Escrito por Alfredo Manjate |
Foi com estas palavras que a chefe número um do MAE deu a entender que o que o seu colega disse a Daviz Simango não passou de intenção de acalentar, momentaneamente, os munícipes daquele ponto do país e o próprio presidente. É que, segundo o edil, no encontro que teve na capital moçambicana com José Tsambe, foi-lhe dito que o plano de dividir Beira não seguiria em frente porque não existia nada aprovado a respeito disso. À Lusa, Carmelita Namachulua afirmou que o Governo vai prosseguir com a repartição da segunda maior cidade do país. Para o efeito, em 2013, a Assembleia da República aprovou uma lei que cria 13 novos distritos e refaz os distritos das cidades capitais das províncias moçambicanas. Esta posição, para além de ter sido sol de pouca dura, contraria, totalmente, as palavras proferidas por José Tsambe segundo as quais a divisão da Beira não passa de um falso alarme. Todavia, Daviz Simango, manifestando o repúdio dos citadinos em relação à notícia que correu o mundo como um rastilho de pólvora, disse que “nenhum tirano vai dividir a Beira. Segundo o edil da Beira, tal pretensão figura como “um comportamento nocivo e estranho de quem perde eleições e procura outras formas inconstitucionais sem respeito pelas vontades dos governados para os governar que, no mínimo, para satisfazerem os seus apetites de amarras ao poder deviam pensar que quem manda é o povo através do referendo ou das eleições”. E que a alteração dos limites territoriais visa reduzir a influência do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) por causa da intolerância política da Frelimo relativamente à oposição no país. Aliás, de acordo com Daviz, a medida anunciada pelo governo provincial de Sofala constitui, também, uma forma de influenciar os resultados eleitorais a favor do partido no poder, reduzindo, acima de tudo, o efeito dos votos dos seus adversários. Essa intenção prova, mais uma vez, o abuso de poder e desrespeito pelos órgãos de soberania para se atingir objectivos estranhos, retardar o desenvolvimento da Beira e colocar em causa a paz. O edil alertou que não se vai permitir que o interesse dos munícipes seja posto em causa devido a agendas inconfessáveis protagonizadas pela Frelimo. Aliás, logo que tomou conhecimento do assunto, o presidente deixou uma ameaça de retaliação. “Se quiserem dar um passo nesta manobra dilatória de dividir a Beira, não nos responsabilizaremos por qualquer atitude tomada pelos beirenses em repúdio e na resistência de medidas antidemocráticas tomadas na sede do partido Frelimo em Matacuane... Nenhum tirano vai dividir a Beira”. No meio deste alvoroço, Carmelita Namashulua disse que a cidade da Beira será dividida para dar lugar à criação de um distrito com o mesmo nome. Manuel Rodrigues, director nacional do Desenvolvimento Autárquico no MAE, disse ao @Verdade ainda é prematuro assumir como um dado certo que a urbe em alusão vai ou não ser repartida, uma vez que a proposta apresentada pelo representante do Estado naquela autarquia nem sequer deu entrada no Ministério que responde pela organização administrativa do território moçambicano com vista a ser submetido ao Conselho de Ministros para apreciação. O nosso entrevistado explicou que as propostas sobre esta matéria partem das autoridades locais para o Governo central, seguindo os procedimentos legalmente estabelecidos e somente a Assembleia da República pode tomar a decisão final.
Município pode perder 80% do seu território
No entanto, caso o Executivo implemente o plano de dividir a cidade da Beira, esta poderá perder cerca de 80 porcento do seu território e, consequentemente, deixará de ser uma urbe do grupo B, passando à categoria de vila. E já não terá o domínio sobre o bairro mais populoso da Munhava, assim como como o da Manga e outros em expansão.Para além da extensão territorial, aquele município vai perder igualmente parte das suas infra-estruturas, nomeadamente mercados, postos de saúde, escolas, estradas, cemitério, aeroporto internacional, entre outras. Como uma nova divisão administrativa, o mesmo município vai cortar laços com cerca de 70 porcento dos seus funcionários, incluindo vereadores e administradores. |
"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"
sexta-feira, 27 de junho de 2014
Daviz Simango foi enganado
Elites devem ser ampliadas para reduzir desigualdades sociais
Sexta, 27 Junho 2014 01:29 Redacção
Ensino de qualidade em todos subsistemas de educação são uma condição necessária
Moçambique encontra-se em encruzilhadas políticas, na busca de soluções políticas e militares para se alcançar uma paz duradoura, assente na confiança entre os moçambicanos, institucionalmente num quadro democrático e de Estado de direito, onde as instituições do Estado sejam transparentes, servidoras dos cidadãos e não para que as elites se sirvam de benefícios, regalias e instrumentalizem o Estado para fins pessoais ou de grupos de interesses.
Encruzilhadas económicas para que se opte por um modelo de crescimento que assegure, simultaneamente, a competitividade, crescentes níveis de equidade social e territorial, com padrões de acumulação centrados no país e em benefício dos moçambicanos em processos inclusivos e de aproximação de oportunidades. Um crescimento que gere emprego e recursos que permitam políticas próprias de um Estado social. Construção de uma economia simultaneamente integrada na globalização e que preserve níveis de soberania dos centros de decisão económicas estratégicas. Uma economia com um tecido económico de base social ampliada, que produza relações intersectoriais internas, seja capaz de reter valores acrescentados nos sectores produtivos.
Um desenvolvimento respeitador do ambiente e que explore os recursos naturais pensando nas futuras gerações e nos benefícios dos cidadãos, particularmente daqueles que vivem nas zonas de exploração desses recursos. A sociedade moçambicana deverá aprofundar a sua característica pela convivência tranquila entre religiões, raças e etnias. Uma sociedade aberta e tolerante politicamente, onde o exercício da cidadania seja cada vez mais informada, formada e exigente na defesa dos múltiplos interesses cruzados, sabendo que é a sociedade civil o principal garante dos direitos e liberdades individuais. As elites moçambicanas devem ser ampliadas, para se reduzirem as fortes desigualdades sociais, simultaneamente que um crescente número de moçambicanos saia da pobreza e eleve as condições de vida.
O desenvolvimento faz-se com um capital humanos alargado, bem qualificado, pensando-se na importância de todas as profissões numa perspectiva da transformação estrutural da economia e da composição social da sociedade. Escolas de qualidade no conjunto dos subsistemas de educação são certamente uma condição necessária.
quinta-feira, 26 de junho de 2014
RENAMO decide em Conselho Nacional
Divisão do Território Moçambicano
(2014-06-26)
"A RENAMO entende que não havendo consenso nas negociações, e não tendo
sido criadas as condições para que o nosso presidente saia das matas para
fazer a sua campanha, temos que que separar as regiões, a RENAMO fica nas
zonas Centro e Norte e a FRELIMO na zona Sul.", anunciou José Manteiga à
imprensa. O Conselho Nacional da RENAMO decomunicava assim a sua decisão de
dividir o país, caso as negociações com o Governo não sejam frutíferas.Na
mesma ocasião, a RENAMO escolheu Afonso Dhlakama como candidato às presidenciais
de 15 de Outubro.
A avaliação da candidatura do líder do maior partido da oposição, a RENAMO, o desempenho dos órgãos do partido e a situação em que se encontra o país foram discutidos no III Conselho Nacional da RENAMO que decorreu entre esta segunda-feira (23.06) e terça-feira (24.06). Novas estratégias desenhadas e divulgadas à imprensa no fim do encontro referem que o país deve ser dividido a partir do rio Save, local onde acontecem os ataques supostamente perpetrados pela Perdiz, símbolo do partido RENAMO. Segundo José Manteiga, porta-voz do III Conselho Nacional da RENAMO, por questões de segurança Afonso Dhlakama não participou das discussões internas do partido, mas teve a oportunidade de falar aos conselheiros via Skype. Manteiga afirmou que o reaparecimento do seu líder, ou seja, o seu abandono definitivo das matas de Gorongosa, na província central de Sofala, está dependente da revisão da política de Defesa e Segurança. Centro Norte para a RENAMO E como a solução pacífica tarda em chegar, a RENAMO traçou a sua própria saída, caso o consenso não seja alcançado. Neste contexto, José Manteiga diz que o "Conselho Nacional deliberou que não havendo condições de co-habitação entre a RENAMO e a FRELIMO, significa que a FRELIMO quer a divisão deste país." Por isso, o porta-voz do III Conselho acrescenta: "A RENAMO entende que não havendo consenso nas negociações, e não tendo sido criadas as condições para que o nosso presidente saia das matas para fazer a sua campanha, temos que que separar as regiões, a RENAMO fica nas zonas Centro e Norte e a FRELIMO na zona Sul." O político sustenta ainda que o processo das negociações entre o Governo da FRELIMO e a RENAMO não está a produzir quaisquer resultados. Em cima da mesa está actualmente a composição das Forças Armadas de Moçambique e a desmilitarização da RENAMO. O maior partido da oposição exige que o exército seja composto pelos seus homens em 50% e para o Governo o mesmo valor, conforme o definido nos Acordos de Paz de 1992, que puseram fim à guerra civil de 16 anos entre as partes. Pré-Campanha depende da negociação em Maputo José Manteiga contou também que, depois do encerramento do Conselho Nacional os mais de 100 Conselheiros e a população dialogaram com a população através do skype. O porta-voz garante que se na mesa de diálogo tudo correr de feição, "a RENAMO e o presidente Dhlakama podem sair das matas e hoje mesmo ir a Maputo, amanhã começar a sua pré-campanha." A RENAMO garante que os conselheiros saíram satisfeitos do encontro e tomaram como desafio trabalhar com as comunidades da base, para garantir a votação plena do candidato nas eleições de 15 de Outubro, tanto do partido como do seu líder Afonso Dhlakama. O encontro que juntou mais de 800 participantes, entre delegados e concorrentes aos órgãos deliberativos, foi antecedido de intensos debates à volta do desempenho do partido ao nível de base. Fonte: Lusa |
terça-feira, 24 de junho de 2014
22 de Junho: Em Directo do Ataque à Coluna Muxungué Save
(2014-06-24) “O clima de tensão”, ou “a tensão político militar”, ou ainda “os confrontos” são tudo nomes que se dão para evitar dizer o nome que ninguém em Moçambique quer pronunciar. Depois de mais de 20 anos seguidos de Paz, as balas voltam a cruzar a vida de Moçambique e dos Moçambicanos. Não se sabe quantos mortos a “situação” já provocou. Sabe-se que uma das “situações” recorrentes de” tensão” ou “escalada do confronto” é o já tristemente célebre “ataque à coluna”, sendo “a coluna” uma formação de veículos automóveis que avança pelo “troço Muxungué-Save”supostamente “ escoltada” por elementos das Forças Armadas ou Polícia de Intervenção. Veja como é, nas imagens que nos enviou um leitor atento. (Video submetido por Tertius Nel) (Club Of Mozambique) |
“O país está em guerra sim, haja coragem de assumir”
(2014-06-24) O académico Brazão Mazula, que foi reitor da Universidade Eduardo Mondlane e também Presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), disse em entrevista exclusiva a António Zefanias,do "Diário da Zambézia", que o país está em guerra. Na entrevista ao Diário da Zambézia, conduzida pelo jornalista António Zefanias, Mazula disse que “a situação já é preocupante ao avaliar pela forma como as armas tem vindo a ser usadas como forma de acabar com as diferenças”. E são usadas, não só para acabar com as diferenças, mas também pela apetência dos políticos pelo poder, “quer para se manterem, quer para ascenderem”. Conforme explicou Mazula, o país está em guerra e não vale a pena minimizar, buscando linguagens suaves como conflito político-militar, porque essa fase já passou. Aliás, de acordo com o académico e ex-reitor da UEM, há bastante tempo que o país saiu do tal conflito político militar para uma situação de guerra. Há guerra, conforme Mazula, naqueles casos em que já não se pode andar via terrestre (como é o caso de Muxungué, Murrotone, etc), os camiões são queimados, as armas são usadas como forma de acabar com um e outro e isso não tem outro nome se não guerra. Mazula lembra com mágoa os malefícios da guerra. “Nós estávamos habituados a viver em paz, apesar da pobreza, mas com isso que estamos a viver, poderemos ser mais pobres”- disse Mazula, citado no Diário da Zambézia. O entrevistado considera ainda que isto acontece em contraste com o desenvolvimento, apesar de algumas correntes defenderem a tese de que com a guerra se faz o desenvolvimento, mas estas teorias são de menos humanas. Aliás, o académico pede que se faça uma análise fria e que todos moçambicanos se questionem, o porquê do retorno à guerra. Questionado sobre onde reina o receio de afirmar ou declarar que o país esteja em guerra, este disse que “a falta de coragem reina naqueles que defendem que é apenas um conflito político e não guerra”. DIÁLOGO SÉRIO PRECISA-SE Na senda da guerra que assume estar a acontecer no país, Mazula falou do diálogo que tem vindo a acontecer no Centro de Conferências Joaquim Chissano em Maputo. Sobre este assunto, afirmou que falta seriedade nas pessoas que dialogam porque, no final do dia, o que os moçambicanos precisam é de um diálogo sério, franco para que, no fim, produza resultado. E o resultado que os moçambicanos esperam, continua a entrevista do Diário da Zambézia, é o fim da guerra, para que as armas não sejam um elemento para a resolução das diferenças. Para que o diálogo flua, Mazula pede à Frelimo encontre razões na Renamo e à Renamo que, por seu turno, encontre razões na Frelimo, para que no final de tudo, os moçambicanos gozem da paz que conquistaram em 1992. “A guerra beneficia algumas pessoas. Serve de fonte de acumulação de riqueza, dai que são estes poucos que defendem que a guerra prevaleça”- lamentou Mazula para depois acrescentar que “quando é assim, são jovens que morrem, jovens que nunca souberam o porquê da guerra são enviados ao combate”-finalizou. Assim sendo, de acordo com o entrevistado, o fosso entre ricos e pobres vai aumentando a olhos vistos o que não ajuda o país. Faltou uma verdadeira reconciliação: para se chegar a um extremo como este de voltar-se as armas, diz Brazão Mazula que entende que tudo aconteceu porque, logo depois da assinatura dos Acordos Gerais da Paz (AGP) em 1992, entre o governo e a Renamo, faltou uma verdadeira reconciliação, uma reconciliação cultural, em que as duas partes poderiam sentar numa esteira e ambos comerem juntos, tudo para o bem do país. Por outro lado, o académico foi mais longe ao afirmar a reconciliação não foi efectiva, porque não bastou apenas o calar das armas, faltou uma convicção assumida sobre a reconciliação. “Não há diálogo cultural no nosso país, porque a reconciliação faz-se com um diálogo cultural, não simplesmente um diálogo político”- rematou Mazula para depois explicar que “ a reconciliação também se faz com pessoas que pensam diferente, pessoas que vêem o país de outra forma, mas todos eles que se sentam numa esteira chamada Moçambique”- disse. Na óptica daquele académico, faltou tudo isso, porque não se faz reconciliação apenas do lado político, mas também ao nível económico, psicológico, cultural etc. E para que salvemos a geração vindoura, temos de acreditar que a reconciliação não é apenas o que se fez no país, mas precisamos de muito mais. A dado passo, Mazula disse que coloca a hipótese de ter faltado uma reconciliação séria e um diálogo cultural e que a reconciliação devia ter sido um programa de acção governativa, da acção política e da acção social, mas não o foi porque ninguém se comprometeu com a reconciliação. “Hoje, são os jovens que são levados para a guerra, significa que esta juventude está educada na violência como solução do problema, o que é grave”- desabafou. Zefanias termina a sua entrevista referindo que Brazão Mazula é docente de alguns cursos na Universidade Católica de Moçambique, Faculdade de Ciências Sociais e Políticas de Quelimane, e que foi que foi lá,em Quelimane, que o foram encontrar e lhe pediram esta entrevista. |
sexta-feira, 6 de junho de 2014
Sociedade Civil tenta combater o ProSAVANA
Escrito por Alfredo Manjate |
Trata-se de um projecto dos governos do Japão, do Brasil e de Moçambique, orçado em milhões de dólares, que deverá incidir sobre as províncias de Cabo Delgado, Nampula, Zambézia, Niassa e Tete, sendo os distritos-alvo os de Monapo, Muecate, Meconta, Nampula, Mogovolas, Murrupula, Mecubúre, Ribáuè, Lalaua e Malema Cuamba, Mecanhelas, Madimba, Ngauma, Lichinga, Majune e Sanga e Gurué e Alto Molócuè, onde um número considerável de gente, mormente agricultores, vai perder as suas terras, segundo os entendidos na matéria. As OSC e os camponeses contestaram o ProSAVANA desde a altura em que foi anunciado no país e exigem a sua suspensão ou, então, uma mudança de abordagem. Com a campanha pretende-se mobilizar os cidadãos e levar a cabo uma acção de resistência dos camponeses e das comunidades afectadas e sob o risco de perder as suas terras. Ana Tawacale, camponesa e membro da União Nacional dos Camponeses (UNAC), disse que em Nampula algumas áreas já se encontram ocupadas para a implementação desse programa. Por sua vez, o membro da Associação Académica para o Desenvolvimento Rural (ADECRU), Jeremias Vunjane, afirmou que na província da Zambézia os governantes ameaçam deter os agricultores que tentarem contrariar a adesão ao programa. Alice Mabota, presidente da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos, não tem dúvidas de que a luta contra a usurpação da terra naquele ponto país poderá ser dura e levará à morte. Ela indicou que o ProSAVANA representa um retrocesso para o país na medida em que vai deixar muitas famílias sem terra para produzir a sua comida. “A questão de usurpação da terra dos camponeses é extremamente séria e vai levar à morte. Esta é uma luta que vamos travar mas vai morrer gente porque as pessoas que vêm para o ProSAVANA estão habituadas a expulsar os camponeses com recurso à força das armas. Há camponeses e activistas dos direitos humanos que vão morrer, temos consciência disso”, alertou Mabota. A campanha será divulgada através de diversos meios de comunicação, vídeos, actividades culturais, música, seminários, entre outros. Para a activista e membro da Justiça Ambiental (JA), Vanessa Cabanela, não existe terras livres na área prevista pelo ProSAVANA. “Não é possível implantar o agronegócio naquela região sem deslocar as pessoas das suas zonas. Fala-se em envolver os camponeses, mas de que forma é que isso vai ser feito? Como é que se vai proteger o direito dos camponeses?”, questionou. |
A delapidação de madeira na ordem do dia em Nampula |
Tema de Fundo - Tema de Fundo |
Escrito por Júlio Paulino |
A delapidação de diversas espécies de madeira na província de Nampula é liderada maioritariamente por cidadãos chineses que, muitas vezes, envolvem alguns indivíduos nacionais na exploração ilegal daquele recurso florestal. O @Verdade deparou com uma cidadã de origem chinesa, cujo nome não foi possível apurar, nos Serviços Provinciais de Florestas e Fauna Bravia (SPFFB) onde efectuava o pagamento de uma multa na ordem de um milhão e quinhentos meticais, devido à apreensão de um dos seus camiões. O veículo foi neutralizado em flagrante delito na exploração ilegal de madeira num dos distritos estratégicos da província de Nampula. Ainda no mês passado (Maio), um outro cidadão também de origem chinesa fez o pagamento de uma multa por transgressão das regras de uso de várias espécies florestais. O indivíduo pagou 750 mil meticais. Estes são apenas alguns dos casos num universo imensurável de delapidação de recursos florestais. A exploração desenfreada de madeira, que é feita em conluio com alguns membros das comunidades, é uma realidade. Os esquemas usados, muitas vezes, têm custado a vida de alguns fiscais que tentam travar esta prática. Há relatos de conivência dos fiscais dos SPFFB afectos a alguns distritos da província de Nampula. Informações na posse do @Verdade dão conta de que um fiscal, que se encontrava num dos locais estratégicos no distrito de Memba, foi de forma premeditada atropelado mortalmente quando tentava imobilizar uma viatura que continha madeira, cujo destino era a cidade portuária de Nacala. Como forma de fugir dos fiscais, os furtivos usam algumas vias criadas para o efeito e o processo de evacuação de madeira das zonas de abate ao destino é feita no período nocturno. Dados colhidos nos Serviços Provinciais de Floresta e Fauna Bravia na Direcção Provincial da Agricultura em Nampula dão conta de que algumas espécies de madeira, como é o caso de pau-ferro e pau-rosa, estão a escassear, devido à demanda das explorações registadas nos anos anteriores, como consequência do seu valor comercial no mercado internacional. Contrariamente aos anos anteriores em que dezenas de árvores eram abatidas e levadas em toro para o exterior através do porto de Nacala, actualmente o cenário é outro. O mercado preferencial é a província de Maputo e alguns estaleiros de cidadãos chineses. Ou seja, depois da devastação das florestas, é possível ver camiões enormes carregados de diversas espécies de madeira a circularem pelas artérias da cidade de Nampula com destino a Maputo. De acordo ainda com as nossas fontes, devido a estes factores, os operadores do ramo só poderão ter acesso a uma autorização para a exploração de 100m cúbicos de pau-ferro e pau-rosa, e, quanto a outras espécies, é permtido explorar até os 500 metros cúbicos. A zona de tampão da reserva de Mecubúri foi invadida pelos madeireiros furtivos e muitas espécies de madeira estão em processo de extinção, com destaque para o pau-rosa e pau-ferro, por sinal as mais procuradas. Para além de Mecubúri, outras regiões que dispõem de recursos florestais são os distritos de Murrupula, Muecate, Mogovolas, Malema, Ribáuè, Meconta, Eráti, Nacâroa, Memba, entre outros.
Governo procura formas para proteger algumas espécies de madeira
Para contornar a extinção de algumas espécies de recursos florestais, o Governo introduziu, ainda este ano, alguns instrumentos legais no que tange à atribuição de licença aos madeireiros. Para o efeito, aos interessados na exploração das espécies de pau-rosa e pau-ferro só é concedida uma licença para explorar 100 metros cúbicos, contrariamente a outras.Esta medida, segundo uma fonte das SPFFB, tem em vista proteger essas duas espécies florestais. De acordo com dados fornecidos por aquela instituição, presentemente encontra-se em funcionamento um total de 32 unidades de processamento de madeira na sua maioria instaladas na capital provincial de Nampula, absorvendo uma mão-de-obra acima de cinco mil trabalhadores nacionais. Por outro lado, importa salientar que grande parte daqueles estabelecimentos é propriedade de cidadãos chineses. A reactivação e abertura de unidades de processamento de madeira no país deveu-se ao cumprimento do regulamento que veda a exportação em bruto de algumas espécies daqueles recursos florestais, como é o caso do pau-rosa e pau-preto. Por outro lado, o @Verdade soube que, até ao dia 19 de Maio, data do início de atribuição de licenças para a exploração florestal no país, o sector dos SPFFB em Nampula havia tramitado 97 autorizações, na sua maioria pertencentes a novos operadores. Refira-se que o toro mais volumoso foi registado em Abril de 1999, de 658 quilogramas, tendo sido exportado para a China e, desde então, nunca mais se viu um espécime desse porte. Um dos sócios de uma firma chinesa que opera em Nampula, vocacionada à venda de mobiliário em Nampula, confirmou ao @Verdade que os produtos fabricados com base na madeira moçambicana têm como destino os mercados europeu e americano devido ao seu valor comercial. Este ano foi exportada uma quantidade não especificada de madeira para a Ásia.
Vias de acesso em franca degradação
Algumas vias de acesso que ligam as zonas de devastação de recursos florestais aos respectivos destinos estão num elevado estado de degradação, devido ao tipo de camiões que por lá circulam. Os operadores não intervêm na sua reabilitação, limitando-se apenas a fazer pequenos remendos, sobretudo quando se trata de troços que dificultam o seu trânsito.
Líderes comunitários sem capacidade para travarem os furtivos
O regulado de Tuphurutho, localizado no posto administrativo de Namirôa, distrito de Eráti, em Nampula, é, dentre os vários exemplos de regiões desta província, uma zona onde o controlo da exploração desenfreada de recursos florestais por furtivos ultrapassa as capacidades das lideranças comunitárias. Para se chegar até ao povoado de Tuphurutho, a partir da vila sede do distrito é necessário percorrer perto de 120 quilómetros.
Para o local de devastação da floresta, o percurso é de 90 quilómetros e o acesso só é possível através de viaturas com tracção às quatro rodas ou uma mototáxi, e o custo da viagem varia entre 700 e 1000 meticais. Arlindo Murule Malule, vulgarmente conhecido por régulo Tupurutho, disse que na sua área de jurisdição existem três regiões que têm recursos florestais em abundância, mas os madeireiros são os únicos que beneficiam da madeira, em detrimento da população que só serve de mão-de-obra.Essa acção está aliada à falta de emprego e à procura de meios de sobrevivência. De acordo com o líder comunitário, ele só é solicitado quando se pretende um documento referente à consulta comunitária, para efeitos de emissão de licença de exploração de recursos florestais naquela zona. O régulo Tupurutho, que se mostra triste com a situação de exploração desenfreada de recursos florestais, disse que, muitas vezes, quando os madeireiros furtivos são interpelados, eles invocam os nomes dos chefes do distrito e do posto como sendo os que facilitam a prática. “Por regra, não é permitido efectuar o corte de madeira nos meses de Janeiro a Maio, mas temos vindo a registar casos relacionados com os madeireiros furtivos que passam durante a calada da noite com camiões carregados de madeira”, disse tendo acrescentado que “quando são interpelados, eles afirmam que estão a trabalhar a mando das estruturas da sede do distrito, nomeadamente o director dos Serviços Distritais de Actividades Económicas, o chefe do posto administrativo, entre outras individualidades”. Devido à alegada protecção dos furtivos pelas autoridades distritais, o régulo Tupurutho disse que está a mobilizar a comunidade com vista a impor regras no processo de exploração de madeira na sua área de jurisdição, uma das formas encontradas para combater a delapidação de recursos na região em alusão. Tupurutho anunciou ainda que, a partir dos próximos dias, os homens, na sua maioria jovens mobilizados para travar a delapidação de madeira naquele regulado, vão proceder à colocação de barricadas nas vias consideradas estratégicas, sobretudo na calada da noite, para impedir a circulação dos camiões dos madeireiros furtivos. O nosso entrevistado referiu ainda que, no âmbito dos 15 porcento que são disponibilizados aos regulados em resultado da exploração de recursos florestais, o seu povoado beneficiou apenas de 24 mil meticais e 20 chapas de zinco, numa região onde vivem mais 10 mil pessoas. Ele acrescentou que o valor foi repartido por três comunidades, nomeadamente Tupurutho, Namuatho e Murico. O montante foi aplicado na compra de carteiras para as salas de aula, a construção e o apetrechamento das residências dos professores. “Estas quantias não reflectem aquilo que é a quantidade de madeira que é explorada nas nossas regiões, razão pela qual exigimos a revisão destes valores. Por outro lado, pedimos que os madeireiros reabilitem as vias de acesso“, frisou o régulo. Aquele líder comunitário disse ainda que, a partir deste ano, não vai chancelar pedidos de licenciamento sem que se cumpra todas as formalidades impostas pelo sector, principalmente o plano de maneio, que consiste na apresentação de mudas para o processo de reposição, devido à ameaça de extinção de algumas espécies. No regulado Tupurutho, posto administrativo de Namirôa, distrito de Eráti em Nampula, uma das regiões mais ricas em madeira a nível daquele ponto do país, foram licenciados para o efeito três operadores florestais.
“É preciso replantar as árvores”
Segundo a Direcção Nacional de Terras e Florestas, a degradação florestal no país está a acontecer de forma assustadora e a um ritmo muito acelerado. Se não forem replantadas as árvores, os danos ambientais serão devastadores, uma vez que elas são um grande protector do ambiente, um dos ocupantes do topo da cadeia de criação da fotossíntese e do ar que respiramos.De referir que Moçambique continua a enfrentar grandes desafios na gestão, conservação e utilização das suas florestas que, diariamente, são sacrificadas e condenadas à extinção. Mijuco: A riqueza que gera pobrezaDiferentemente do que se pode notar em zonas de grandes potencialidades económicas, Mijuco não consegue usufruir dos resultados de recursos florestais, faunísticos e minerais de que dispõe, alegadamente porque estão a ser pilhados pelos furtivos. A agricultura, que constitui a principal fonte de sobrevivência de mais de 11 mil pessoas, segundo o Censo de 2007, continua a ser praticada em moldes rudimentares e com pouco rendimento para grande parte das famílias. Constrangida com o cenário, a população considera que a riqueza de Mijuco só agudiza os índices de pobreza na região.Nampula Mijuco é uma comunidade da regedoria de Tupurutho, posto administrativo de Namirôa , distrito de Eráti, a norte da província de Nampula. Localiza-se a cerca de 100 quilómetros da sede do distrito e de pouco mais de 350 da sua capital provincial. Devido à sua localização geográfica, Mijuco não possui infra-estruturas sociais e económicas de vulto. As aldeias 25 de Junho, Namuatho, Murico e Navaia são dependentes do comércio ambulatório e das feiras dominicais.
Rede viária deficitária
O estado deplorável das vias de acesso de e para uma das comunidades de Mijuco é deficitário e algumas estradas são intransitáveis. Esta situação preocupa sobremaneira a população que se sente obrigada a percorrer longas distâncias, acima de tudo, a pé para adquirir alguns produtos de primeira necessidade em Namapa ou em Alua. Os operadores de mototáxi, os únicos que fazem o transporte de passageiros, cobram a cada passageiro valores que variam entre 350 e 400 meticais, num troço de 45 quilómetros.
Barricadas nos corredores de madeira
Os exploradores de madeira que operam naquela região (alguns dos quais furtivos), poderão ver interditada a sua actividade, alegadamente por não estarem a contribuir na procura de soluções dos vários problemas da população. Armindo Murrule Malule, ou simplesmente régulo Tupurutho, confirmou ter autorizado os populares a colocarem barricadas nos principais corredores de madeira.
Insuficiência de professores
Apenas dois professores, sendo um médio e outro de nível básico, asseguram o sistema de ensino de 307 alunos inscritos no presente ano lectivo na regedoria de Tupurutho. Segundo Alfredo da Silva, líder influente na região, além do problema de falta de professores, a insuficiência de salas de aula melhoradas é outra inquietação. O nosso interlocutor disse ter colocado o assunto às entidades de tutela e ao governo do distrito.A Escola Primária Completa de 25 de Junho conta com sete salas de aula, construídas com material precário e não tem carteiras. Além dos problemas acima indicados, a questão de água constitui uma outra dor de cabeça naquela região. Este facto faz com que as mulheres e as crianças percorram longas distâncias para encontrarem uma fonte alternativa de água, sobretudo as lagoas, disputando-a com animais bravios. |
Dhlakama ameaça dividir o país ao meio caso o governo não aceite as suas exigências
Sexta, 06 Junho 2014 20:37
Líder da perdiz responsabiliza congregações religiosas pela actual situação da tensão
O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, ameaçou hoje dividir o país ao meio, caso o governo não aceite as suas exigências. Dhlakama atacou ainda os líderes religiosos, acusando-os de conivência com o governo.
Depois do porta-voz da Renamo, agora foi o lider do partido a ameaçar dividir o país. Dhlakama interagiu, esta sexta-feira, via teleconferência, com representantes das principais igrejas baseadas em Maputo. O presidente da Renamo diz que se o governo não aceitar a paridade nas forças de defesa e segurança vai dividir o país, "nós estamos cansados porque a frelimo não nos quer, perguntem a Guebuza se tem uma ilha onde vai colocar os da Renamo. Só podemos dividir o país como aconteceu na Coreia".
Afonso Dhlakama explicou ainda que alargou e intensificou os ataques na zona centro do pais para se defender das incursões das Forças de Defesa e Segurança.
As igrejas tentaram persuadir o líder da Renamo a parar com os ataques e a seguir a via do diálogo, mas Dhlakama atacou-as, responsabilizando as congregações religiosas pela actual situação de tensão. O líder da Renamo disse estar comprometido com a paz e pediu aos líderes religiosos para sensibilizar o governo, de modo a parar com o que chamou de acções visando acabar com o seu partido.
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