"Deus criou as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque então amamos as coisas e usamos as pessoas?"



quinta-feira, 31 de maio de 2018

Terrorismo em crescendo no norte de Cabo Delgado e a “tranquilidade” das autoridades


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A Polícia está a subestimar um problema sério - António Frangoulis, antigo dirigente da Polícia, diz que um dos maiores defeitos é a nega de aceitarmos o pensamento dos técnicos em relação a determinada matéria
- “E quando tiver já barbas brancas e de arame é quando vamos começar a tentar andar atrás do prejuízo” – idem
Numa altura em que já se está a perder a conta do número dos assassinatos, maioritariamente por decapitação e com a acção do grupo a fazer-se sentir já, em pelo menos, quatro distritos do norte de Cabo Delgado, continua a criar estranheza e um verdadeiro mal-estar a forma como as Forças de Defesa e Segurança (FDS) têm estado a lidar com o assunto do “terrorismo” com inspiração islâmica no norte da província de Cabo Delgado. Uma das questões, que muito se critica, é o facto de as FDS continuarem a insistir numa aparente tranquilidade e com um discurso retórico que tenta dar uma imagem de que “está tudo bem por aquelas bandas”, quando, na verdade, toda a província de Cabo Delgado está a viver um clima de terror, incerteza e insegurança.
Em relação a esta postura, que em muito preocupa a sociedade, o mediaFAX falou, esta quarta-feira, com António Frangoulis, antigo director da Polícia de Investigação Criminal ao nível da cidade de Maputo. Questionado, Frangoulis não hesitou em associar o discurso da Polícia à busca do que considera “exercício da autoridade do Estado”, sem entretanto, assegurar condições para que esse discurso seja coerente racional e justo. Para este antigo dirigente da corporação moçambicana, há claramente uma tentativa de “subestimar um problema que é tão sério e grave” e que, a olhos vistos, cresce e torna-se, a cada dia que passa, mais bicudo.
Um dos discursos recorrentes das FDS, particularmente emitido pelo porta-voz da Polícia da República de Moçambique, Inácio Dina, é que as actuais ocorrências em Cabo Delgado não podem ser, necessariamente, associadas à ocorrência de 5 de Outubro de 2017, dia em que pela primeira vez e de forma estrategicamente organizada, um grupo de cerca de 30 terroristas atacou posições da Polícia no distrito da Mocímboa da Praia.
Entende a Polícia que maior parte das situações que tem estado a ocorrer não são, necessariamente, ataques terroristas, mas sim acções criminais comuns. Nisto, analistas, tanto nacionais, assim como estrangeiros, não conseguem dissociar o fenómeno 5 de Outubro, com a actual insegurança e terror que se vive no norte de Cabo Delgado. Ou seja, estes últimos entendem que se está sim perante grupo ou grupos que agem dentro da mesma linhagem de objectivos.

António Frangoulis diz que a Polícia “está a sentar sobre o problema”. Para argumentar e exemplificar a resposta, recorreu a explicação de duas situações criminais diferenciadas, em que num deles os criminosos precisam ter acesso a uma farma, mas para chegarem precisam amordaçar ou matar os seguranças da farma e uma segunda situação, em que criminosos pura e simplesmente matam alguém, mas não levam absolutamente nada. “O primeiro caso é um caso de criminalística porque a criminalística estuda os factos, reconstruindo a situação para se chegar ao agente.
Agora o segundo caso não é de criminalística, mas sim de sociologia criminal. Porque aí há um crime de facto, mas há uma pergunta que fica sem resposta” – argumentou Frangoulis, considerando que “o que acontece com a nossa Polícia, muitas vezes, é fazer corta-mato. Quer dizer, você faz uma pergunta para perceber as coisas e a Polícia simplifica e reduz tudo…e diz aquilo que convém dizer”. A abordagem sociológica, aliás, já feita mas não aceite pela Polícia, iria ajudar a esclarecer perguntas importantes para o trabalho desta mesma Polícia. “Portanto, a questão é decapitar para atingir que fim..para atingir que objectivos. Aí você não me vai dizer que são criminosos que andam à solta, mas esses criminosos querem o quê??” – questionou, concluindo que “estamos a sentar sobre o problema… um grande problema”. “Eu penso que estamos a sentar sobre a verdade. Estamos a calcar a verdade. Porque se nós formos à História havemos de encontrar revoltas que começaram assim. Há muitos movimentos que começaram assim até ao ponto de civilizarem-se e chegarem ao poder. Entende ele que nesse caso, a Polícia não tem outra hipótese senão aceitar que o problema não pode ser resolvido numa perspectiva unidirecional, mas sim com a intervenção de vários actores, a exemplo de estudiosos deste tipo de fenómenos.
E para isso deve-se deixar “aquele grande defeito” que, para ele, os moçambicanos apresentam: a rejeição do pensamento do outro, simplesmente por uma questão de conveniência. “A Polícia devia privilegiar e dar um lugar especial a outros sectores e outros estratos para poderem investigar a outra parte que não é dever ou obrigação da Polícia. E está a faltar essa seriedade. É uma espécie de certo cepticismo em acreditar nas investigações de outras pessoas” – anotou, para quem, caso seja difícil aceitar as opiniões técnicas, pode então, a Polícia formar a sua equipa de investigação multissectorial e, durante seis meses no terreno, irá perceber o que efectivamente está a acontecer.
Segundo se sabe, a ousadia do bando ou dos bandos que “passeiam sua classe” no norte de Cabo Delgado foi a ponto de protagonizar um ataque em Palma numa altura em que o Presidente da República e Comandante Chefe das Forças de Defesa e Segurança encontrava-se naquele distrito em visita de trabalho.
MEDIAFAX – 31.05.2018
NOTA: Acrescentar o quê perante a insensibilidade do Governo?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQU

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