"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



sexta-feira, 22 de abril de 2016

As minhas dívidas

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A Talhe de Foice por Machado da Graça
Durante toda a minha vida procurei não ter dívidas e, com pequenos momentos excepcionais, consegui-o.
Neste momento descubro cada manhã, ao levantar-me da cama, que as minhas dívidas aumentaram de forma galopante.
O primeiro sobressalto já foi há algum tempo quando, ao ler um artigo de uma revista francesa, descobri que tinha comprado uma frota de navios de pesca do atum. Ou alguém o tinha feito em meu nome. E assustei-me.
A compra rondava os US$850 milhões o que, dividido pelos 22 milhões de moçambicanos, dava quase 39 dólares a cada moçambicano. E comecei a deitar contas à vida para saber onde poderia fazer mais uns biscates para conseguir pagar essa dívida, dado que, com os meus rendimentos actuais, isso seria difícil.
Mais recentemente o Wall Street Journal veio aumentar as minhas angústias ao revelar que eu, ou alguém em meu nome, tinha sido avalista de uma outra dívida a favor da empresa PROINDICUS, ao que parece para comprar armamento. Dizem que esta começou nos cerca de US$ 600 milhões mas depois subiu até aos US$ 950 milhões.
Ora, eu não preciso dessas armas para nada, sei que armas não geram rendimentos para pagar os empréstimos e, pelo contrário, geram destruição de pessoas e de bens. E, ao fazer as contas, descobri que, com isto, passei a dever mais 43 dólares. Somando aos 39 do atum a minha dívida pessoal subiu para 82 de dólares.
Um desastre.
Mas o pesadelo não estava no fim. Ao que parece fui também avalista (ou alguém o foi por mim) de mais um empréstimo, desta vez a favor da Base Logística de Pemba. Coisa para mais uns US$600 milhões. Mas as notícias desse empreendimento dizem que aquilo não anda nem desanda e que há mesmo o risco de a Annadarko e a ENI usarem instalações no sul da Tanzânia em vez de Pemba. Isto é de o empreendimento não vir a servir para nada, não gerar receitas e ser eu, e os outros 22 milhões de moçambicanos, a termos de pagar a dívida contraída. E isso significaria para o meu bolso um novo compromisso de 27 dólares.
O que, somado aos outros 82, dá US$ 109.
Pois é, leitor, descobri em pouco tempo que devo 109 dólares gastos nem eu sei bem em quê.
Mas que gostaria de saber, dólar a dólar!
Mas não se ria de mim porque, se você for moçambicano, também deve o mesmo que eu. E cada membro da sua família também deve os mesmos 109 dólares.
Até o Antoninho, que ainda só gatinha, ou a Leninha, que ainda chupa na mama da mãe.
Isto se o “filho mais querido da nação moçambicana” não nos tiver deixado mais outras surpresas destas, escondidas debaixo do tapete.
E, é claro, tendo em conta que, com os juros e a desvalorização do nosso Metical estas quantias estão sempre a subir...
SAVANA – 22.04.16

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