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terça-feira, 15 de março de 2016

Mudam-se gestores mas o mau serviço aos clientes persiste nas LAM e Aeroportos de Moçambique

 
 
 
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Escrito por Adérito Caldeira  em 15 Março 2016
Foto de Adérito CaldeiraPara os passageiros das Linhas Aéreas de Moçambique, que inevitavelmente são utentes dos Aeroportos de Moçambique, o mau serviço é uma constante. São atrasos, cancelamentos de voos sem o mínimo de informação atempada que não só aborrecem mas em muitos casos criam problemas nos compromissos dos clientes e até prejuízos financeiros, apesar dos preços exorbitantes cobrados pelas passagens aéreas. Para assaltar ainda mais os clientes nos locais onde se vende comidas e bebidas nos aeroportos, diga-se não são restaurantes, os preços são um roubo aliado à falta de higiene.
Mais uma vez o voo das LAM previsto para fazer o trajecto entre Nampula e Maputo, TM 1156, com partida prevista para as 20h25 atrasou-se. "Ah já é normal isso" comentam os funcionários das autoridades no aeroporto internacional da chamada capital do Norte de Moçambique.
Uma denominação que não se adequa a infraestrutura aeroportuária, não devido ao avançado estado de degradação do edifício, mas porque faltam condições básicas. Qual é afinal o trabalho dos gestores públicos, principescamente remunerados, que não conseguem notar que as casas de banhos estão imundas, que a água não sai na torneira e que nem existem tomadas de energia eléctrica para que os passageiros, já aborrecidos com os atrasos, possam pelo menos recarregar os seus “gadgets” que ajudam a minimizar a longa espera?
No local existente no primeiro andar do aeroporto de Nampula, a que se chama restaurante, os cidadãos são assaltados sempre que têm fome ou sede. Ignorando o mau atendimento e a falta de higiene, um mísero pedaço de pão com um pedaço rijo de carne é vendido a 350 meticais! Se o pedaço de pão levar carne moída compactada (hambúrguer) consegue-se um preço melhor 300 meticais! Preços que não são praticados nos melhores restaurantes de Nampula nem de nenhuma outra cidade de um país sério e “normal”.
Este cenário, com ligeiras mudanças de adereços, repete-se um pouco por todas as capitais provinciais onde existem aeroportos, e mesmo na cidade capital. Não admira que com esse mau serviço, e o monopólio das Linhas Aéreas de Moçambique, a empresa estatal aeroportos não pare de dar prejuízos. Embora os justifique com investimentos na verdade as construções dos elefantes brancos em Maputo e Nacala são empréstimos que o povo, de uma ou de outra forma, terá de pagar.
"O único agrado que terá é este sorriso"
"O voo está a partir de Maputo" ouve-se de passagem, à entrada da sala de embarque quando se estava a cerca de uma hora da partida prevista, na conversa de um dos funcionários das LAM.
Mais de uma hora depois do horário previsto para a partida aterra o Embraer 190, para alívio dos menos de uma centena de passageiros, cada um mais cansado do que o outro.
Desta vez a servente de bordo (hospedeira) pede desculpas em nome do comandante, o Sr. José Manuel Fernandes, e promete que a tripulação tudo fará para tornar o voo agradável. "O único agrado que terá é este sorriso" sentencia uma das serventes após informar a mais um passageiro aborrecido que terá de pagar pela cerveja, apesar da companhia ser responsável pelo atraso e de nenhuma forma compensar os passageiros que pagam o exorbitante preço cobrado pelas passagens aéreas.
“As tarifas domésticas em Moçambique (em dólar norte-americano por milha) são 27,4 por cento mais elevadas do que na Tanzânia; 33,5 por cento mais elevadas do que na África do Sul e 46,5 por cento mais elevadas do que na Índia” constata um estudo intitulado “Impacto da Liberalização do Transporte Aéreo no Turismo e na Economia em Geral”, elaborado pela firma norte-americana Nathan.
Além disso, “as tarifas aéreas regionais são mais elevadas em Moçambique do que noutros destinos regionais, devido à conectividade ser limitada e às ofertas serem reguladas. As condições de concorrência garantem, para a maior parte destes mercados, tarifas mais baratas aos viajantes provenientes da África do Sul do que para um voo para Maputo”, indica o relatório que estamos a citar que acrescenta “a tarifa aérea média entre Joanesburgo e Maputo é uma das mais elevadas da região. É duas vezes superior ao preço por milha, em comparação com uma amostra de rotas semelhantes na região”.
“A partir daqui é evidente que a South African Airways e a LAM, longe de estabelecer uma concorrência leal, conseguiram manter os preços tão elevados quanto possível, através de um acordo informal num mercado dominado por viajantes de negócios com muito baixa elasticidade de preço. Esta situação está a impedir o acesso, a preços razoáveis, de viajantes não-comerciais da África do Sul ao mercado do turismo em Moçambique”, refere também o estudo realizado pelo Programa da USAID para o Apoio ao Ambiente de Negócios para a Confederação das Associações Económicas.
O @Verdade contactou o departamento de comunicação das LAM, para saber a causa dos repetidos atrasos mas, tal como os passageiros, não obteve nenhuma resposta.
“Espero nunca mais ter de voar nas LAM e devia ser votada como a pior companhia aérea”
Quem protege os passageiros e fiscaliza as LAM, será o Executivo que nomeia os gestores incompetentes? Ou será o Instituto Nacional de Avião Civil, que mais parece um lar dos reformados da companhia aérea nacional?
Pelo menos a Inspecção Nacional das Actividade Económicas, em vez de perseguir os empreendedores informais, deveria fiscalizar as condições destes locais a que se denomina de aeroportos, pois são um atentados à saúde publica e com toda certeza não têm categoria para os preços que praticam.
A publicação especializada “Airline & Safety Ratings” classifica com três estrelas, em sete possíveis, a companhia aérea de bandeira nacional. Para além das questões de segurança que contam para a pontuação, e que contam também para as LAM continuarem banidas de voar para o espaço aéreo europeu, pesa para a avaliação os preços das passagens, a evidente falta de um serviço de atendimento aos passageiros e a qualidade da alimentação e bebidas servidas. Nota zero também para a falta de entretenimento à bordo.
“Espero nunca mais ter de voar nas LAM e devia ser votada como a pior companhia aérea”, pode-se ler num dos comentários, publicados na “Airline & Safety Ratings”, escrito por um turista que teve de se sujeitar aos serviços da companhia moçambicana para poder chegar a um dos paraísos turísticos do nosso país.
Infelizmente os moçambicanos, e outros cidadãos que têm necessidade de viajar neste enorme país, não têm opção pois embora oficialmente o espaço aéreo em Moçambique esteja liberalizado o Estado mantém uma relação promíscua sendo accionista maioritário das LAM e controlando os Aeroportos de Moçambique e o Instituto de Aviação Civil.

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