23/10/2019
O secretário-geral da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), Vítor Ramalho, disse hoje esperar que a crise resultante das eleições gerais em Moçambique seja ultrapassada, advertindo que "está sempre presente a situação de retorno à guerra".
Para Vítor Ramalho, antigo membro de governos socialistas em Portugal, não é apenas a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, maior partido da oposição em Moçambique), que levanta questões sobre eventuais fraudes nas eleições gerais que se realizaram naquele país a 15 de outubro.
“Mesmo observadores insuspeitos da comunidade internacional têm suscitado muitas dúvidas sobre os resultados em algumas regiões do país”, afirmou, sem que querer especificar.
Por isso defendeu que "é útil e muito útil que esta situação seja superada, porque está sempre presente a possibilidade do retorno à guerra, que é uma coisa completamente terrível para o povo moçambicano, que já sofreu o suficiente para que não tenha como perspetiva novo retorno a uma situação conflitual".
Para Vítor Ramalho, que falava à margem de um debate que decorreu hoje de manhã na Sociedade de Geografia, em Lisboa, sobre o presente e o futuro da Comunidade dos Países de Línga Portuguesa (CPLP), "a Renamo e a Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique, partido no poder] têm de fazer tudo o que é possível para chegarem a um entendimento".
Ao mesmo tempo, o secretário-geral da UCCLA espera também que "esta situação das eleições não concorra, porque isso não seria positivo para Moçambique, para uma degradação política dentro da própria Renamo", cujo líder, Ossufo Momade, é contestado por um conjunto de guerrilheiros.
Na segunda-feira, a comissão política da Renamo, reunida em Maputo, decidiu “encetar diligências junto da sociedade moçambicana e da comunidade internacional de modo a encontrar soluções para a reposição da verdade eleitoral”.
A posição faz parte de uma declaração lida no final do encontro pelo presidente do partido e candidato presidencial, Ossufo Momade, depois de a Renamo ter pedido no sábado a repetição das eleições gerais de dia 15, alegando fraude e rejeitando os resultados que dão vitória com maioria absoluta ao partido no poder, Frelimo, nas três votações - presidencial, Assembleia da República e provinciais.
Na declaração de segunda-feira não é pedida explicitamente a repetição das eleições, exigindo o partido a “reposição da verdade eleitoral".
Sobre este assunto, o secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que também fez a sua intervenção no debate da Sociedade de Geografia, disse que o que constata "é aquilo que a missão de observadores da CPLP constatou no terreno e que acompanhou as eleições durante uma semana e meia".
Francisco Ribeiro Telles afirmou ainda que "faz fé" naquilo que, não apenas a CPLP disse sobre a forma como correram essas eleições, "como também sobre o que outras organizações internacionais”, disseram.
As informações, tal como constam do comunicado divulgado na semana passada, apontam para que "as eleições decorreram normalmente", embora possam "ter havido alguns incidentes", admitiu.
A apreciação que a missão de observação eleitoral da CPLP, liderada pelo antigo primeiro-ministro de Angola Lopo do Nascimento, "é globalmente positiva" sobre a forma como decorreram as eleições gerais naquele país, reforçou o diplomata.
LUSA – 23.10.2019
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