar excluídas de um processo político importante e isto é diminuir ou prejudicar a participação dos cidadãos numa democracia".
"Infelizmente esta violência que está a acontecer em Cabo Delgado, com a probabilidade de assumir até algum tipo de intensidade nas vésperas da votação ou até no próprio dia da votação. Infelizmente não podemos ficar indiferentes a isso", prevê Cadeado.
E o analista deixa tudo em aberto: "Sabemos que noutros países quando se aproximam datas de grande valor político esses grupos têm tendência a fazer aproveitamento político, então é preciso esperar um pouco de tudo."
Mas um processo a meio gás e parcialmente comprometido não é uma marca apenas da caça ao voto. Gil Mulhovo, da Sala da Paz, lembra que já o recenseamento eleitoral foi marcado por uma fraca afluência por causa dos ataques.
"Existirão, sim, regiões onde não poderemos ter postos de votação a funcionar normalmente. Nós estamos a trabalhar num mapeamento das regiões de risco", prevê Mulhovo.
Influência nos resultados eleitorais?
E já que estamos a falar de uma cadeia de eventos, pode-se prever que a instabilidade vai influenciar negativamente os resultados das eleições de 15 de outubro na província?
"Resultados, sim e não, porque não nos esqueçamos que um dos interesses desta violência não deixa de ser mostrar a incapacidade do Estado para alguém tirar os seus dividendos políticos", responde o analista político.
Calton Cadeado prefere responder buscando as motivações dos ataques, até aqui sem cara devidamente identificada: "Tenho associado isso a indústria da segurança militar como um dos principais interessados na questão da demonstração da incapacidade do Estado moçambicano para poder justificar a sua presença na segurança aqui."
Segurança garantida na votação
Sobre um reforço de segurança no dia da votação, Paulo Cuinica da CNE, Comissão Nacional de Eleições, afirma que"há promessa de reforço e nós estamos a trabalhar, a preparar os materiais e os membros das mesas de votação para cobrir todo o país."
E e porta-voz garante que está tudo acautelado: "E as Forças de Defesa e Segurança vão garantir que possamos colocar os materiais. Do nosso lado está tudo preparado para que as eleições aconteçam em todos os locais."
DW – 01.10.2019
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