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Escrito por Adérito Caldeira em 01 Setembro 2016 |
Doutorado em Economia, pela Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos da América, Rogério Zandamela é um quadro sénior do FMI desde 1988 e desempenha presentemente as funções de chefe de Missão para Djibouti e Somália, no Departamento do Médio Oriente e Ásia Central do FMI. “É um economista muito experiente de trabalho com diversas realidades africanas. Acima de tudo é de esperar que ele possa trazer uma política monetária que não só esteja focada na austeridade mas também que ajude ao País a sair da situação em que está, que seja capaz de trazer ideias novas e melhorar o corredor de interacção com o FMI já que ele conhece bem os corredores da instituição”, disse ao @Verdade Eduardo Sengo, porta-voz da Confederação das Associações Económicas(CTA), numa primeira reacção à nomeação do sétimo Governador do Banco de Moçambique. Na perspectiva de Eduardo Sengo é possível ter as políticas de austeridade fiscal que o Fundo Monetário recomendou para o nosso País e em simultaneamente ajudar o sector produtivo contudo é preciso convencer a instituição de Bretton Woods a fazer isso. “É alguém que pode aconselhar sobre como é que se pode lidar com o FMI” “Convencer o Fundo Monetário não é mandar uma carta ou reunir com as Missões que vêm cá, é preciso conhecer os corredores da instituição em Washington e saber com quem sentar para convencer que esta ou aquela política pode ter efeitos positivos a médio e longo prazo para Moçambique. É preciso ter alguém que possa conferir alguma credibilidade e confiança, que não a temos junto dos instituições sob o ponto de vista de reportar” e, segundo Sengo, essa pessoa pode ser Rogério Zandamela que até ser nomeado exercia as funções de representante-residente do FMl no Brasil, e de chefe de Missão da instituição para Arménia, Costa Rica, Gâmbia, Guatemala, Libéria, Malásia, Nicarágua, Peru, Trindade Tobago e Zimbabwe, no Departamento de Mercados Monetários e de Capital. Mas o porta-voz do CTA não tem ilusões, “não é de todo uma resolução para os nossos problemas (económicos e financeiros) mas é uma nomeação de certa forma airosa, porque confere esta abertura com o FMI e é alguém que pode aconselhar o Ministério das Finanças e outras entidades sobre como é que se pode lidar com o FMI. O Fundo Monetário tem certos processos que conhecendo-os e dominando-os bem podemos tirar proveito para o País”. Recorde-se que o FMI suspendeu toda ajuda financeira à Moçambique em Abril passado quando foram descobertas as dívidas secretas das empresas Proindicus e MAM. Entretanto, Em meados de Junho, uma Missão da instituição visitou o nosso País e recomendou mais “apertos substanciais ao nível fiscal e monetário, bem como flexibilidade da taxa de câmbio, para restaurar a sustentabilidade macroeconómica, reduzir as pressões sobre a inflação e a balança de pagamentos, e ajudar a aliviar as pressões sobre o mercado cambial, para restaurar o equilíbrio entre oferta e procura no mercado cambial”. Relativamente às dívidas ilegalmente avalizadas pelo Estado o FMI declarou que é “necessária uma auditoria internacional e independente às empresas EMATUM, Proindicus, e MAM”. A nomeação de Rogério Zandamela acontece numa altura em que a economia moçambicana debate-se com a maior pior crise financeira das últimas duas décadas - a inflação, oficial mas não real de todo País, desde o início do ano atingiu os 10,27% e os 20,68% em termos homólogos; o metical está em contínua depreciação, nesta quarta-feira(31) foi cotado oficialmente a 72,91/ 73.01 e a 79.00/80.00 no mercado paralelo; em relação ao rand da África do Sul a nossa moeda foi vendida a 5,04/5,04 no banco e a 5.20/5.30 no mercado cambial secundário -, e algumas semanas antes da deslocação do Presidente Filipe Nyusi aos Estados Unidos da América onde deverá reunir-se com a directora geral do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde. Para a última semana de Setembro está prevista a deslocação de uma nova Missão do FMI à Moçambique.
Gove deixa “medidas muito fortes, de algum sacrifício” para os moçambicanos e foi de férias
Sobre as razões da saída de Ernesto Gove o porta-voz da Confederação das Associações Económicas acredita que seja apenas pelo término do seu mandato, como manda a Lei. “Se nós exonerarmos o Governador do Banco de Moçambique pela situação actual do País estaríamos a piorar a situação, ele tem um papel na condução da política monetária mas a política fiscal pode subverter os objectivos dessa política monetária. A política fiscal é muito mais importante pelo seu intervencionismo a vários níveis e é por isso que as dívidas escondidas estão no Ministério das Finanças e não no banco central”.Oficialmente a substituição de Ernesto Gove acontece devido ao término do seu segundo mandato que iniciou a 25 de Julho de 2006. Gove, funcionário do Banco de Moçambique desde 1976, foi vice-Governador da instituição durante onze anos até substituir Adriano Maleiane, o actual Ministro da Economia e Finanças, que em 2011 reformou-se. Também ligado às instituições de Bretton Woods, onde desempenhou os cargos de Governador suplente do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, Ernesto Gove assumiu os destinos do banco central moçambicano pela batuta de Armando Guebuza. Gove será recordado não apenas pelas decisões de política monetária que o Banco de Moçambique tem vindo a tomar desde finais de 2015 - além do aumento das taxas de juros de referência impôs limites a circulação de divisas e cartões de crédito – mas principalmente pela sua ignorância em relação às dívidas que ultrapassam os superiores a 2 biliões de dólares norte-americanos e que foram contraídas pela empresas estatais Proindicus, MAM e EMATUM, tendo o Estado como avalista. A nova sede de 30 andares do banco central em Maputo, que além do alto custo da construção obrigou a investimentos extras de infra-estruturas como por exemplo de Electricidade(teve de ser criada uma nova linha de transporte dedicada), é apenas uma das megalomanias de Ernesto Gove que após tomar “medidas muito fortes, de algum sacrifício” para os moçambicanos foi de férias para os Estados Unidos da América. Antes de Gove e Maleiane comandaram o Bando de Moçambique: Eneas Comiche (1986 – 1991), Prakash Ratilal (1981 – 1986), Sérgio Vieira (1978 – 1981) e Alberto Cassimo (1975 – 1978). |
"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"
quinta-feira, 1 de setembro de 2016
Ernesto Gove substituído por economista do FMI à frente do Banco de Moçambique
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