13/07/2016
Por Marcelo Mose
Afinal
a nossa banca comercial também comprou as obrigações da Ematum e deu crédito
para a Proindicus a juros comerciais, com garantia soberana. Um bom negócio!
Porque o dinheiro será sempre pago. E a que preços. De acordo com o nem sempre
correcto Africa Confidential, o BCI comprou mais de 30 milhões de USD em
obrigações da EMATUM, e o BIM concedeu uma “significativa” porção do crédito
para a Proindicus. O Moza também ficou com parte da dívida da
Proindicus.
Os
bancos que intermediaram o negócio da dívida oculta fora de Moçambique, o Credit
Suisse e o russo VTB, têm sido acusados de ter agido de forma imoral, embora
eles, esses bancos, tentem sacudir a água do capote sugerindo que foram
induzidos em erro e que a imoralidade tem sangue nacional moçambicano. O que é
uma aberração!
O
facto de bancos comerciais locais também se terem envolvido num negócio
“ilegal”, que significa? Era interessante ouvir um comentário dos bancos
visados a propósito desta revelação. Há quem pense que o seu envolvimento pode
ter consequências negativas no caso de o Governo se mostrar incapaz de cumprir
as obrigações. Não creio que o fim seja o de um mau negócio de todo. Na verdade,
foi um jackpot para eles.
O crédito tem
garantias soberanas e foi a taxas de juro comerciais. Isto significa que o
Estado estará amarrado às vontades desses bancos em contexto de novas
operações.
Coisas
estranhas de Moçambique. Geralmente, a banca comercial tem criticado o nosso
Estado apelando para uma melhoria na gestão transparente das finanças públicas
mas ela não se coibiu de se envolver nestas operações. Isto significa que os
bancos tinham fé de que se tratava de operações de bom senso? Porque é que os
bancos se envolveram sem garantir que as operações recebessem todos os selos de
legalidade? E os seus princípios de corporate governance?
Estranho?
Parece-me, embora se possa também sugerir que suas decisões tivessem sido
tomadas dentro de um viés político altamente incontornável (o que justifica a
ausência do Barclays e do Standard Bank). Depois temos o facto menos relevante
de o Ministro Celso Correia ter sido o PCA do BCI na altura destas operações. Ou
seja, parece que elas não foram de todo ocultas. Há muito conhecimento interno
sobre os seus contornos.