19/07/2016
Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
República só existirá com instituições republicanas.
Quem sempre defendeu a guerra e eliminação física dos seus opositores políticos não desarmou, e os seus propósitos não mudaram ao longo destes anos.
Os intervalos de paz até aqui registados resultam de contratempos operacionais e falhanços na aplicação das suas estratégias.
E o caricato bem como patético e pessoas entrem na via da confrontação armada mesmo sem serem inimigas.
O que diziam ser ideologias irreconciliáveis provou que não serem. Se há unanimidade nas mordomias entre deputados de todas as bancadas parlamentares, isso prova que não são inimigos.
A todo o custo, máquinas lubrificadas e alimentadas por poderosos recursos financeiros e tecnológicos uniram-se para esconder a verdade dos moçambicanos.
De Washington a Londres, interesses específicos conluiram-se num passado recente para alavancar os seus objectivos estratégicos neste país chamado Moçambique.
Gente com verbo fácil e com a necessária capa de credibilidade fabricou santos e demónios entre irmãos desavindos. Uma verdadeira obra da arte de manipular trouxe-nos o que todos pensávamos que era a paz. Na esteira ficaram muitos segredos que paulatinamente começam a ser conhecidos.
Muito
do que nos foi dito durante décadas constitui material putrefacto e concebido
para enganar milhões de pessoas.
E, se quisermos dizer a verdade, todos os pleitos eleitorais até aqui havidos no país seguem a estratégia desenhada de impedir que a democracia ganhe espaço e raízes no país.
Tivemos um AGP que foi aquele que os interesses políticos e corporativos na altura decidiram, numa operação em que uns se gabam de ter “fintado” os outros. Quando gente com conhecimento de causa avança que também o exímio “fintador” foi enganado pelo seu “negociador-chefe”, dá para entender que a luta pelo poder tem sido marca registada da nossa “histórica Frelimo”.
Sabe-se que as transições não têm sido pacíficas e, pelo que se pode verificar nos dias de hoje, temos um complexo emaranhado de forças ou figuras que se querem guindar à posição cimeira e continuar a ser a fonte de onde partem todas as directivas.
Os “lobistas” ocidentais têm sido preponderantes em engradecerem egos que precisam, a cada dia, de aparecer na praça pública, como ilustres pensadores e dignitários visionários.
Os insucessos políticos e económicos actuais são fruto de uma forma concreta de governar.
As considerações aparentemente filosóficas e políticas à volta da governação não têm sido mais do que abordagens folclóricas manipuladas para instrumentalizar mentes formatadas pelas sucessivas formas de comissariado que têm estado em vigor.
São produtos de escolas diferentes, mas com o mesmo fim. Cantar hossanas ao rei, ao chefe e seguir obedientemente o que dele emana.
Quem chama para a mesa Linda Chalker e Chester Crocker fá-lo a mando ou conselho de quem?
Se o passado diz algo verdadeiro é que os amigos são chamados nos momentos difíceis. E amigo dos dois e também de Quett Masire é Joaquim Chissano e não Filipe Nyusi ou Armando Guebuza.
É pragmatismo engajar os que podem ajudar na solução de um problema, pelo que não se pode adiantar e afirmar que os mediadores escolhidos pelo Governo não serão de utilidade.
Não haverá uma solução linear fácil dos conhecidos problemas que temos.
Ou se entra num engajamento construtivo em que as partes estão preparadas para ceder e avançar com propostas estruturantes que incluem alterações constitucionais, ou se estará adiando crises e hostilidades militares debilitantes para a estabilidade e economia.
A seriedade e consequência negocial que se exigem devem ser o ponto de partida. Não queremos mais fintas nem criações ou acordos que estão condenados ao fracasso desde o primeiro dia.
Reconhecer o primado da democracia no país tem de se traduzir no desmantelamento e proibição de células de partidos no aparelho de Estado, pois estas têm sido as incubadoras de fraudes político-eleitorais.
Não se pode dar carta-branca ao Executivo para estabelecer fundos como o dos “7 milhões”, porque isso constitui uma forma ilegal de comprar votos e fidelidade política.
Há que favorecer uma reintegração militar efectiva dos soldados dos dois partidos armados. E isso custa recursos financeiros, mas, sobretudo, vontade política de tornar as FDS em forças republicanas e não forças ao serviço da agenda de um partido que esteja no poder.
Os mediadores e os membros da Comissão Mista encarregues de trazer a liderança da Frelimo e da Renamo para a mesa devem fazer o seu trabalho com a ciência e arte que acreditamos que possuem. Afinal nem se trata de um assunto novo cujos contornos não sejam conhecidos.
Não se pretende o caos nem a falta de respeito pela Constituição.
Pretende-se aprimorar a justiça política, social e económica através da abordagem profunda dos diferendos existentes.
Os mediadores não podem oferecer e promover fórmulas de democracia para consumo africano, democracia de terceira classe, porque alegadamente somos um país subdesenvolvido.
Uma solução durável e sustentável passa por fazer-se uma abordagem adulta sem subterfúgios.
As feridas existentes têm cura e antídotos. Só a hombridade e honestidade política podem ajudar a desanuviar um ambiente que está intoxicado pela desconfiança.
Construir confiança mínima e básica também vai depender de acções ao nível da comunicação social. Impõe-se “prender ou libertar” certos porta-vozes de ideias ofensivas ao convívio nacional. Não se pode ver fundos públicos canalizados para jornais como o “Domingo”, ou RM ou TVM, enquanto estes órgãos se disponibilizam para cumprir agendas díspares do interesse nacional.
Como tudo indica tanto na arena política como na económico-financeira, foi seguida uma estratégia de encobrimento que deve ser revelada em todos os seus contornos, para que se assine um acordo de paz digno desse nome e para que a concórdia reine entre irmãos. Para que amanhã outros não sejam tentados a ensaiar manobras similares de endividamento ilegal e criminoso em nome de uma suposta segurança nacional, importa que, com ou sem amnistia, alguém seja responsabilizado.
Mas, para que todos saibam que os moçambicanos não são parvos, mesmo que seja decidida uma amnistia, é necessário ver os “fundos roubados” congelados e devolvidos ao Tesouro nacional.
Os esforços da PGR parecem ser manifestamente insuficientes para trazer esclarecimento e responsabilização dos culpados pela derrapagem e queda financeira devido a dívidas antes ocultas. Uma PGR que foi lesta e eficiente a montar julgamentos de personalidades nacionais críticas do regime de AEG, tendo sido nomeada por este mesmo AEG, dificilmente irá contrariá-lo e investigá-lo. Há um efectivo controlo do que a PGR faz através de códigos de obediência bem definidos.
Só quem anda distraído é que pode conceber uma PGR fazendo diferente daquilo que a Comissão Política da Frelimo tenha deliberado.
Afinal quem manda? Ou alguém ainda não sabe? (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 19.07.2016
E, se quisermos dizer a verdade, todos os pleitos eleitorais até aqui havidos no país seguem a estratégia desenhada de impedir que a democracia ganhe espaço e raízes no país.
Tivemos um AGP que foi aquele que os interesses políticos e corporativos na altura decidiram, numa operação em que uns se gabam de ter “fintado” os outros. Quando gente com conhecimento de causa avança que também o exímio “fintador” foi enganado pelo seu “negociador-chefe”, dá para entender que a luta pelo poder tem sido marca registada da nossa “histórica Frelimo”.
Sabe-se que as transições não têm sido pacíficas e, pelo que se pode verificar nos dias de hoje, temos um complexo emaranhado de forças ou figuras que se querem guindar à posição cimeira e continuar a ser a fonte de onde partem todas as directivas.
Os “lobistas” ocidentais têm sido preponderantes em engradecerem egos que precisam, a cada dia, de aparecer na praça pública, como ilustres pensadores e dignitários visionários.
Os insucessos políticos e económicos actuais são fruto de uma forma concreta de governar.
As considerações aparentemente filosóficas e políticas à volta da governação não têm sido mais do que abordagens folclóricas manipuladas para instrumentalizar mentes formatadas pelas sucessivas formas de comissariado que têm estado em vigor.
São produtos de escolas diferentes, mas com o mesmo fim. Cantar hossanas ao rei, ao chefe e seguir obedientemente o que dele emana.
Quem chama para a mesa Linda Chalker e Chester Crocker fá-lo a mando ou conselho de quem?
Se o passado diz algo verdadeiro é que os amigos são chamados nos momentos difíceis. E amigo dos dois e também de Quett Masire é Joaquim Chissano e não Filipe Nyusi ou Armando Guebuza.
É pragmatismo engajar os que podem ajudar na solução de um problema, pelo que não se pode adiantar e afirmar que os mediadores escolhidos pelo Governo não serão de utilidade.
Não haverá uma solução linear fácil dos conhecidos problemas que temos.
Ou se entra num engajamento construtivo em que as partes estão preparadas para ceder e avançar com propostas estruturantes que incluem alterações constitucionais, ou se estará adiando crises e hostilidades militares debilitantes para a estabilidade e economia.
A seriedade e consequência negocial que se exigem devem ser o ponto de partida. Não queremos mais fintas nem criações ou acordos que estão condenados ao fracasso desde o primeiro dia.
Reconhecer o primado da democracia no país tem de se traduzir no desmantelamento e proibição de células de partidos no aparelho de Estado, pois estas têm sido as incubadoras de fraudes político-eleitorais.
Não se pode dar carta-branca ao Executivo para estabelecer fundos como o dos “7 milhões”, porque isso constitui uma forma ilegal de comprar votos e fidelidade política.
Há que favorecer uma reintegração militar efectiva dos soldados dos dois partidos armados. E isso custa recursos financeiros, mas, sobretudo, vontade política de tornar as FDS em forças republicanas e não forças ao serviço da agenda de um partido que esteja no poder.
Os mediadores e os membros da Comissão Mista encarregues de trazer a liderança da Frelimo e da Renamo para a mesa devem fazer o seu trabalho com a ciência e arte que acreditamos que possuem. Afinal nem se trata de um assunto novo cujos contornos não sejam conhecidos.
Não se pretende o caos nem a falta de respeito pela Constituição.
Pretende-se aprimorar a justiça política, social e económica através da abordagem profunda dos diferendos existentes.
Os mediadores não podem oferecer e promover fórmulas de democracia para consumo africano, democracia de terceira classe, porque alegadamente somos um país subdesenvolvido.
Uma solução durável e sustentável passa por fazer-se uma abordagem adulta sem subterfúgios.
As feridas existentes têm cura e antídotos. Só a hombridade e honestidade política podem ajudar a desanuviar um ambiente que está intoxicado pela desconfiança.
Construir confiança mínima e básica também vai depender de acções ao nível da comunicação social. Impõe-se “prender ou libertar” certos porta-vozes de ideias ofensivas ao convívio nacional. Não se pode ver fundos públicos canalizados para jornais como o “Domingo”, ou RM ou TVM, enquanto estes órgãos se disponibilizam para cumprir agendas díspares do interesse nacional.
Como tudo indica tanto na arena política como na económico-financeira, foi seguida uma estratégia de encobrimento que deve ser revelada em todos os seus contornos, para que se assine um acordo de paz digno desse nome e para que a concórdia reine entre irmãos. Para que amanhã outros não sejam tentados a ensaiar manobras similares de endividamento ilegal e criminoso em nome de uma suposta segurança nacional, importa que, com ou sem amnistia, alguém seja responsabilizado.
Mas, para que todos saibam que os moçambicanos não são parvos, mesmo que seja decidida uma amnistia, é necessário ver os “fundos roubados” congelados e devolvidos ao Tesouro nacional.
Os esforços da PGR parecem ser manifestamente insuficientes para trazer esclarecimento e responsabilização dos culpados pela derrapagem e queda financeira devido a dívidas antes ocultas. Uma PGR que foi lesta e eficiente a montar julgamentos de personalidades nacionais críticas do regime de AEG, tendo sido nomeada por este mesmo AEG, dificilmente irá contrariá-lo e investigá-lo. Há um efectivo controlo do que a PGR faz através de códigos de obediência bem definidos.
Só quem anda distraído é que pode conceber uma PGR fazendo diferente daquilo que a Comissão Política da Frelimo tenha deliberado.
Afinal quem manda? Ou alguém ainda não sabe? (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 19.07.2016
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