Sete crianças e seus respectivos encarregados de educação acusam a Polícia de ter levado os menores algemados da Escola Primária Ngungunhane, na Matola, província de Maputo, para uma esquadra, onde os teria chamboqueado por terem tomado banho num tanque de água da instituição de ensino.
Na presença dos encarregados de educação, os menores, de idades compreendidas entre oito e 12 anos, disseram que a Polícia também os teria ameaçado com uma arma de fogo. “Fomos algemados dois a dois. Fomos a pé até à esquadra e, quando chegámos, mandaram-nos dormir no chão para nos bater. Quando um meu amigo queria fugir, apontaram-lhe uma pistola. Dois polícias pegaram nele e começaram a chamboqueá-lo nas costas”, contou Virgílio Zimba, uma das crianças envolvidas no caso.
Os menores contaram, também, que foram trancadas por cerca de duas horas numa sala da escola, enquanto a Polícia não chegava. A situação deixou os encarregados de educação indignados, os quais, solicitados pela escola para limpar o tanque de água onde as crianças teriam tomado banho, recusaram-se, alegando que a escola não agiu de forma correcta.
O que nós queremos é justiça. Levar as crianças algemadas para a esquadra não é a forma correcta de educar, porque se trata de menores de idade”, reclamou Zulmira Ntumbine, uma das encarregadas de educação, visivelmente agastada. “Não vamos aceitar lavar os tanques, porque eles (a escola e a Polícia) já fizeram a sua justiça”, acrescentou outra encarregada, de nome Elisa Zonguela.
A escola explica que teve a informação sobre a presença de crianças no tanque de água através de terceiros, via telefone. O facto de ter acontecido no sábado, um dia sem aulas, causou estranheza à direcção da escola, que tratou de chamar a Polícia de imediato, pensando que se tratava de adultos. O director da escola diz, ainda, que tem sido comum assistir-se a actos de vandalização na escola, particularmente nos fins-de-semana, em que desconhecidos atiram pedras para o tecto das salas de aula, quebrando o telhado, além de sujarem as paredes da escola, por isso, a direcção da instituição pensou que se tratava de vândalos.
Porém, após a alegada tortura dos menores, os encarregados de educação não levaram as crianças ao hospital. Disseram à nossa equipa de reportagem que, depois da tortura, uma das crianças andava com dificuldade. Das sete crianças, seis estudam na escola em causa e uma na Escola Primária Zedequias Manganhela, também na Matola.

Polícia e escola contradizem-se

A Polícia desmente todas as acusações levantadas pelas crianças e encarregados de educação. Diz que nem sequer chegou a levar os menores ao posto policial. A corporação explicou que os seus agentes, ao chegarem à escola, surpreenderam-se ao constatar que se tratava de crianças, daí que apenas lhes chamaram atenção, para que não voltassem a cometer indisciplina daquela natureza. “Lamentamos pela informação que não constitui verdade”, disse o porta-voz da Polícia em Maputo, Emídio Mabunda.
Entretanto, a direcção da Escola Primária Ngungunhana deita por terra a afirmação da Polícia de que não levou os menores à esquadra. Conceição Custódio, director da Escola Primária Ngungunhana, diz que, quando chegou à escola, as crianças já tinham sido levadas à esquadra. “Quando eu cheguei à escola, as crianças já tinham sido encaminhadas pelos agentes da Polícia à esquadra. De seguida, dirigi-me à Polícia. As crianças já estavam lá, num departamento que parecia ser cozinha”, explicou o director da escola, que disse ter chegado à conclusão, junto com a Polícia, de mandar as crianças para casa.
O País