Matola acolhe nos próximos dias 4,5 e 6 de Maio a décima sexta Conferência do Observatório Internacional de Democracia Participativa OIDP, o que é este organismo. Qual é o propósito do evento que vai mexer com a cidade da Matola?
OIDP é uma plataforma que foi concebida para promover a participação do cidadão na governação local. Esta plataforma foi criada em 2000, e agora passados 16 anos da sua existência, um país africano (Moçambique), uma cidade africana (Matola) preside. O OIDP congrega neste momento mais de 600 cidades do mundo e também 72 académicos. Porque quando se fala da governação local não se olha apenas para a governação municipalizada, mas para os governos distritais e provinciais. Então esta é uma rede de cidades e instituições que foi criada exactamente para promover a participação do cidadão no processo de governação local.
Participação é a palavra-chave, até porque a conferência terá como tema “Boa governação e Participação Inclusiva do cidadão”. Qual é a experiência da Matola nesta matéria?
Para perceber a experiência da nossa cidade no processo de governação participativa é preciso recuar para aquilo que foi o nosso projecto de governação. Nós dissemos, quando iniciamos, que queríamos colocar a governação municipal perto dos cidadãos. Para tal, tivemos que definir ferramentas que possibilitassem essa aproximação. Como forma de garantir uma maior aproximação, procuramos encontrar mecanismos que permitissem essa interacção. Primeiro, foi a efectivação da iniciativa, presidência municipal sem paredes, que consiste em levar a governação municipal até ao munícipe.
Quando elaborou o seu manifesto, já tinha conhecimento desta organização?
No nosso manifesto já tínhamos previsto que deveríamos criar mecanismos de aproximação ao cidadão e inspirámo-nos nisso, procurando dar nome a cada iniciativa. Sempre nos questionámos: se queríamos nos aproximar ao cidadão como faríamos? Qual seria essa ferramenta? E qual poderia ser o nome a dar a essa mesma ferramenta? Foi inspirando-nos noutras cidades que forjamos as nossas ferramentas de participação. Falo concretamente da governação municipal sem paredes, da presidência na terminal, da governação do vereador nos bairros, mas acima de tudo buscamos uma prática que já é comum noutras cidades mais experientes que a nossa, que é o Orçamento Participativo. Consiste em juntamente dos munícipes definirmos o que é que devemos fazer para resolver ou minimizar os problemas que alguns bairros das nossas cidades têm.
Como é que o cidadão comum pode participar deste evento e deixar a sua contribuição?
Nós criamos formas de difusão que permitem com que o cidadão comum possa aceder à inscrição. Mas, o que nós queremos é que, efectivamente, haja participação. Por isso temos, para além dos sites criados, a rádio, a televisão e os jornais que estão a fazer a divulgação. De salientar que a participação é a custo zero. Isto quer dizer que qualquer cidadão que queira participar pode fazê-lo, basta para tal se aproximar a sede da OIDP, no município da Matola, concretamente no distrito administrativo da Matola Sede, e se inscrever.
No evento haverá diferentes painéis e temáticas que serão debatidas e o munícipe poderá escolher o que lhe agradar. Aproveito esta oportunidade para convidar a todos os interessados, cidadãos comuns, organizações da sociedade civil entre outros para que participem no evento. O cidadão não precisa estar necessariamente filiado a uma organização, isto é, individualmente este pode inscrever-se e participar. É isto que nós queremos, é esta acção que demostra que estamos abertos a participação do munícipe. Já temos organizações da sociedade civil que demostraram o interesse, mas mesmo assim, qualquer individuo pode de livre vontade participar na conferência.
Ao nível da governação municipal, quais são os critérios usados para aferição do grau de satisfação do munícipe?
Desde o início previmos que era necessário fazer inquéritos periódicos. Aliás, só essa aproximação, através da presidência municipal sem paredes, faz parte da nossa avaliação do grau de satisfação do nosso munícipe, porque quando os dirigentes estão próximo ao cidadão a ouvir as suas preocupações, acabam tendo o pulsar da sua satisfação ou não em relação ao nosso trabalho. Temos inquéritos definidos que pretendemos lançar nos próximos dias, mas ao nível dos bairros, os nossos representantes ao nível local têm esta tarefa. Há Conselho dos Bairros que se realizam semanalmente na nossa cidade para trazer o sentimento dos cidadãos, mas também trazer as respostas à governação municipal. Pelo que essa avaliação é feita de forma permanente não tem um período estipulado.
Como é que o município da Matola se apropria das tecnologias de comunicação e informação para fomentar a participação do cidadão na governação municipal?
Já temos uma rede criada, temos o nosso site e nos apropriamos de todas as formas de comunicação para desenvolver o nosso trabalho. Hoje em dia é impossível governar sem tecnologias de comunicação e informação, pelo que todas as ferramentas digitais são válidas para nós. Aliás, um dos temas que será apresentado na OIDP é a governação municipal na era digital. É para fazer com que os munícipes vejam que é possível usar essas tecnologias para fazer chegar as suas contribuições e buscar através do município possíveis soluções dos diferentes problemas com os quais se deparam.
A nível do município da Matola, como é que este evento está a ser organizado?
O nosso maior parceiro na divulgação é a comunicação social. Estamos a trabalhar com este estrato para garantir a divulgação, mas localmente já fizemos muitos eventos. Aliás, é dever do presidente do OIDP divulgar o evento e nós iniciamos com divulgação ao nível de todo o país e do mundo. Já recebemos o convite para falar do OIDP no Vaticano, em Turim, em Porto Alegre, na África do Sul entre outras partes. Localmente estamos permanentemente a trabalhar com os nosso munícipes através das lideranças locais para difundir o evento.
O OIDP contará com a participação de mais de 600 convidados estrangeiros e centenas de nacionais. Que pacotes turísticos Matola preparou para oferecer esses convidados?
Matola é uma cidade de referência, estamos a falar de uma cidade que alberga 60 porcento da indústria nacional de acordo com os últimos dados. Há locais turísticos que são relevantes mostrar. Primeiro teremos que mostrar porque é que se diz que a cidade da Matola é industrial, mostrando algumas indústrias que operam na nossa cidade. Temos uma outra atracção que é o monumento construído na nossa cidade em homenagem aos que pereceram em ataques do Apartheid da África do Sul. Temos ainda alguns empreendimentos hoteleiros que estão a nascer, que vão ser arrolados nesse pacote turístico para que os nossos visitantes possam ver. A nível cultural temos diversos grupos de dança que vão mostrar as nossas potencialidades, esses grupos poderão presentear os visitantesa com números que nos representam.
A OIDP nasce há 16 anos em Barcelona e é a primeira vez que vem a África, estas conferências já aconteceram em vários países. O que o município da Matola espera colher deste evento?
Esta é a primeira vez que uma cidade e um país africano acolhe um OIDP. Nós estamos a criar uma rede nacional de Orçamento Participativo, isto é, vamos levar as experiências de governação todos os municípios do nosso país para este evento. Vamos criar uma rede africana de orçamento participava, para percebemos como as cidades africanas estão a ser governadas. Estamos também a promover a criação de redes de gemelagem e oportunidades para que algumas organizações que apoiam a cooperação descentralizada possam ter a oportunidade de dialogar com os municípios não só africanos, mas também de fora do nosso continente. Felizmente já há contactos firmados entre parceiros de cooperação descentralizados, entre os municípios nacionais e estrangeiros, para que neste evento haja assinatura de acordos de gemelagem. Estes são alguns dos ganhos que estamos a trazer com a realização deste evento.
Os outros municípios nacionais participam da OIDM representadas pelo município da Matola ou podem fazer parte de forma autónoma na organização?
Antes da cidade da Matola presidir a OIDP, os municípios de Maputo, Beira e Nampula já faziam parte do organismo. Neste momento, quase todos os municípios do país já se candidataram e já foram aceites como membros do OIDP e têm a oportunidade de, durante este evento, participarem da Assembleia-Geral do OIDP que vai eleger o próximo presidente deste observatório. Pelo que estes municípios não dependem da Matola, estamos a falar de um evento que já não é da Matola, mas sim nacional.
Que legado a Matola vai deixar para outras cidades que vem participar deste grande evento?
Primeiro é a valorização do governado, temos que ter em mente que o dono do poder que exercemos é o munícipe. Iremos aos delegados de outras cidades que na Matola há participação entre a governação municipal e o munícipe, este é o primeiro aspecto. Segundo, mostrar que através do Orçamento Participativo os cidadãos participam na governação escolhendo os projectos que minimizam e melhoram a qualidade de vida nos seus bairros. O outro ganho é que, pela primeira vez, estamos a trazer o OIDP para Moçambique, em particular, e para África em geral. Queremos demostrar que África implementa a democracia participativa.
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