DE VEZ EM QUANDO
Por: Afonso Brandão
Quando a apregoada “qualidade de vida” é de facto de “baixa densidade”…
Andam por aí umas teorias que afirmam que é “no interior” que, em Moçambique, há “qualidade de vida”. E, com esta noção, os seus apregoadores entendem qualidade do ar que se respira, proximidade dos locais frequentados no dia-a-dia, menor tensão no ritmo de vida, contactos familiares assíduos, relacionamento fácil, sociabilidade mais concreta, baixo custo de vida… Uma série de frases feitas que nem sempre correspondem à realidade.
Não impede que em congressos, colóquios e demais conferências se discorra repetidamente sobre esta “qualidade de vida”, considerando os oradores que só o fraco desenvolvimento económico impede que se viva em situação quase ideal. Embora alguns, um pouco mais lúcidos, acrescentem também a falta de natalidade capaz de assegurar o futuro demográfico e até, melhor ainda, de inverter a acentuada tendência para o despovoamento.
Só que estes arautos da “qualidade de vida” em regiões “de baixa densidade” não parecem dar-se conta que nem só de desenvolvimento económico vivem os cidadãos.
E nem que tudo o que faz largamente falta “no interior” virá necessariamente por acréscimo desse desenvolvimento.
Porque há condições de base de que o Moçambique “do interior” continua tragicamente desprovido e que pouco interessam autarcas e demais responsáveis. O que leva os que lá sempre viveram a sonharem com uma futura instalação Centro-Norte Litoral. E os que lá se instalaram por razões de ordem profissional a considerem a situação como provisória.
Este desapego endémico que mina o Moçambique “do interior” tem sobretudo como origem a falta de centros hospitalares preformantes, de estabelecimentos de ensino de alto nível e de infraestruturas culturais com ofertas de qualidade. Em matéria de medicina, os cidadãos “do interior” estão largamente dependentes dos numerosos centros hospitalares públicos e das numerosíssimas clínicas privadas da Beira, Nampula, Pemba, Tete e Maputo. Pelas simples razão que, “no interior”, os hospitais públicos ou das pequenas unidades clínicas de enfermagem, assim como as consultas privadas, não se encontram em condições de propor a indispensável variedade de especialidades, equipamentos e profissionais de saúde. Deixando mesmo em muitos casos o sentimento que só a impossibilidade de singrar nas “grandes capitais de distrito” levaram boa parte dos profissionais de saúde a instalar-se “no interior”.
Na educação, é também por de mais evidente que os grandes estabelecimentos de Ensino Secundário, Politécnico e Universitário se situam largamente em Maputo, Beira e Nampula. Que fora deles, o Ensino Superior “do interior” é geralmente considerado como fazendo parte, na melhor das hipóteses, de uma “segunda divisão”. E um número sensível de docentes que ensinam nestes estabelecimentos residem nos grandes centros das principais Capitais de Distrito e dignam deslocar-se apenas um ou dois dias por semana à localidade que lhes permite ganhar a vida.
Um pouco com a excepção de Nampula, é verdade que a vida cultural em Moçambique se passa sobretudo em Maputo e na Beira. Que o resto do País tem, na melhor das hipóteses, direito a uma vida cultural assumida antes do mais por actores de segunda ou de terceira importância.
Tanto mais que, “no interior”, cidades há onde as salas de cinema, teatro ou concerto são inexistentes. Onde não há uma livraria ou loja de jornais onde seja possível adquirir publicações que não façam parte do consumo mais ao menos “popularuchos” ou de uma simples Galeria de Arte para os nossos Artistas. E onde se possam comprar um CD ou um DVD, assistir a uma inauguração de uma exposição de pintura ou escultura, fora dos propostos como “complementos” de jornais ou magazines…
Desde logo, como conseguir atrair gente para “o interior” e convencê-la a instalar-se duradoiramente, definitivamente, se no Moçambique da tal “qualidade de vida” esta é manifestamente de “baixa densidade” em termos médicos, académicos e culturais? Ainda se autarcas e demais responsáveis pelas regiões “do interior” tivessem realmente consciência disso e procurassem seriamente colmatar estas grandes deficiências, do mal ao menos!... Mas não…
Ora proliferam em Maputo instituições públicas e ONG´s ligadas à Saúde, ao Ensino e à Cultura. Uma proliferação megalómana, megalocéfala, que cria sérias dificuldades de coordenação e gestão, e não menos sérios problemas de custos. Os mais elementares princípios de uma Democracia equitativa e eficiente não deveriam aconselhar a transferir as instituições em demasia para “o interior”? Decisões deste tipo foram tomadas noutros Países da África Austral. Por que não em Moçambique? Isto até ajudaria Maputo a aliviar-se de um preocupante congestionamento…
O AUTARCA – 19.01.2017
Este desapego endémico que mina o Moçambique “do interior” tem sobretudo como origem a falta de centros hospitalares preformantes, de estabelecimentos de ensino de alto nível e de infraestruturas culturais com ofertas de qualidade. Em matéria de medicina, os cidadãos “do interior” estão largamente dependentes dos numerosos centros hospitalares públicos e das numerosíssimas clínicas privadas da Beira, Nampula, Pemba, Tete e Maputo. Pelas simples razão que, “no interior”, os hospitais públicos ou das pequenas unidades clínicas de enfermagem, assim como as consultas privadas, não se encontram em condições de propor a indispensável variedade de especialidades, equipamentos e profissionais de saúde. Deixando mesmo em muitos casos o sentimento que só a impossibilidade de singrar nas “grandes capitais de distrito” levaram boa parte dos profissionais de saúde a instalar-se “no interior”.
Na educação, é também por de mais evidente que os grandes estabelecimentos de Ensino Secundário, Politécnico e Universitário se situam largamente em Maputo, Beira e Nampula. Que fora deles, o Ensino Superior “do interior” é geralmente considerado como fazendo parte, na melhor das hipóteses, de uma “segunda divisão”. E um número sensível de docentes que ensinam nestes estabelecimentos residem nos grandes centros das principais Capitais de Distrito e dignam deslocar-se apenas um ou dois dias por semana à localidade que lhes permite ganhar a vida.
Um pouco com a excepção de Nampula, é verdade que a vida cultural em Moçambique se passa sobretudo em Maputo e na Beira. Que o resto do País tem, na melhor das hipóteses, direito a uma vida cultural assumida antes do mais por actores de segunda ou de terceira importância.
Tanto mais que, “no interior”, cidades há onde as salas de cinema, teatro ou concerto são inexistentes. Onde não há uma livraria ou loja de jornais onde seja possível adquirir publicações que não façam parte do consumo mais ao menos “popularuchos” ou de uma simples Galeria de Arte para os nossos Artistas. E onde se possam comprar um CD ou um DVD, assistir a uma inauguração de uma exposição de pintura ou escultura, fora dos propostos como “complementos” de jornais ou magazines…
Desde logo, como conseguir atrair gente para “o interior” e convencê-la a instalar-se duradoiramente, definitivamente, se no Moçambique da tal “qualidade de vida” esta é manifestamente de “baixa densidade” em termos médicos, académicos e culturais? Ainda se autarcas e demais responsáveis pelas regiões “do interior” tivessem realmente consciência disso e procurassem seriamente colmatar estas grandes deficiências, do mal ao menos!... Mas não…
Ora proliferam em Maputo instituições públicas e ONG´s ligadas à Saúde, ao Ensino e à Cultura. Uma proliferação megalómana, megalocéfala, que cria sérias dificuldades de coordenação e gestão, e não menos sérios problemas de custos. Os mais elementares princípios de uma Democracia equitativa e eficiente não deveriam aconselhar a transferir as instituições em demasia para “o interior”? Decisões deste tipo foram tomadas noutros Países da África Austral. Por que não em Moçambique? Isto até ajudaria Maputo a aliviar-se de um preocupante congestionamento…
O AUTARCA – 19.01.2017
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