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sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Temos de continuar a dar o benefício da dúvida ao Presidente Filipe Nyusi, professor Luís de Brito


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Luis de britoApós dois anos de Presidência de Filipe Jacinto Nyusi, temos de continuar a dar-lhe “o benefício da dúvida (…) acho que podemos dar o benefício da dúvida aos que são mais jovens, os que não venderam o país, mas que têm agora a difícil tarefa de resgatar o País e a sua dignidade”, afirma Luís de Brito, professor de Antropologia e Sociologia da Política, em entrevista ao @Verdade onde ainda chama a atenção para o facto de embora a história mostrar-nos que é impossível prever futuro, "também mostra que lá onde a insatisfação popular é muito grande há mais probabilidades de explosões de violência. E nós sabemos que a insatisfação popular em Moçambique é grande e tem estado a crescer”.
“Em 2015, o Presidente Nyusi disse que não estava satisfeito com o estado da nação e esse discurso foi bem acolhido na altura porque dava a entender que tínhamos virado a página do triunfalismo sem base que se vinha manifestando nos anos anteriores, quando se sabia bem que o crescimento económico não se estava a reflectir na melhoria das condições de vida da maioria dos Moçambicanos. Curiosamente, agora, em 2016, o Presidente usou a imagem de que o país estava firme para enfrentar os desafios. Não disse que o estado da nação estava bom, nem sequer razoável, mas evitou, com essa fórmula, ter que dizer claramente que a situação do País está péssima e que os próximos tempos serão difíceis, sobretudo para a maioria pobre da população, mas também para as camadas médias”, começa por declarar o professor universitário quando instado pelo @Verdade a comentar o segundo discurso sobre Estado da Nação que Filipe Nyusi proferiu em Dezembro na Assembleia da República.
Na óptica de Luís de Brito, “Embora não se possa dizer que voltou o discurso triunfalista, nota-se que há uma grande dificuldade em chamar as coisas pelos seus nomes, e que reconhecer abertamente as dificuldades é qualquer coisa que não está no ADN da Frelimo. Ora, numa sociedade em que a informação circula muito mais do que há alguns anos e em que o nível geral de educação está a subir, essa atitude é contraproducente e provoca uma maior rejeição do poder por parte dos cidadãos porque eles sabem que a sua vida não está nada firme, pelo contrário. Então, o que é que significa dizer que o país está firme?”.
Acho que podemos dar o benefício da dúvida aos que não venderam o País
O @Verdade perguntou ao professor da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane(UEM) se, tal como em 2015, continuava a dar o benefício da dúvida ao quarto Presidente de Moçambique. “Temos que dar o benefício da dúvida, mesmo se estamos intimamente convencidos que, até agora, os caminhos escolhidos para a governação do país nos levam para cada vez mais longe do ideal da luta pela independência”.
“Temos que dar o benefício da dúvida também porque não foi o Presidente Nyusi quem criou esta crise enorme. Ele herdou os problemas criados pelos outros. E isso me faz recordar que quando a Frelimo discutia quem deveria ser o seu candidato presidencial para 2004 e apareceram uma série de "jovens" candidatos, como Hélder Muteia, Eduardo Mulembwe, etc, esses não tiveram nenhuma chance, porque apareceram algumas figuras a dizer que os jovens iriam vender o País... Afinal quem vendeu o País? Portanto, acho que podemos dar o benefício da dúvida aos que são mais jovens, os que não venderam o país, mas que têm agora a difícil tarefa de resgatar país e a sua dignidade. Não vai ser fácil”, aclarou Luís de Brito neste entrevista feita por correio electrónico.
Relativamente ao poder que Filipe Nyusi não tinha dentro do partido Frelimo, quando assumiu a chefia do Estado moçambicano, o professor continua a pensar que continua sem tê-lo. “Claro que, do ponto de vista formal, Nyusi tem todos os poderes. Na realidade, isso não é bem assim”.
“Ele tem ainda que desenvolver a sua base de apoio, tem que vencer muitas resistências e interesses instalados no seio do seu partido e do Estado. É por isso que não sabemos ainda o que se vai passar com o processo das dívidas ocultas, como e quando é que o país vai voltar a poder contar com o apoio do FMI e dos doadores. Todas essas indefinições, na minha opinião, mostram que o Presidente ainda não tem o espaço suficiente para implementar a sua política. Nem em relação à crise da dívida, nem em relação à guerra interna. Vamos ver o que se passa no próximo congresso da Frelimo, mesmo se sabemos que muita coisa se joga fora desse órgão”, disse Luís de Brito, que é também director de investigação e coordenador do Grupo de Investigação sobre Cidadania e Governação no Instituto de Estudos Sociais e Económicos(IESE).
“A miséria vai aumentando, o povo vai apertando o cinto, mas a revolta está lá”
Sobre a guerra, que desde final de Dezembro entrou em tréguas, o nosso entrevistado afirma que “Não conheço nenhuma guerra que tenha sido resolvida com um telefonema e não me parece que isso seja possível. Temos uma trégua, o que é muito melhor do que estarmos no conflito armado, mas ainda não há nenhuma garantia que as negociações resultem numa paz acordada entre as partes e definitiva”.
Segundo o professor Luís de Brito, “Já vimos pela experiência que a paz de Roma, de 1992, afinal não era mais do que um adiamento da guerra, embora tivesse podido ser uma paz definitiva se tivesse havido a vontade e o interesse de todos nisso. Não sei se em Março vamos voltar a ouvir o canto das armas, espero que não, mas sei que restabelecer as condições de convivência democrática entre todos os Moçambicanos é um grande desafio. E em grande parte o problema é: como se pode fazer a democracia sem democratas e como se pode edificar um Estado democrático sem cidadãos? É quase como querer fazer a omelete sem ovos. Vamos então esperar que a galinha ponha os ovos rapidamente”.
No que a crise económica diz respeito, particularmente sobre o custo de vida que já estava insustentável quando Nyusi assumiu o cargo, e tornou-se muito pior desde então, o professor da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da UEM declara que “a situação continua explosiva”.
“O facto de as pessoas irem sobrevivendo e enfrentando todas as dificuldades e aumentos do custo de vida não significa que o problema esteja resolvido. O problema continua e até se vai agravando. Por isso em qualquer momento pode acontecer a explosão. Isso não quer dizer que seja inevitável. Quer dizer apenas que as condições para isso acontecer estão todas reunidas”, explicou.
Além disso, “A miséria vai aumentando, o povo vai apertando o cinto, mas a revolta está lá. Se a ocasião se proporcionar essa revolta vai-se exprimir. Pode ser uma expressão violenta, como já vimos no passado, mas também pode ser uma expressão de uma forma cívica e pacífica nas eleições, o que seria o cenário ideal”.
“Também podemos ter violência pós-eleitoral de novo, se as eleições não decorrerem de forma satisfatória. A história mostra-nos que é impossível prever futuro, mas também mostra que lá onde a insatisfação popular é muito grande há mais probabilidades de explosões de violência. E nós sabemos que a insatisfação popular em Moçambique é grande e tem estado a crescer”, prognosticou o professor Luís de Brito.
@VERDADE – 27.01.2017
NOTA: Caro Professor: 2 anos não serão suficientes para uma pessoa mostrar o que vale? Irá o “benefício da dúvida” durar todo o mandato?
“Temos que dar o benefício da dúvida também porque não foi o Presidente Nyusi quem criou esta crise enorme. Ele herdou os problemas criados pelos outros.” Ele não herdou, caro Professor, ele faz parte… por isso tem andado na corda bamba, sem saber para onde cair. O resto é teatro.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE

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