"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Será desta que os africanos tomarão conta dos seus assuntos?


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Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
"Agoa" e iniciativas do género, dos EUA e de outros países, pouco ou nada ajudaram África. A perspectiva foi sempre alguma "caridade", e o grosso dos benefícios para os EUA. Qualquer leitura mostra isso, e só quem não quer ver, acre­dita nas "convenientes" procla­mações  vendidas  como  notícia.
Chegou Donald Trumpe convém que alimentemos muitas esperan­ças, para não acontecer o mesmo que se passou com Barack Obama.
O   problema  em   países  como Moçambique reside nele pró­prio e não na existência ou não de cooperação internacional pri­vilegiando o desenvolvimento.
Quando o poder constitui plata­forma para o enriquecimento dos governantes, toma-se a via erra­da como temos visto entre nós.
A derrapagem concreta e ac­tual dos processos políticos as­sim como a asfixia financeira em que se vive são produtos directos de opções políticas do partido no poder, da sua liderança personi­ficada na sua Comissão Política.
Quando se deliberou anular o AGP de Roma foi como se­mear a crise. Todo o alívio da dívida externa foi sendo pau­latinamente ignorado e substi­tuído por uma vigorosa campa­nha de enriquecimento dos que detinham e retinham o poder.
A origem das fraudes eleitorais sucessivas, pintadas como irregu­laridades sem relevância para os resultados finais, foi defendida por forças de defesa e segurança que obedeciam a comandos partidário.
Existe um paralelismo entre as eleições no Zimbabwe, Moçam­bique pelo papel desempenhado pelas missões de observação elei­toral da SADC e da União Africa­na. Thabo Mbeki falhou no Zim­babwe. SADC, União Africana e União Europeia falharam em Mo­çambique. Aqui, uma combina­ção interessante de antigos coo­perantes, a rádio das Mil Colinas, uma televisão que de pública só tem o nome ajudaram tremenda­mente a garantir que resultados falseados fossem sendo aceites. Nenhum do apoio financeiro que se conseguir angariar trará diferenças de vulto enquanto a governação for vista como meio de enriquecer e não de servir.
A opulência de que se rodeiam os governantes logo que tomam posse é um insulto directo aos governados. Precisa deixar de ser permitido esbanjar em Mer­cedes Benz quando faltam anti-maláricos nos centros de saúde.
Mais do que vergonhoso, é ca­ricato que um país como Mo­çambique atravesse necessida­des alimentares e se diga que temos Ministério de Agricultura.
Agora que se inicia o ano lecti­vo de 2017, já há detidos em rela­ção à compra e venda de exames numa universidade nacional. Os números anunciados oficialmen­te como o dos estudantes do en­sino primário que estudarão no chão e sem tecto é simplesmente aterrador. Que se fez em mais de quarenta anos de Independência? Ninguém venha com desculpas de guerra civil ou calamidades naturais. Foram os Governos sucessivos desde Joaquim Chissano a Armando Guebuza que fa­lharam na sua missão. E se estes senhores assim como os seus co­laboradores foram para a reforma enriquecidos, há perguntas a serem feitas, mesmo que dificil­mente nos venham a responder.
Governar melhor é pos­sível e é necessário.
Há toda uma cultura de Gover­no elitista e distante que importa vencer. Isso faz-se com firmeza e num quadro legal que não faci­lite e promova a impunidade de prevaricadores. Os pequenos ac­tos de corrupção que surgem em autarquias e que acabam anun­ciados na comunicação social são um bom indicativo de que é possível acusar e prender quem abusa das suas funções públi­cas. Também é possível atacar com sucesso procedimentos de ministros que ferem a lei, seja de  probidade  pública  ou  outra.
Combinar acções em várias frentes e ter a coragem de utilizar os meios existentes para promover os interesses nacionais é a obriga­ção dos políticos e governantes.
Queixamo-nos de carências e de dificuldades, mas os recursos para reverter o quadro existem. Mas, de forma deliberada, negoceiam-se esses recursos em be­nefício próprio sem que exista da parte do Estado vontade de travar a roubalheira galopante. Não há cultura de serviço público mas de brilhantismo verbal mediatizado. Pululam políticos e religiosos com as mãos sujas vendendo banha de cobra, mas toda uma sociedade mostra-se apática face a isso tudo.
Esporadicamente, há reclamações e marchas sobre isto ou aquilo, mas nada consequente. Um parla­mento feito à medida da necessi­dade de proteger os poderosos tem sido a membrana por onde tudo o que seja nefasto à maioria passa.
Não tenham dúvidas de que a PGR é um "elefante branco" sem marfim.
Não serão os americanos que vi­rão em nosso socorro. A "Exxon-Mobil" ou "Anadarko" tirarão proveito das nossas debilidades e da vontade de enriquecimento rá­pido dos negociadores dos nossos recursos petrolíferos e gás. Eles consideram que a sua diplomacia económica é assunto muito sério. A "Embraer" não pagou multas em Washington por causa da venda corrupta de aeronaves a Moçambi­que por acaso. Alguém denunciou, e autoridades americanas agiram em defesa das suas empresas.
Podemos ser um país pe­queno e periférico, mas, en­quanto governantes e gover­nados não assumirem o seu destino comum e as respectivas responsabilidades, continuare­mos lamentando-nos da má sorte.
Há muito trabalho pela fren­te para viabilizar Moçambique.
Cabe às lideranças parti­dárias liderar na busca das soluções mais exequíveis.
Tem de haver um "reset" cul­tural, moral, ético e político que nos faça  renascer como  nação.
Ano após ano, choramos das calamidades naturais, mas, quando temos oportunidade, não choramos da calamida­de política que é a mãe de to­das as outras. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 26.01.2017

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