14/10/2019
O candidato da RENAMO na província da Zambézia, Manuel de Araújo, classifica a atuação das forças policiais durante o processo eleitoral de "horrível" e acusa-as de partidarismo.
Na província da Zambézia, no centro de Moçambique, pairam receios de violência no dia das eleições, terça-feira (15.10), tal como rumores sobre a existência de homens armados da Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO) de prontidão e a presença de militares disfarçados de polícia, prontos para intervir.
Manuel de Araújo, candidato a governador da Zambézia pela RENAMO, voltou a apelar ao seu eleitorado que permaneça nas assembleias de voto a vigiar as urnas, para evitar fraudes. Em entrevista exclusiva à DW África, em Quelimane, Araújo acusa o ministro do Interior, Basílio Monteiro, de não despir as vestes do partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), enquanto dá ordens à polícia.
DW África: A FRELIMO e a Polícia da República de Moçambique entendem o apelo a vigiar as urnas como um incitamento à perturbação da ordem pública. Preocupam-lhe as possíveis consequências para o seu eleitorado?
Manuel de Araújo (MA):
[Existe uma]coincidência entre o pensar e o agir da FRELIMO e o pensar e agir das autoridades, nomeadamente da polícia. Este é um assunto que temos vindo a levantar: o facto de termos, neste jogo, e em especial na província da Zambézia, jogadores que, ao mesmo tempo, são jogadores e árbitros. É o caso do ministro [do Interior] Basílio Monteiro. Nós soubemos que, na semana passada, o sr. Basílio reuniu-se com todos os comandantes distritais na sua qualidade de ministro, para, no dia seguinte, fazer um pronunciamento sobre a posição do seu partido em relação ao que deve acontecer depois da votação. E, um dia depois, temos o comandante provincial a repetir textualmente aquilo que o seu ministro disse. Portanto, nós ficamos sem saber se estamos a lidar com uma polícia republicana ou se estamos a lidar com uma polícia do partido FRELIMO.
Quando um camponês produz o seu milho e sabe que, na vizinhança, há macacos, ele tem que colocar espantalhos. Ele tem que proteger o seu milho. E o que nós estamos a fazer não é nada mais ou nada menos do que proteger o nosso milho. O nosso voto é a nossa colheita. Nós plantamos e esperamos colher no dia 15 de outubro.
DW África: Há quem insinue que tenha mandado incendiar a casa da sua própria mãe em nome de objetivos eleitoralistas. Seria capaz de tal perversão?
Manuel de Araújo (MA):
Bom, primeiro, eu deixo de falar com qualquer pessoa que coloque essa hipótese, porque acho que está a faltar ao respeito à minha pessoa, à minha inteligência, e está a desrespeitar a minha mãe. São coisas que não admito.
DW África: Correm aqui em Quelimane várias informações, não confirmadas, de que, por exemplo, os guerrilheiros da RENAMO chegaram à cidade discretamente e estariam acomodados em casas de membros do partido para controlar postos de votação e intervir em caso de irregularidades eleitorais. Confirma essa informação?
MA:
Em primeiro lugar, como sabe, não faço parte da ala militar e não comento assuntos militares. Não tenho essa informação. Portanto, diria que, se eu não tenho conhecimento e sou cabeça de lista, o mais provável é que seja mais uma "inventona" daqueles que têm medo de perder as eleições. Mas, de facto, se eu tivesse capacidade militar não hesitaria... mas não tendo, não posso comentar mais, porque não tenho essa informação.
DW África: Mesmo que isso representasse uma violação à Lei?
MA:
Por exemplo, hoje, às 13:00, vi o jornal da tarde da STV, onde o chefe da ordem provincial dizia que teremos blindados na cidade. Quelimane é uma cidade de paz, porque precisamos de blindados e para ameaçar a quem? Se a polícia tem blindados a mais, que mande para a Palma, onde é preciso. Onde os nossos militares, os nossos jovens, estão a morrer por falta de equipamento. Não percebo porque é que uma cidade tão pacífica como Quelimane vai ter blindados num dia de eleições! As eleições são uma festa.
DW África: Em relação à atuação da polícia, qual é avaliação que faz no âmbito do processo eleitoral aqui na provincial da Zambézia?
MA:
Horrível. Nós temos sinais mais do que evidentes do que a nossa polícia não é uma polícia republicana, mas sim, uma polícia partidária. Daí aquela reivindicação da RENAMO, da necessidade da integração nas forças ou dos homens da RENAMO, quer na polícia, quer no Exército, mas fundamentalmente no Serviço de Segurança do Estado [SISE]. Porque é lá de onde, por exemplo, saem os comandos para os esquadrões da morte. É na polícia, comandada pelo sr. Basílio Monteiro, que [se] dá orientações [sobre] quem deve ser abatido e quem deve ser ferido. Primeiro, precisamos de ter uma integração dos homens da RENAMO, para em seguida passarmos a ter uma polícia republicana, um Serviço de Segurança do Estado, que se preocupa com os assuntos de Estado e não com assuntos mesquinhos ou com perseguições aos partidos da oposição.
DW – 14.10.2019
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