08/05/2018
O dia 03 de Maio de 2018, talvez ficará para sempre marcado como o dia da morte de um dos principais se não maior opositor do pseudo-regime Marxista-Leninista da FRELIMO, alguém que obrigou estes a sentar à mesa para negociar e por término a 16 anos de guerra civil que dilacerou o país logo após a independência.
É o dia da morte daquele que o povo intitula como o pai da democracia moçambicana, verdade ou não, o facto é que Afonso Dhlakama será para sempre lembrado como uma das principais figuras do processo democrático em Moçambique, talvez a terceira figura mais importantes da nossa história recente, depois de Eduardo Mondlane e Samora Machel por tudo que conseguiu e não conseguiu alcançar enquanto líder político e militar.
Com a sua morte urge questionar o que será do novo panorama político que esta em vias de ser debatido e quiçá aprovado pela Assembleia da República, pois vale lembrar que é a FRELIMO quem detém a maioria dos assentos na Assembleia e sendo o partido que impingiu as dívidas ocultas aos moçambicanos colocando-as como dívidas soberanas e de todos, não será de se espantar que a discussão sobre o novo pacote eleitoral e novo ordenamento político seja engavetado para nunca mais se debater.
Voltando, a esta figura, é importante lembrar que juntou-se ao grupo de guerrilha financiado pelo regime do Apartheid e pela Rodésia para minar as pretensões de Moçambique logo após a independência, ainda com os seus 20 e poucos anos e que com a morte do principal líder na altura André Matsangaissa, reclamou para si a liderança do partido, posição esta que nunca mais abdicou até a sua morte.
Sob o ponto de vista militar e político era um líder que não tinha nenhuma oposição ou não admitia sequer uma oposição dentro do seu partido reclamando para si todo o protagonismo transformando-se nos designados líderes personalistas chegando-se a confundir a RENAMO com Afonso Dhlakama e vice-versa.
Este líder colocou sempre em cheque o regime do dia, obrigando-o quase sempre a sentar-se a mesa quando este não estava satisfeito com a maneira como o destino do país era dirigido, cenário que levou um dos antigos presidentes do país aquando da emergência da crise política em 2013 a comentar que era “preciso saber sentar e conversar com Dhlakama, aquecendo-lhe o coração”.
O facto é que com o já difícil debate sobre o novo quadro político do país, com a morte daquele que é considerado um dois maiores proponentes do novo ordenamento político do lado da oposição, as dúvidas começam a pairar na cabeça de muitos moçambicanos. O que será daqui para frente? Voltará o país a um regime de partido único? O que será feito da oposição. Neste cenário, a morte deste líder não representa apenas uma iminente desestabilização da RENAMO por si só, mas também a desorientação de toda uma oposição partidária nacional, visto que foi a partir da RENAMO senão de Afonso Dhlakama que surgiram grupos e consequentemente partidos políticos que se impuseram na arena política moçambicana.
No entanto, mais do que olharmos para a figura que substituirá Dhlakama no diálogo para aprovação do pacote descentralização é importante reflectir sobre os efeitos da morte deste líder sobre o eleitorado tradicional que colocava a figura deste acima do partido. Como referimos acima, Afonso Dhlakama era um líder carismático para o seu eleitorado, e mais do que isso era um líder personalista dentro do próprio partido.
Charles S. Mack (2010) refere que num cenário de morte súbita em partidos grandes, como é o caso da repentina morte de Afonso Dhlakama do partido RENAMO, ocorre um evento fatal que ele lhe chama de “desalinhamento” que acontece quando surge uma divisão entre líderes partidários e votantes ou eleitores tradicionais de base.
Para Charles S. Mack (2010) o desalinhamento representa um processo que afecta o sistema partidário: insatisfação com o processo político, a redução da força partidária e a afiliação e da crescente importância que um grande número de eleitores da às escolhas por candidatos individuais do que preferências partidárias.
O provável cenário que pode vir a acontecer por quase todo o país é o desligamento político dos eleitores que tinham preferência pelo líder Afonso Dhlakama mais do que pelo partido que este representava, sobretudo nas zonas rurais dos círculos eleitorais onde este detinha um enorme apoio.
A verdade é que, sejam quais forem as dúvidas, uma coisa é certa, por um lado a oposição neste país já não será a mesma e com a morte deste líder, esta sai mais prejudicada, visto que carecem líderes carismáticos e com enorme capital político. Por outro lado, para a RENAMO como partido, o cenário é igualmente desolador, pois será extremamente difícil encontrar dentro das lideranças do partido uma figura com a coragem de carregar o partido pelas costas. Para além disso, e como outrora já havia referido o próprio Dhlakama, a grande questão será encontrar uma figura com os mesmos ideais partidários e político - filosóficos deste emblemático líder para revitalizar e fazer prevalecer o partido.
Por Dúlcio Mazive e Raúl Barata
@VERDADE - 08.05.2018
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