sexta-feira, 4 de maio de 2018
Estatutariamente o secretário geral da RENAMO seria a pessoa ideal para substituir Dhlakama, diz Silvestre Baessa. Este especialista aponta vantagens de Manuel Bissopo, entre elas a sua experiência de guerrilha.
Afonso Dhlakama é uma figura emblemática e com grande capital político para muitos moçambicanos. Haverá alguém na RENAMO que tenha capital parecido para o substituir? Caso não haja, quem teria potencial e condições para liderar o partido? Estas são algumas questões que a DW África colocou ao especialista moçambicano em boa governação, Silvestre Baessa.
DW África: Quem poderá substituir Afonso Dhlakama na liderança do maior partido da oposição em Moçambique?
Silvestre Baessa (SB): É extremamente difícil porque era uma figura muito forte. Se tivermos a mesma discussão em relação à FRELIMO podemos identificar duas ou três pessoas com capacidade para substituir o Presidente da República ou alinhados para tal.
No caso da RENAMO creio que depois daquele movimento de famílias de figuras históricas dentro do partido, como Raúl Domingos e vários outros que foram abandonando o barco ao longo dos tempos fica difícil identificar facilmente. Naturalmente estatutariamente o secretário-geral [da RENAMO] é a pessoa ideal para fazer a substituição, penso que é o deputado Manuel Bissopo. Mas também já se falava do chefe da bancada [Ivone Soares]. Creio que Bissopo, tendo em conta as condições atuais, essa RENAMO armada e a RENAMO política, penso que é a pessoa mais apropriada devido a sua experiência de guerrilha, o facto de muito recentemente ter estado com o presidente da RENAMO naquela emboscada [contra Afonso Dhlakama], etc, creio que é uma figura que do ponto de vista da RENAMO militar pode encontrar alguma legitimidade e mesmo em relação à RENAMO política. Importa saber também se é legítima aos olhos dos outros atores que apoiam as bases da RENAMO, mas também se é um interlucutor mais apropriado para dar continuidade ao processo negocial.
DW África: Com a morte de Afonso Dhlakama, a RENAMO vai fragilizada para os processos eleitorais que estão à porta?
SB: Creio que não, não vai ser automático. Há sempre um efeito Dhlakama muito grande em todas as vitórias da RENAMO. Muito recentemente em Nampula [aquando das eleições autárquicas], mesmo sem estar presente, a comunicação que ele fez foi determinante para a mobilização. Estamos a falar de um ídolo, de uma referência para as comunidades, sobretudo para as que têm essa perceção de exclusão, de empobrecimento resultante de exclusão no acesso aos recursos, que é a maior parte da população nas zonas centro e norte, têm níveis de pobreza muito elevados, Dhlakama era
uma espécie de Messias, a quem seguiam. Então, naturalmente que vai ser um elemento que vai afetar, mas não creio que de forma significativa pelo menos em relação às próximas eleições. Agora, dependendo que como a substituição de Afonso Dhlakama ocorrer, isso vai determinar também o tipo de reações, seja dos seus apoiantes ou não. Se tivermos uma situação de uma RENAMO que descarrila logo a seguir, que se divide em alas, etc, naturalmente que isso poderá ter implicações grandes. Mas creio que há maturidade suficiente na RENAMO para se aguentar mais alguns meses num exercício de gestão e explorar este fator. A imagem do líder da RENAMO não será facilmente diluída em quatro ou cinco meses, creio que ele vai continuara ter uma importância muito grande. Se a RENAMO conseguir capitalizar isso em relação à estas eleições autárquicas previstas para este ano, então possivelmente eles consigam também manter uma base de apoio significativa nas próximas eleições.
DW África: A imagem de Afonso Dhlakama pode ser uma grande cartada eleitoral nas próximas eleições?
SB: Sem dúvidas. Naturalmente que vivo seria melhor para a RENAMO, mas mesmo assim vai continuar a desempenhar um papel fundamental nas vitórias da RENAMO, sobretudo as que eventualmente possam ocorrer num período de um a dois anos. Não estou a ver como se pode apagar rapidamente do xadrez político uma figura da dimensão do presidente Dhlakama.
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