27/10/2019
O filósofo moçambicano e novo quadro da Renamo (oposição) considerou hoje que uma contestação armada à vitória eleitoral da Frelimo, no poder em Moçambique, seria um ato de ingenuidade, porque apenas resultaria em morte e destruição.
Alberto Ferreira protagonizou um ato raro entre altos quadros do Estado em Moçambique, ao declarar a sua filiação à Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, enquanto ocupa o cargo de diretor da Faculdade de Filosofia da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), a mais antiga e maior instituição do ensino superior do país.
Assumindo-se como cultivador da paz e da tolerância, por força do seu catolicismo, o académico rejeita o cenário de o partido a que aderiu recorrer à pressão militar para contestar os resultados das eleições gerais e provinciais de dia 15, porque, justificou, traria mais sofrimento e não tiraria a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) do poder, que ocupa há mais de 44 anos.
“Seria ingénuo chamar os jovens a pegarem em armas e dizerem ‘lutem’. Esta não é a via, vamos encontrar vias negociais”, defendeu, em entrevista à Lusa.
Apesar de a Renamo ter obrigado pela força militar o Governo da Frelimo a fazer concessões em ocasiões anteriores, o diálogo e as negociações devem ser a plataforma para evitar uma instabilidade provocada pela polémica à volta dos resultados eleitorais.
“Não defendi a guerra e nunca fui pró-guerra, na guerra morrem pessoas boas, morrem pessoas más, a guerra é nociva, é por isso que elegemos a paz como o caminho bom para seguir”, advogou Alberto Ferreira.
A contestação militar é um meio para forçar as pessoas a sentarem-se à mesa e a Frelimo, "infelizmente, sempre se sentou à mesa forçada pelas armas", mas é preciso apostar na razão, frisou.
Concorrente a deputado pela Renamo, Alberto Ferreira também discorda da ideia de um boicote do principal partido da oposição à tomada de posse na Assembleia da República, porque o partido não pode desistir de lutar dentro das instituições.
“Isso não resultou [no passado], porque quem tem vontade de matar, de roubar e de fazer fraude como fez [a Frelimo], não há de ouvir, porque você se retirou do parlamento, nunca foi eficaz retirar-se do parlamento”, declarou.
O diretor da Faculdade de Filosofia da UEM acusou o partido no poder de pretender levar o país de volta ao “monopartidarismo”, mas avisou que a democracia no país é irreversível, porque as novas gerações de moçambicanos não vão permitir um retrocesso do sistema político nacional.
Os resultados eleitorais do escrutínio de dia 15 devem ser oficialmente anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) até dia 30, como impõe a lei, mas o apuramento provincial mostra que a Frelimo venceu as presidenciais, legislativas e provinciais, em todos os círculos, com maiorias absolutas folgadas.
Renamo e Movimento Democrático de Moçambique (MDM), os dois partidos da oposição no parlamento, recusam aceitar os resultados alegando fraude e várias missões de observação levantaram também dúvidas e preocupações acerca da votação.
LUSA – 27.10.2019
NOTA: Se os cidadãos eleitos o foram dentro de uma lista de um partido e não em nome individual e se este partido não reconhece oficialmente o resultado eleitoral, onde e como se poderão apresentar para tomar posse? Ou estarei a ver mal?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
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