O ex-Presidente
moçambicano Joaquim Chissano admitiu ter tido uma ligação com o KGB, antigos
serviços secretos da extinta URSS, no âmbito da ajuda prestada por este país à
Frelimo, partido no poder em Moçambique, mas negou ter sido espião.
“Sim, existiu
uma ligação e essa ligação foi que eu tive treino militar na União Soviética e
um dos assuntos em que eu fui treinado foi precisamente na inteligência para
penetrarmos na zona inimiga. Falo dos portugueses”, declarou Chissano, em
entrevista divulgada hoje pelo semanário Savana de Maputo.
Em março, o semanário português Expresso revelou, com base em documentos já desclassificados, que Joaquim Chissano colaborou com os serviços de informação russos, com o nome de código “TZOM”.
Em março, o semanário português Expresso revelou, com base em documentos já desclassificados, que Joaquim Chissano colaborou com os serviços de informação russos, com o nome de código “TZOM”.
Questionado se
a colaboração com o KGB implicava dar informação à secreta da União Soviética,
Chissano respondeu: “Sim, tinha de dar [informação], mas não era tanto como eles
falam, de espião. Era com o intuito de beneficiarmos de apoios por parte da
União Soviética”.
O vínculo com o
KGB, prosseguiu o antigo chefe de Estado moçambicano, vigorou entre 1966 e 1968
e era necessário como parte da criação de condições de apoio à Frente de
Libertação de Moçambique (Frelimo) na luta contra o colonialismo português pela
independência do país, alcançada em 25 de junho de 1975.
“Através da
KGB, recebíamos dinheiro, não era para mim, era para a Frelimo, para ajudar-nos
a realizar o nosso trabalho de inteligência e contrainteligência, para a
proteção da própria Frelimo e para a busca de informações do outro lado
[português]”, enfatizou Joaquim Chissano.
Chissano
afirmou que começou a perder interesse na colaboração com o KGB, porque a
formação que recebia dos ex-serviços de informação russos deixou de ter
relevância, devido à mudança de pessoal na embaixada da União Soviética em Dar
es Salaam, capital da Tanzânia, onde se encontrava a sede da Frelimo durante a
guerra colonial.
Sobre o alegado
envolvimento da KGB na morte do seu antecessor, Samora Machel, que perdeu a vida
em 1986 num misterioso despenhamento de avião, Joaquim Chissano considera esse
cenário uma mera especulação e que a União Soviética tinha confiança no
Presidente moçambicano.
“Isso é mera
especulação, hei de ver esse artigo, porque ainda não vi o que estão a dizer,
porque, sei lá, pode ser um sonho (…) Samora nunca foi um problema para os
soviéticos, mas não sei se as coisas teriam mudado, não sei. Se não, os
soviéticos não teriam dado o apoio que nos deram”, afirmou Chissano,
referindo-se à cooperação entre a ex-URSS e a Frelimo, que continuou depois da
independência de Moçambique.
Lusa –
08.04.2016
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