Por Machado da Graça
Ao longo das semanas, dos meses e dos anos vários de nós fomos alertando para o caminho que o país seguia em direcção a mais uma guerra. Desde a fraude eleitoral, validada pelo Conselho
Constitucional, sempre que era dado mais um passo em direcção ao abismo não faltaram os avisos, os conselhos, as sugestões.
Por cima de tudo isso rolou, pesada, a arrogância de quem acha que tem o poder na barriga e o resultado é aquele que hoje temos: uma nova guerra, com combates, mortos e feridos, todos os dias. Mortos e feridos, que se supõe dos dois lados do
conflito mas que nenhum deles divulga.
Só são divulgados, com tambores e trombetas, os mortos civis e os autocarros civis atacados. Nomeadamente os autocarros da ETRAGO e da Nagy Investimentos.
Mas uma reportagem recente do Canal de Moçambique criou-me algumas dúvidas sérias.
Aquele jornal entrevistou responsáveis dessas duas empresas que revelaram que mantêm contratos com as Forças de Defesa e Segurança para o transporte dos seus efectivos em zonas de conflito aberto.
A Nagy Investimentos tem contrato com o Ministério da Defesa, o mesmo acontecendo com a Kulula. Por seu lado, a ETRAGO tem contrato com o Ministério do Interior para o transporte de forças policiais. O motorista morto num desses confrontos trabalhava para a Nagy.
Ora, a minha dúvida principal é esta: um autocarro de uma empresa civil, conduzido por um motorista civil mas transportando só militares é um alvo civil ou um alvo militar?
Mais pergunto se, num momento de confrontações militares, é legítimo o uso de meios de transporte civis para levar forças combatentes (ou outras) para a frente de combate.
Há quem diga que, por vezes, os militares transportados vão desfardados, trajando à civil. E, se isso for verdade, mais se agrava a ideia de que os militares e policias se estão a disfarçar de passageiros civis para evitar ataques ou para atribuir aos atacantes a fama de que andam a matar civis.
Não sei se as leis da guerra prevêem este tipo de situação mas, prevejam ou não, os princípios da moral estão claramente contra isto.
De qualquer forma, sejam civis, guerrilheiros, militares ou polícias, são moçambicanos que estão a ser mortos e feridos numa guerra que podia, facilmente, ter sido evitada.
Que devia ter sido evitada.
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